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Ninguém mexe com a Polícia Federal

Movimentação política na Polícia Federal pode levar Segóvia ao partido do presidente?

SEGOVIA:  diretor-geral da PF prestou esclarecimentos sobre entrevista polêmica / Ueslei Marcelino | Reuters
SEGOVIA: diretor-geral da PF prestou esclarecimentos sobre entrevista polêmica / Ueslei Marcelino | Reuters
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Sérgio Praça

Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às, 10h07.

Há mais de dez anos ouço falar que o Porto de Santos é “domínio” de Michel Temer (MDB), o atual presidente da República. A partir de seu histórico e de suas conversas com empresários do quilate de Joesley Batista, suponho que o interesse do ex-deputado em controlar uma parte da burocracia federal não seja condizente com o interesse público. Mas posso apenas supor. O delegado Cleyber Malta Lopes pode fazer mais do que isso. Enviou uma lista de 50 perguntas ao presidente sobre o Decreto 9.048, editado em maio de 2017. A investigação visa esclarecer se a empresa Rodrimar foi beneficiada com a mudança na legislação a partir de influência do presidente ou seus assessores.

As respostas de Michel Temer foram vagas e irritadas. Bem, o delegado cumpriu seu papel com tranquilidade até seu superior hierárquico, o diretor da Polícia Federal, Fernando Segóvia, dar uma entrevista à Reuters em 9 de fevereiro. Sobre as perguntas do delegado ao presidente, Segóvia disse o seguinte: “Tudo tem um limite, lógico, até do razoável. (…) O presidente só externo da maneira (sic) que foram feitas as perguntas. . Mas não houve nenhum tipo de formalização sobre a verificação da conduta do delegado. A gente poderia, ou pode, em tese, a gente verifica toda a conduta do policial federal porque ele tem um código de conduta (…). Eu prefiro me abster nesse momento de qualquer tipo de julgamento porque se houver a intenção da Presidência da República em questionar a conduta do delegado, isso vai passar por um processo interno administrativo [em] que vai ser verificado se a conduta dele condiz realmente com o trabalho que deve ser feito por um delegado. E ele pode ser repreendido, pode até ser suspenso dependendo da conduta que ele tomou em relação ao presidente”.

A longa citação é estarrecedora. Há muito tempo não se via uma movimentação política tão clara na Polícia Federal a ponto de o diretor da instituição ameaçar, de modo pouco discreto, a autonomia de um delegado. A resposta dos profissionais da PF foi imediata: repudiaram a interferência de Segóvia em qualquer investigação. Por enquanto, o diretor recuou e, ao ser perguntando sobre o assunto em uma coletiva, Michel Temer vestiu um sorriso amarelo e quase saiu correndo.

É uma volta aos velhos tempos da Polícia Federal sob comando tucano. Em 1999, quando Renan Calheiros (MDB) era ministro da Justiça, o diretor da Polícia Federal era Vicente Chelotti. Tinha o nada carinhoso apelido de “grampeador” e gabou-se de estar “colado à cadeira” de diretor da PF por ter o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) “nas mãos”. Após essa revelação, Chelotti saiu do cargo. Iniciou-se então um processo de escolha para substitui-lo que envolveu vários partidos da coalizão tucana. O escolhido foi Agílio Monteiro Filho. Tudo que precisamos saber sobre ele é que em 2002 candidatou-se à Câmara dos Deputados pelo PSDB e não foi eleito.

Será que Fernando Segóvia se tornará um emedebista em breve?