Mandetta, um ministro nota cinco
A falta de informações confiáveis sobre o coronavírus é, em grande medida, culpa do Ministério da Saúde
Publicado em 15 de abril de 2020 às, 17h40.
Última atualização em 16 de abril de 2020 às, 17h39.
A necessidade de ter líderes em tempos de crise é biológica. Em tempos de escassez, segundo o cientista político Ronald Inglehart, as pessoas podem sucumbir a um “reflexo autoritário”. Por enquanto não há esse risco no Brasil.
Mas, já que o presidente não está de acordo com o que a maioria da população pensa sobre o coronavírus, é natural que o ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM) ganhe importância. Destoa do resto do ministério. Aproveitou as entrevistas coletivas sobre a pandemia para mostrar serenidade. Comprometeu-se com a narrativa científica, em contraste com a narrativa ora conspiratória, ora otimista de pessoas ligadas ao governo como o deputado federal Osmar Terra (MDB).
Em reunião virtual do Congresso Nacional, Terra disse que “a pandemia está em regressão no Brasil inteiro”. Mandetta discorda. Em entrevista ao Fantástico domingo passado, afirmou que maio e junho serão os meses mais difíceis. Logo saberemos quem está certo.
Com toda a disputa pela verdade sobre a pandemia, é fácil ignorar as medidas concretas do Ministério da Saúde. Uma pesquisa das portarias editadas pelo ministro mostra que sua competência é menor do que sua popularidade.
Em 11 de março, Mandetta publicou a Portaria 356, definindo os contornos básicos de isolamento social. Sem dúvida é uma norma relevante. No entanto, é consenso entre especialistas que, além do isolamento (e até para saber como e quando fazê-lo), crucial mesmo é ter informações bem organizadas sobre a extensão do vírus na sociedade.
O ministro demorou quase um mês após a primeira portaria para editar outra, a 758 , em 9 de abril, que “define o procedimento para o registro obrigatório de internações hospitalares dos casos suspeitos e confirmados de COVID-19, nos estabelecimentos de saúde públicos e privados que prestam serviços no SUS”.
Espere aí: até seis dias atrás esse registro não era obrigatório? E dependia de uma norma do Ministério da Saúde?
Sem informações atualizadas diariamente pelos hospitais, a subnotificação de casos provoca relaxamento. Pouco adianta o ministro avisar a população que o pior está por vir se não sabemos o número de casos dentro dos hospitais. E, em grande parte, essa falta de conhecimento é resultado da incompetência de Mandetta e sua equipe.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)