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Os laços capitalistas – e corruptos – de Eike Batista

Em mais um desdobramento da interminável Operação Lava-Jato, o empresário Eike Batista teve prisão preventiva decretada nesta quinta-feira pelo juiz Marcelo Bretas, no Rio de Janeiro. Eike está em Nova York. Prometeu se entregar à Polícia Federal assim que terminar o passeio. Mais do que Marcelo Odebrecht, Eike é símbolo da corrupção da era petista […]

EIKE BATISTA: o empresário Eike Batista deverá pagar uma fiança de 52 milhões de reais se quiser permanecer em prisão domiciliar / Fred Prouser / Reuters
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Da Redação

Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 16h14.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h13.

Em mais um desdobramento da interminável Operação Lava-Jato, o empresário Eike Batista teve prisão preventiva decretada nesta quinta-feira pelo juiz Marcelo Bretas, no Rio de Janeiro. Eike está em Nova York. Prometeu se entregar à Polícia Federal assim que terminar o passeio. Mais do que Marcelo Odebrecht, Eike é símbolo da corrupção da era petista (no nível federal) e peemedebista (no estado do Rio de Janeiro). Odebrecht é irritadiço, discreto. Eike usava o twitter como Trump. Aparecia com as mãos cheias de óleo em eventos da OGX, primeira empresa privada a extrair petróleo no Brasil (com a ajuda de ex-diretores da Petrobras). Mesmo falido, continuou com ideias mirabolantes. Seu próximo projeto era uma pasta de dentes inovadora.

Até pouco tempo atrás, podia ser descrito apenas como um dos empresários que se aproveitou do “capitalismo de laços” no Brasil, para citar a feliz definição do economista Sérgio Lazzarini (Insper). Seria apenas um sujeito forçado a fazer doações eleitorais para ter acesso a recursos estatais. Tudo de modo legal, mas com cheiro de oportunismo. Suas doações (registradas) seriam espalhadas por vários partidos em vários estados. Em depoimento espontâneo para o Ministério Público Federal em maio de 2016, Eike afirmou que eram “contribuições políticas para que a democracia flua e continua e vamos lá”. Lembrou também de benfeitorias para o Rio de Janeiro: “Dei 30 milhões de reais para o Hospital da Criança, 80 milhões para as UPPs… Alguns brasileiros muito ricos não dão porra nenhuma, né. Vou até falar mal de um, posso?”. Não, Eike, não pode. Os procuradores não deixaram.

Eike afirmou ao Ministério Público que Guido Mantega (PT), então ministro da Fazenda, pediu contribuição de 5 milhões de reaos para fechar as contas da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) em 2014. O dinheiro foi repassado através de um contrato fictício. Ainda assim, Eike teve a cara-de-pau de se colocar como empresário honesto. Teria recebido serviços de consultoria do publicitário João Santana em troca do repasse. Disse o empresário que Santana tinha “expertise” sobre Angola e Venezuela, pois trabalhou nas campanhas presidenciais desses países. Eike tinha negócios lá, então poderia se beneficiar de informações sobre o clima político e econômico. Aos procuradores, disse que a consultoria valeu metade dos 5 milhões de reais repassados ilegalmente.

O empresário escondeu, naquele depoimento, ter repassado ao menos  16,5 milhões de dólares (cerca de 56 milhões de reais) ilegalmente para o governador, que ocupou o cargo por oito anos. Em troca, tinha acesso a Cabral e seus assessores.

Mas essa quantia é irrisória quando colocada ao lado dos empréstimos feitos pelo BNDES às empresas de Eike desde 2008. Foram 6 bilhões de reais. Difícil imaginar que boas iniciativas empresariais precisem de ajuda governamental para se realizarem. Um ótimo estudo de Lazzarini e co-autores, intitulado “What Do State-Owned Development Banks Do? Evidence from BNDES, 2002–2009”, publicado pela World Development, mostra que o BNDES empresta para empresas que teriam plenas condições de se financiar no mercado privado.

