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Os três Brasis de Chico Rodrigues

Para além do esconderijo criativo, o que significa o senador?

KS

Karina Souza

Publicado em 16 de outubro de 2020 às 21h51.

Última atualização em 16 de outubro de 2020 às 22h07.

O senador Chico Rodrigues (DEM) foi pego pela Polícia Federal com dinheiro na cueca e em orifício vergonhoso. No indizível carregava R$ 15 mil. O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, poupou-nos do vídeo.

O flagra resume três Brasis.

1) O Brasil de títulos vazios. Formalmente “vice-líder” do governo Bolsonaro no Senado Federal, Rodrigues é muito menos poderoso do que o título faz parecer. O trabalho legislativo no Congresso Nacional está, desde Eduardo Cunha (MDB) em 2015, mais centralizado nas Mesas Diretoras do que nunca. Ou seja: poderosos mesmo são Rodrigo Maia (DEM) e Davi Alcolumbre (DEM). Vice-liderança é, na prática, uma honraria vazia. Coisa para colocar no cartão de visita.

2) O Brasil do nepotismo indireto e cruzado. Rodrigues empregava, em seu gabinete, Léo Índio, primo do vereador Carlos Bolsonaro. O senador foi um dos dez que mais se encontraram com Jair Bolsonaro (sem partido) até agora. Seis reuniões ano passado, cinco este ano. Não se sabe o teor das conversas. É extremamente improvável que o presidente tenha participado dos mesmos esquemas de corrupção de que Rodrigues é acusado. Mas podem ter conversado sobre o trabalho do Índio sobrinho e do ortopedista Vitor Paracat, indicado pelo senador para comandar o Distrito Sanitário Especial Indígena Leste, em Roraima, ligado ao Ministério da Saúde.

3) O Brasil de partidos fracos. A reprimanda do partido de Rodrigues à sua conduta foi menos do que protocolar. Em nota oficial, o DEM afirmou que o caso seria acompanhado pelo “departamento jurídico” do partido. Nos bastidores, pressionam para o senador sair. Eu, se fosse o parlamentar, indignar-me-ia com os mandachuvas do partido. Rodrigues mostrou fidelidade ao DEM e iniciativa para fazer pontes com o governo. Coisa rara. Mas, se ele tiver que renunciar, não haverá tanto problema. Seu filho, suplente, também é filiado ao DEM e assumiria o cargo até 2026.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)

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O senador Chico Rodrigues (DEM) foi pego pela Polícia Federal com dinheiro na cueca e em orifício vergonhoso. No indizível carregava R$ 15 mil. O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, poupou-nos do vídeo.

O flagra resume três Brasis.

1) O Brasil de títulos vazios. Formalmente “vice-líder” do governo Bolsonaro no Senado Federal, Rodrigues é muito menos poderoso do que o título faz parecer. O trabalho legislativo no Congresso Nacional está, desde Eduardo Cunha (MDB) em 2015, mais centralizado nas Mesas Diretoras do que nunca. Ou seja: poderosos mesmo são Rodrigo Maia (DEM) e Davi Alcolumbre (DEM). Vice-liderança é, na prática, uma honraria vazia. Coisa para colocar no cartão de visita.

2) O Brasil do nepotismo indireto e cruzado. Rodrigues empregava, em seu gabinete, Léo Índio, primo do vereador Carlos Bolsonaro. O senador foi um dos dez que mais se encontraram com Jair Bolsonaro (sem partido) até agora. Seis reuniões ano passado, cinco este ano. Não se sabe o teor das conversas. É extremamente improvável que o presidente tenha participado dos mesmos esquemas de corrupção de que Rodrigues é acusado. Mas podem ter conversado sobre o trabalho do Índio sobrinho e do ortopedista Vitor Paracat, indicado pelo senador para comandar o Distrito Sanitário Especial Indígena Leste, em Roraima, ligado ao Ministério da Saúde.

3) O Brasil de partidos fracos. A reprimanda do partido de Rodrigues à sua conduta foi menos do que protocolar. Em nota oficial, o DEM afirmou que o caso seria acompanhado pelo “departamento jurídico” do partido. Nos bastidores, pressionam para o senador sair. Eu, se fosse o parlamentar, indignar-me-ia com os mandachuvas do partido. Rodrigues mostrou fidelidade ao DEM e iniciativa para fazer pontes com o governo. Coisa rara. Mas, se ele tiver que renunciar, não haverá tanto problema. Seu filho, suplente, também é filiado ao DEM e assumiria o cargo até 2026.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)

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