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Manifesto-me contra manifestos

Ingênuo, o abaixo-assinado que tenta unir o país exclui os conservadores pró-democracia

Protesto em São Paulo: as pessoas que foram às ruas em 1984 e 1985 poderiam ter sofrido violência policial. Em 2020, quem faz isso são os trinta e poucos liderados por Sara Winter e as torcidas organizadas (Rahel Patrasso/Reuters)
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Publicado em 31 de maio de 2020 às 19h58.

Os jornais de hoje publicaram o manifesto de um novo movimento intitulado “Estamos Juntos”. Talvez seja apenas um abaixo-assinado, não um movimento organizado; os signatários afirmam defender “a vida, a liberdade e a democracia”. Querem que “velhas disputas” sejam deixadas de lado, “como aconteceu no Movimento Diretas Já ”, “em busca do bem comum”.

Definem isso como “a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias, o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade na economia”. Também defendem “uma administração pública (...) audaz no combate à corrupção e à desigualdade ”, afirmando querer unir esquerda, centro e direita.

Poucas vezes vi algo tão politicamente ingênuo e confuso. Vamos começar pelo fim: o combate à desigualdade. Como isso poderia unir esquerda e direita se uma das definições mais influentes desses termos – a de Norberto Bobbio – afirma que a busca pela igualdade através da ação estatal é característica da esquerda? A direita acredita que a desigualdade social resulta de desigualdades naturais e defende que tentar diminui-la resulta em ação autoritária ou é algo utópico.

Veja também: Ansiedade social e divisões cresceram com pandemia no Brasil e nos EUA

Mesmo no Brasil, um país extremamente desigual e pobre, é legítimo defender que a desigualdade não seja objeto de preocupação do Estado. Assim é ser “de direita”. Ao colocar isso como parte do “bem comum”, o manifesto irrita aqueles que parecem querer convencer: os conservadores pró-democracia.

É espantosa também a autoestima dos organizadores do manifesto – entre eles Antonio Prata e Carolina Kotscho – ao citar o movimento pelas Diretas Já que, mesmo formalmente fracassado, ajudou a derrubar o regime militar em 1985. Quem assina o manifesto de hoje do conforto de sua casa não arrisca nada. As pessoas que foram às ruas em 1984 e 1985 poderiam ter sido perseguidas politicamente e sofrido violência policial. No mínimo, dedicaram tempo ao protesto e tiveram que comprar lanche na rua.

Em 2020, quem faz isso são os trinta e poucos liderados por Sara Winter e as torcidas organizadas na Avenida Paulista. Não os yuppies.

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Os jornais de hoje publicaram o manifesto de um novo movimento intitulado “Estamos Juntos”. Talvez seja apenas um abaixo-assinado, não um movimento organizado; os signatários afirmam defender “a vida, a liberdade e a democracia”. Querem que “velhas disputas” sejam deixadas de lado, “como aconteceu no Movimento Diretas Já ”, “em busca do bem comum”.

Definem isso como “a lei, a ordem, a política, a ética, as famílias, o voto, a ciência, a verdade, o respeito e a valorização da diversidade, a liberdade de imprensa, a importância da arte, a preservação do meio ambiente e a responsabilidade na economia”. Também defendem “uma administração pública (...) audaz no combate à corrupção e à desigualdade ”, afirmando querer unir esquerda, centro e direita.

Poucas vezes vi algo tão politicamente ingênuo e confuso. Vamos começar pelo fim: o combate à desigualdade. Como isso poderia unir esquerda e direita se uma das definições mais influentes desses termos – a de Norberto Bobbio – afirma que a busca pela igualdade através da ação estatal é característica da esquerda? A direita acredita que a desigualdade social resulta de desigualdades naturais e defende que tentar diminui-la resulta em ação autoritária ou é algo utópico.

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Mesmo no Brasil, um país extremamente desigual e pobre, é legítimo defender que a desigualdade não seja objeto de preocupação do Estado. Assim é ser “de direita”. Ao colocar isso como parte do “bem comum”, o manifesto irrita aqueles que parecem querer convencer: os conservadores pró-democracia.

É espantosa também a autoestima dos organizadores do manifesto – entre eles Antonio Prata e Carolina Kotscho – ao citar o movimento pelas Diretas Já que, mesmo formalmente fracassado, ajudou a derrubar o regime militar em 1985. Quem assina o manifesto de hoje do conforto de sua casa não arrisca nada. As pessoas que foram às ruas em 1984 e 1985 poderiam ter sido perseguidas politicamente e sofrido violência policial. No mínimo, dedicaram tempo ao protesto e tiveram que comprar lanche na rua.

Em 2020, quem faz isso são os trinta e poucos liderados por Sara Winter e as torcidas organizadas na Avenida Paulista. Não os yuppies.

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