Ao tomar este espaço, o banco deixaria os investimentos mais arriscados para outros. Ainda de acordo com o artigo, conexões políticas são importantes para obter crédito do BNDES. Em outras palavras, conexões políticas eram fundamentais para que o BNDES decidisse alocar recursos orçamentários (obtidos com os impostos que todos nós pagamos) em certos projetos em vez de outros. Eu e você subsidiamos Eike. Agora pagaremos, também, sua estada na prisão. Isso me conforta um pouco.

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Em mais um desdobramento da interminável Operação Lava-Jato, o empresário Eike Batista teve prisão preventiva decretada nesta quinta-feira pelo juiz Marcelo Bretas, no Rio de Janeiro. Eike está em Nova York. Prometeu se entregar à Polícia Federal assim que terminar o passeio. Mais do que Marcelo Odebrecht, Eike é símbolo da corrupção da era petista (no nível federal) e peemedebista (no estado do Rio de Janeiro). Odebrecht é irritadiço, discreto. Eike usava o twitter como Trump. Aparecia com as mãos cheias de óleo em eventos da OGX, primeira empresa privada a extrair petróleo no Brasil (com a ajuda de ex-diretores da Petrobras). Mesmo falido, continuou com ideias mirabolantes. Seu próximo projeto era uma pasta de dentes inovadora.

Até pouco tempo atrás, podia ser descrito apenas como um dos empresários que se aproveitou do “capitalismo de laços” no Brasil, para citar a feliz definição do economista Sérgio Lazzarini (Insper). Seria apenas um sujeito forçado a fazer doações eleitorais para ter acesso a recursos estatais. Tudo de modo legal, mas com cheiro de oportunismo. Suas doações (registradas) seriam espalhadas por vários partidos em vários estados. Em depoimento espontâneo para o Ministério Público Federal em maio de 2016, Eike afirmou que eram “contribuições políticas para que a democracia flua e continua e vamos lá”. Lembrou também de benfeitorias para o Rio de Janeiro: “Dei 30 milhões de reais para o Hospital da Criança, 80 milhões para as UPPs… Alguns brasileiros muito ricos não dão porra nenhuma, né. Vou até falar mal de um, posso?”. Não, Eike, não pode. Os procuradores não deixaram.

Eike afirmou ao Ministério Público que Guido Mantega (PT), então ministro da Fazenda, pediu contribuição de 5 milhões de reaos para fechar as contas da campanha presidencial de Dilma Rousseff (PT) em 2014. O dinheiro foi repassado através de um contrato fictício. Ainda assim, Eike teve a cara-de-pau de se colocar como empresário honesto. Teria recebido serviços de consultoria do publicitário João Santana em troca do repasse. Disse o empresário que Santana tinha “expertise” sobre Angola e Venezuela, pois trabalhou nas campanhas presidenciais desses países. Eike tinha negócios lá, então poderia se beneficiar de informações sobre o clima político e econômico. Aos procuradores, disse que a consultoria valeu metade dos 5 milhões de reais repassados ilegalmente.

O empresário escondeu, naquele depoimento, ter repassado ao menos  16,5 milhões de dólares (cerca de 56 milhões de reais) ilegalmente para o governador, que ocupou o cargo por oito anos. Em troca, tinha acesso a Cabral e seus assessores.

Mas essa quantia é irrisória quando colocada ao lado dos empréstimos feitos pelo BNDES às empresas de Eike desde 2008. Foram 6 bilhões de reais. Difícil imaginar que boas iniciativas empresariais precisem de ajuda governamental para se realizarem. Um ótimo estudo de Lazzarini e co-autores, intitulado “What Do State-Owned Development Banks Do? Evidence from BNDES, 2002–2009”, publicado pela World Development, mostra que o BNDES empresta para empresas que teriam plenas condições de se financiar no mercado privado.

Ao tomar este espaço, o banco deixaria os investimentos mais arriscados para outros. Ainda de acordo com o artigo, conexões políticas são importantes para obter crédito do BNDES. Em outras palavras, conexões políticas eram fundamentais para que o BNDES decidisse alocar recursos orçamentários (obtidos com os impostos que todos nós pagamos) em certos projetos em vez de outros. Eu e você subsidiamos Eike. Agora pagaremos, também, sua estada na prisão. Isso me conforta um pouco.

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