Populistas contra instituições
O Bolsonaro destruidor de instituições parece, ao menos por enquanto, fantoche construído por quem não simpatiza com ele
Publicado em 25 de março de 2019 às, 20h20.
Jair Bolsonaro (PSL) como autoritário não me convence. Suas ações até agora não limitam os outros poderes da república. O presidente desvia o assunto quando perguntado sobre Marielle Franco e isto é patético, condenável – mas não é um ataque aos direitos humanos. Não consigo enxergá-lo discursando para tropas, empolgando multidões contra os velhacos do Congresso Nacional. Então o Bolsonaro destruidor de instituições parece, ao menos por enquanto, fantoche construído por quem não simpatiza com ele.
Mas ele é um ótimo populista. Nas palavras de Jan-Werner Müller, autor de “What is Populism? (University of Pennsylvania Press, 2016), “políticos populistas jogam os cidadãos puros, inocentes, trabalhadores, contra uma elite corrupta que só trabalha para si e contra pobres parasitas”. As críticas recorrentes de Bolsonaro a políticos corruptos e beneficiários do Bolsa Família mostram que ele se encaixa bem na definição.
Em sua insistência contra barganhas corruptas e famílias que recebem assistência social, Bolsonaro trata a política em termos de moralidade. É onde ele joga em casa. Nesse discurso, roubar dinheiro público para fins pessoais ou partidários é tão ruim quanto ser ajudado com dinheiro vindo do imposto alheio.
Nada de errado nesse discurso quando se está em campanha política. Qualquer coisa vale. O problema ocorre quando, na presidência, a maior autoridade do país coloca em dúvida a dimensão moral dos ocupantes de outros poderes. Os votos em Rodrigo Maia (DEM) não o tornaram mais ou menos desonesto, mas lhe deram mandato para trabalhar. Os votos de Gilmar Mendes podem, para alguns, estarem cobertos de suspeição. Mas ele também tem mandato para realizá-los com liberdade.
Quando o presidente empolga súditos a suspeitar de outros atores políticos, ele demonstra pouco apreço por instituições. Mas isso não necessariamente resulta em golpe. Ter um presidente com fracos valores democráticos é chato, feio, vergonhoso. Mas, por enquanto, é uma vergonha que Bolsonaro passa sozinho.