Meus momentos políticos de 2018
O petismo light não existe mais. Nem conservadorismo light. Nem centro light. Light, agora, é só o nome da empresa de energia elétrica canadense
Publicado em 30 de dezembro de 2018 às, 14h14.
Última atualização em 30 de dezembro de 2018 às, 14h21.
Eu estava gripado em uma farmácia na zona sul de São Paulo. Era início da tarde. A mensagem do aluno lia: “ESFAQUEARAM O BOLSO”. Uma hora antes, ele havia me mandado uma foto do meu livro “Guerra À Corrupção: Lições da Lava Jato” com 50% de desconto na Saraiva. Não entendi se foi alerta ou galhofa. Na dúvida, ignorei também a mensagem sobre Bolsonaro. Outra aluna enviou em seguida a manchete: “Bolsonaro leva facada em campanha, diz O Globo”. Liguei imediatamente para ela e, em seguida, para meus editores de Exame e Veja. À noite, fui para a Record News. Tudo que eu sabia sobre o caso: nada além do banalíssimo.
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Domingo à noite, voltando do Rio de Janeiro para São Paulo, soube do incêndio no Museu Nacional. A primeira coisa que veio à cabeça foi que meu chefe na FGV, Celso Castro, fez lá seu doutorado em Antropologia. Estudou militares. O incêndio devastou quase todo o acervo do museu e dezenas de pesquisas de pós-graduação. Responsável pela manutenção do museu, a Universidade Federal do Rio de Janeiro havia falhado feio e agora culpava a falta de dinheiro repassado pelo governo de Michel Temer (MDB). Pois o reitor da universidade, filiado ao PSOL, contratou para vagas estratégicas no gerenciamento do museu ao menos uma pessoa por motivo de afinidade ideológica e não competência. Escrevi isso e perdi pelo menos duas fontes. Colegas da universidade me criticaram – uma com elegância, outra com um áudio veemente, me acusando de escrever como se eu fosse um deus. Respondi que nós, jornalistas, somos deuses. E para ela largar o carguinho de confiança na universidade (não a UFRJ) antes de me criticar.
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Nos últimos dias do ano, vejo que PT e PSOL não participarão da cerimonia de posse de Bolsonaro. O PT diz que faz parte da resistência. Sorrio ao lembrar do cientista político conservador, muito experiente, que há um tempo tirou de seu Facebook o status de “tolerante com petismo light”. Esse tipo de petismo não existe mais. Nem conservadorismo light. Nem centro light. Light, agora, é só o nome da empresa de energia elétrica canadense que ainda não descobriu – ou não quer descobrir – como levar energia legal a locais dominados por milicianos e traficantes no Rio de Janeiro. Mas isso é só uma digressão. Não sei o que o professor que tolerava o petismo light pensa de Bolsonaro. Meus colegas estão alarmados, céticos e/ou desesperados. Estou tranquilo. Visto o confortável luxo do murismo analítico. Vocês, cidadãos, que se resolvam e votem, esse ato tão cheio de esperança. Estou acima disso e apenas analiso vocês, meus legos.
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“Lego” vem do dinamarquês “leg godt”, conforme li no livro “Overwhelmed: work, love and play when no one has the time”, de Brigid Schulte (Sarah Crichton Books, 2014). Significa “jogue (ou brinque) bem”. Isso o PT e Bolsonaro não sabem. Nosso presidente conservador conseguiu a façanha de duvidar da lisura das urnas mesmo ganhando a eleição. E o PT se considera liderado por um preso condenado em segunda instância. Pois saibam brincar melhor. Sejam lúdicos, não luditas.