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Populistas contra instituições

O Bolsonaro destruidor de instituições parece, ao menos por enquanto, fantoche construído por quem não simpatiza com ele

BOLSONARO: o presidente joga em casa quando trata a política em termos de moralidade  / Adriano Machado/ Reuters (Adriano Machado/Reuters)
BOLSONARO: o presidente joga em casa quando trata a política em termos de moralidade / Adriano Machado/ Reuters (Adriano Machado/Reuters)
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Sérgio Praça

Publicado em 25 de março de 2019 às, 20h20.

Jair Bolsonaro (PSL) como autoritário não me convence. Suas ações até agora não limitam os outros poderes da república. O presidente desvia o assunto quando perguntado sobre Marielle Franco e isto é patético, condenável – mas não é um ataque aos direitos humanos. Não consigo enxergá-lo discursando para tropas, empolgando multidões contra os velhacos do Congresso Nacional. Então o Bolsonaro destruidor de instituições parece, ao menos por enquanto, fantoche construído por quem não simpatiza com ele.

Mas ele é um ótimo populista. Nas palavras de Jan-Werner Müller, autor de “What is Populism? (University of Pennsylvania Press, 2016), “políticos populistas jogam os cidadãos puros, inocentes, trabalhadores, contra uma elite corrupta que só trabalha para si e contra pobres parasitas”. As críticas recorrentes de Bolsonaro a políticos corruptos e beneficiários do Bolsa Família mostram que ele se encaixa bem na definição.

Em sua insistência contra barganhas corruptas e famílias que recebem assistência social, Bolsonaro trata a política em termos de moralidade. É onde ele joga em casa. Nesse discurso, roubar dinheiro público para fins pessoais ou partidários é tão ruim quanto ser ajudado com dinheiro vindo do imposto alheio.

Nada de errado nesse discurso quando se está em campanha política. Qualquer coisa vale. O problema ocorre quando, na presidência, a maior autoridade do país coloca em dúvida a dimensão moral dos ocupantes de outros poderes. Os votos em Rodrigo Maia (DEM) não o tornaram mais ou menos desonesto, mas lhe deram mandato para trabalhar. Os votos de Gilmar Mendes podem, para alguns, estarem cobertos de suspeição. Mas ele também tem mandato para realizá-los com liberdade.

Quando o presidente empolga súditos a suspeitar de outros atores políticos, ele demonstra pouco apreço por instituições. Mas isso não necessariamente resulta em golpe. Ter um presidente com fracos valores democráticos é chato, feio, vergonhoso. Mas, por enquanto, é uma vergonha que Bolsonaro passa sozinho.