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O Facebook é de esquerda ou de direita?

Pressionado por empresários, de um lado, e Donald Trump de outro, Mark Zuckerberg sairá derrotado

Mark Zuckerberg: É estranho pensar no Facebook como um instrumento da esquerda (Stephen Lam/Reuters)
JR

Janaína Ribeiro

Publicado em 9 de julho de 2020 às 19h31.

Em agosto de 2018, o Movimento Brasil Livre publicou, em seu perfil no Facebook, uma foto que mostrava quatro homenagens em ambiente corporativo. Estavam em salas, dizia o texto, da sede do Facebook no Brasil: “Marielle Franco”, “Zumbi dos Palmares”, “Maria da Penha” e “Respeita as Mina”. O MBL e o deputado federal Carlos Jordy (PSL) se incomodaram. Não entendo bem os motivos. Quem poderia ser a favor de escravidão, assassinato político, violência doméstica e desrespeito às mulheres? Provavelmente o mal-estar foi com a suposição de que só funcionários de esquerda pensariam nessas homenagens. E se empregados do Facebook são “comunistas”, esta rede social talvez “conservadores” de modo mais rígido.

Este argumento foi reavivado ontem, quando o Facebook (nos Estados Unidos) tirou do ar o que se chama de “redes coordenadas de comportamento falso”. Uma delas, pró-Bolsonaro, era supostamente coordenada por Tercio Arnaud Tomaz, funcionário do Palácio do Planalto.

É estranho pensar no Facebook como um instrumento da esquerda. Mais fácil – embora também errado – é o contrário. Há poucos dias, o New York Times noticiou um encontro entre Mark Zuckerberg, Donald Trump (Partido Republicano) e Peter Thiel, um dos maiores empreendedores do Vale do Silício. Não se sabe o que foi discutido, mas o presidente e Zuckerberg precisam um do outro. O chefe da rede social deseja que órgãos antitruste do governo norte-americano (responsáveis por investigar companhias tidas como deletérias ao ambiente de competição empresarial) deixem o Facebook em paz. É o que tem acontecido, segundo uma fonte do NYT: Google e Amazon têm que se preocupar bem mais com o governo Trump.

O presidente norte-americano quer liberdade para comprar anúncios políticos à vontade na rede social – algo de legitimidade discutível, mas mais democrático do que pode parecer. Trump quer, também, incitar o ódio e fazer propaganda velada de movimentos de supremacia branca nos Estados Unidos. Assim ele pode pensar que mobilizará eleitores em estados com histórico conservador, como o Texas, que podem acabar tendo maioria democrata por causa da crise econômica.

Até pouco tempo atrás, Zuckerberg conseguiu leniência para manter esse difícil equilíbrio. Agora, com boicotes publicitários da Unilever, entre outros, a estratégia pode custar caro – mais em termos reputacionais do que dinheiro, pois o grosso do faturamento do Facebook é com publicidade de pequenos anunciantes. De qualquer maneira, fica o gosto de viés favorável a Trump.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)

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Em agosto de 2018, o Movimento Brasil Livre publicou, em seu perfil no Facebook, uma foto que mostrava quatro homenagens em ambiente corporativo. Estavam em salas, dizia o texto, da sede do Facebook no Brasil: “Marielle Franco”, “Zumbi dos Palmares”, “Maria da Penha” e “Respeita as Mina”. O MBL e o deputado federal Carlos Jordy (PSL) se incomodaram. Não entendo bem os motivos. Quem poderia ser a favor de escravidão, assassinato político, violência doméstica e desrespeito às mulheres? Provavelmente o mal-estar foi com a suposição de que só funcionários de esquerda pensariam nessas homenagens. E se empregados do Facebook são “comunistas”, esta rede social talvez “conservadores” de modo mais rígido.

Este argumento foi reavivado ontem, quando o Facebook (nos Estados Unidos) tirou do ar o que se chama de “redes coordenadas de comportamento falso”. Uma delas, pró-Bolsonaro, era supostamente coordenada por Tercio Arnaud Tomaz, funcionário do Palácio do Planalto.

É estranho pensar no Facebook como um instrumento da esquerda. Mais fácil – embora também errado – é o contrário. Há poucos dias, o New York Times noticiou um encontro entre Mark Zuckerberg, Donald Trump (Partido Republicano) e Peter Thiel, um dos maiores empreendedores do Vale do Silício. Não se sabe o que foi discutido, mas o presidente e Zuckerberg precisam um do outro. O chefe da rede social deseja que órgãos antitruste do governo norte-americano (responsáveis por investigar companhias tidas como deletérias ao ambiente de competição empresarial) deixem o Facebook em paz. É o que tem acontecido, segundo uma fonte do NYT: Google e Amazon têm que se preocupar bem mais com o governo Trump.

O presidente norte-americano quer liberdade para comprar anúncios políticos à vontade na rede social – algo de legitimidade discutível, mas mais democrático do que pode parecer. Trump quer, também, incitar o ódio e fazer propaganda velada de movimentos de supremacia branca nos Estados Unidos. Assim ele pode pensar que mobilizará eleitores em estados com histórico conservador, como o Texas, que podem acabar tendo maioria democrata por causa da crise econômica.

Até pouco tempo atrás, Zuckerberg conseguiu leniência para manter esse difícil equilíbrio. Agora, com boicotes publicitários da Unilever, entre outros, a estratégia pode custar caro – mais em termos reputacionais do que dinheiro, pois o grosso do faturamento do Facebook é com publicidade de pequenos anunciantes. De qualquer maneira, fica o gosto de viés favorável a Trump.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)

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