Os motivos de Trump para deslegitimar o processo eleitoral
Ao presidente republicano interessa, mais do que nunca, ser um candidato contra o próprio sistema que permite sua eleição
Gilson Garrett Jr.
Publicado em 29 de outubro de 2020 às 19h47.
Última atualização em 29 de outubro de 2020 às 19h49.
Em 2018, o candidato Jair Bolsonaro (então filiado ao PSL) mostrou-se cético em relação ao resultado das eleições. Mesmo sagrado vencedor, desconfiou das urnas eletrônicas. A princípio, isso não faz sentido algum. Quando Aécio Neves (PSDB) suspeitou de fraude petista em sua derrota para Dilma Rousseff (PT) em 2014, era um (mau) perdedor querendo jogar água na conquista alheia. Mas Bolsonaro queria outra coisa: deslegitimar o mesmo sistema político que o elegeu. Sabendo que parte significativa do eleitorado topava um candidato “anti-sistema”, precisou desconfiar da própria vitória para satisfazer o perverso e contraditório desejo dos eleitores de escolher dentro das regras um político que delas desdenha.
Donald Trump , é claro, foi a inspiração de Bolsonaro. Após vencer a democrata Hillary Clinton no Colégio Eleitoral – com votos agregados por estados, e não de modo individual (“votação popular”) –, Trump afirmou que houve fraude em três milhões de votos norte-americanos. Foi esta a margem de sua derrota para Clinton. Que coincidência!
Àquela altura, em 2016, as razões do republicano para deslegitimar o processo eleitoral eram semelhantes às de Bolsonaro dois anos depois. Ambos se beneficiam da retórica populista anti-sistema. O problema é que agora Trump é presidente candidato à reeleição. Como jogar
Felizmente para ele, a pandemia serve a este propósito. Mais de oitenta milhões de norte-americanos já votaram, de maneira antecipada, nas eleições presidenciais marcadas para a próxima terça-feira, 3 de novembro. As cédulas foram enviadas por correio ou depositadas em caixas públicas, dependendo de cada estado. Tudo para evitar o contato pessoal.
Nos Estados Unidos há imensa dificuldade para contar, fisicamente, os votos. Estados como a Flórida – um dos principais – têm um sistema medieval de contagem. A chance de votos serem perdidos, ignorados, considerados inválidos etc é alta. Não necessariamente por fraude, mas desorganização mesmo.
O caminho de Trump para deslegitimar a eleição – que, ao que tudo indica, tem grande chance de perder – está dado. Resta ver se a Suprema Corte concordará com ele.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)
Em 2018, o candidato Jair Bolsonaro (então filiado ao PSL) mostrou-se cético em relação ao resultado das eleições. Mesmo sagrado vencedor, desconfiou das urnas eletrônicas. A princípio, isso não faz sentido algum. Quando Aécio Neves (PSDB) suspeitou de fraude petista em sua derrota para Dilma Rousseff (PT) em 2014, era um (mau) perdedor querendo jogar água na conquista alheia. Mas Bolsonaro queria outra coisa: deslegitimar o mesmo sistema político que o elegeu. Sabendo que parte significativa do eleitorado topava um candidato “anti-sistema”, precisou desconfiar da própria vitória para satisfazer o perverso e contraditório desejo dos eleitores de escolher dentro das regras um político que delas desdenha.
Donald Trump , é claro, foi a inspiração de Bolsonaro. Após vencer a democrata Hillary Clinton no Colégio Eleitoral – com votos agregados por estados, e não de modo individual (“votação popular”) –, Trump afirmou que houve fraude em três milhões de votos norte-americanos. Foi esta a margem de sua derrota para Clinton. Que coincidência!
Àquela altura, em 2016, as razões do republicano para deslegitimar o processo eleitoral eram semelhantes às de Bolsonaro dois anos depois. Ambos se beneficiam da retórica populista anti-sistema. O problema é que agora Trump é presidente candidato à reeleição. Como jogar
Felizmente para ele, a pandemia serve a este propósito. Mais de oitenta milhões de norte-americanos já votaram, de maneira antecipada, nas eleições presidenciais marcadas para a próxima terça-feira, 3 de novembro. As cédulas foram enviadas por correio ou depositadas em caixas públicas, dependendo de cada estado. Tudo para evitar o contato pessoal.
Nos Estados Unidos há imensa dificuldade para contar, fisicamente, os votos. Estados como a Flórida – um dos principais – têm um sistema medieval de contagem. A chance de votos serem perdidos, ignorados, considerados inválidos etc é alta. Não necessariamente por fraude, mas desorganização mesmo.
O caminho de Trump para deslegitimar a eleição – que, ao que tudo indica, tem grande chance de perder – está dado. Resta ver se a Suprema Corte concordará com ele.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)