O comunismo “democrático” da China
A competição intrapartidária pode funcionar, às vezes, como substituto imperfeito de eleições livres
Da Redação
Publicado em 1 de outubro de 2019 às 21h32.
“Há muitos movimentos democráticos na China, isso rende muito assunto e será algo legal de ver. Pode ser também apenas uma frase irônica. Não sei, gosto de como soa”, disse Axl Rose sobre o título do álbum lançado por sua banda em 2008: Chinese Democracy. A democracia não veio nos nove anos que separam a frase de Axl do lançamento do disco. Ao contrário: o presidente Xi Jinping, que assumiu em 2012 o controle do Partido Comunista, tem se esforçado para dar um toque de personalismo ao regime autoritário. Jinping quer, de certo modo, ser um novo Mao Tsé-Tung – sem o genocídio através da fome.
Mao chegou à liderança do Partido Comunista nos anos quarenta do século passado. Foi um habilíssimo articulador não só dentro do partido, mas também com a União Soviética ainda comandada por Josef Stalin. Convenceu-o de que conseguiria tomar o poder na China e foi ajudado. Ditador excêntrico, banhava-se de chá preto com concubinas, de acordo com o fascinante relato de seu médico (exilado nos Estados Unidos) em “The Private Life of Chairman Mao”. As dezenas de milhões que Mao matou, indiretamente, foram o preço do culto à personalidade que o partido permitiu. Sob este “grande líder”, o país cresceu 1,7% ao ano – sem ele, até 2000, 5,9%. (Benjamin Jones e Benjamin Olken mostraram que há relação causal entre a qualidade do líder político e o crescimento econômico, não apenas correlação. O artigo “Do leaders matter? National leadership and growth since World War II”, foi publicado em 2005 no Quarterly Journal of Economics.)
Nos últimos vinte anos, o ritmo de crescimento chinês foi ainda maior. A democracia não é condição necessária para o crescimento, mas ajuda. Espertos, os líderes comunistas incorporaram elementos democráticos à peculiar ditadura partidária – e, repito, cada vez mais personalista. O principal é dar autonomia para cidadãos escolherem entre dois “candidatos” a prefeito, ambos filiados ao Partido Comunista. Pode ser um Bernie Sanders e uma Hillary Clinton. Se uma região escolhe sistematicamente prefeitos mais à direita, pode ser sinal de que o partido precisa dar uma guinada ideológica antes de ser surpreendido por protestos. O custo de calá-los quando começam é alto. A julgar pelos acontecimentos em Hong Kong nas últimas semanas, esse será um grande desafio para o Partido Comunista no século 21.
“Há muitos movimentos democráticos na China, isso rende muito assunto e será algo legal de ver. Pode ser também apenas uma frase irônica. Não sei, gosto de como soa”, disse Axl Rose sobre o título do álbum lançado por sua banda em 2008: Chinese Democracy. A democracia não veio nos nove anos que separam a frase de Axl do lançamento do disco. Ao contrário: o presidente Xi Jinping, que assumiu em 2012 o controle do Partido Comunista, tem se esforçado para dar um toque de personalismo ao regime autoritário. Jinping quer, de certo modo, ser um novo Mao Tsé-Tung – sem o genocídio através da fome.
Mao chegou à liderança do Partido Comunista nos anos quarenta do século passado. Foi um habilíssimo articulador não só dentro do partido, mas também com a União Soviética ainda comandada por Josef Stalin. Convenceu-o de que conseguiria tomar o poder na China e foi ajudado. Ditador excêntrico, banhava-se de chá preto com concubinas, de acordo com o fascinante relato de seu médico (exilado nos Estados Unidos) em “The Private Life of Chairman Mao”. As dezenas de milhões que Mao matou, indiretamente, foram o preço do culto à personalidade que o partido permitiu. Sob este “grande líder”, o país cresceu 1,7% ao ano – sem ele, até 2000, 5,9%. (Benjamin Jones e Benjamin Olken mostraram que há relação causal entre a qualidade do líder político e o crescimento econômico, não apenas correlação. O artigo “Do leaders matter? National leadership and growth since World War II”, foi publicado em 2005 no Quarterly Journal of Economics.)
Nos últimos vinte anos, o ritmo de crescimento chinês foi ainda maior. A democracia não é condição necessária para o crescimento, mas ajuda. Espertos, os líderes comunistas incorporaram elementos democráticos à peculiar ditadura partidária – e, repito, cada vez mais personalista. O principal é dar autonomia para cidadãos escolherem entre dois “candidatos” a prefeito, ambos filiados ao Partido Comunista. Pode ser um Bernie Sanders e uma Hillary Clinton. Se uma região escolhe sistematicamente prefeitos mais à direita, pode ser sinal de que o partido precisa dar uma guinada ideológica antes de ser surpreendido por protestos. O custo de calá-los quando começam é alto. A julgar pelos acontecimentos em Hong Kong nas últimas semanas, esse será um grande desafio para o Partido Comunista no século 21.