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O que Eduardo Cunha tem a ensinar aos democratas nos EUA

Nancy Pelosi e seu partido terão que jogar sujo para derrotar Trump

NANCY PELOSI: a presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos anunciou na terça-feira 24 que a Casa estava abrindo um processo de impeachment contra Trump / REUTERS/Kevin Lamarque (Kevin Lamarque/Reuters)
NANCY PELOSI: a presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos anunciou na terça-feira 24 que a Casa estava abrindo um processo de impeachment contra Trump / REUTERS/Kevin Lamarque (Kevin Lamarque/Reuters)
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Sérgio Praça

Publicado em 26 de setembro de 2019 às, 19h27.

Última atualização em 27 de setembro de 2019 às, 14h28.

Adoro impeachments. Nos últimos quatro anos, o Brasil iniciou dois processos, um contra o PT, outro contra o (P)MDB. Fiquei mal-acostumado. Por que gosto tanto? Deve ser pelo ambiente de incerteza e a oportunidade que bons estrategistas têm para influenciar o jogo político. Olhando de 2019 para 2015, quando Dilma Rousseff (PT) começou a sofrer com as pedaladas, o impeachment parece óbvio. Também o sucesso de Michel Temer (MDB) em estancar a sangria após o áudio com Joesley Batista, em 2017, era de se esperar. Mas quem cravaria isso na época? Difícil. E agora nossos colegas do hemisfério norte acabam de abrir, contra o presidente Donald Trump (Republicano), mais um processo de impeachment. O que o Partido Democrata pode aprender com a recente experiência brasileira?

Odeie-o o quanto quiser, mas o mestre aqui é Eduardo Cunha (MDB), o ex-presidente da Câmara dos Deputados que está preso há quase três anos. Ao longo de seu breve período comandando os deputados federais, Cunha conseguiu três grandes feitos: elaborou uma agenda legislativa mais ou menos coerente contra a de Dilma; foi um fiador crível do governo Temer junto aos parlamentares, embora não fosse próximo do então vice-presidente e, por fim, mobilizou as regras legislativas e coadjuvantes insuspeitos para realizar o impeachment da presidente.

Cunha não teve dó. Foi ruthless. A presidente da Câmara dos Deputados nos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, irá precisar do mesmo espírito. Trump pediu ajuda ao presidente da Ucrânia para quem um adversário político fosse investigado. É gravíssimo. Mas o sujeito do meio-oeste que perdeu o emprego sob Obama e confia em Trump para reconquistá-lo, levando de brinde um toque de supremacia branca, não quer saber de Ucrânia alguma. E o apoio de pessoas assim será crucial para os democratas convencerem vinte senadores republicanos a “traírem” o presidente.

Biógrafo de Lyndon Johnson, o escritor Robert Caro sempre diz que o poder revela o caráter de quem o exerce. O de Cunha conhecemos. Se Pelosi evitar populismo e jogo sujo, o impeachment pode sair mais caro para o Partido Democrata do que para o Republicano.