Mandetta fica, mas Bolsonaro tem que decidir entre Olavo e as instituições
Bolsonaro terá que escolher, cedo ou tarde, entre um grupo ideológico leal a qualquer custo e o resto dos cidadãos
Da Redação
Publicado em 6 de abril de 2020 às 19h07.
Última atualização em 6 de abril de 2020 às 20h34.
Virou piada, há tempos, a ideia de que “as instituições brasileiras estão funcionando”. Injustiça. Congresso, Supremo e a presidência da República estão legalmente constituídos e com independência formal. A Constituição está de pé. As instituições não estão em “frangalhos”, para lembrar um famoso editorial d’O Estado de S. Paulo logo após o AI-5. Mas, na feliz formulação de Cláudio Couto há algumas semanas, raras vezes o sistema político brasileiro passou por um “teste de estresse” tão intenso.
Isso se evidencia, especialmente, em disputas políticas cujos contornos formais são imprecisos. Como se sabe, o presidente brasileiro pode nomear quem quiser para seu ministério. Em termos técnicos, uma nomeação ministerial é regida por um contrato incompleto (e tanto!). Ao ministro cabe equilibrar competência técnica (sua e/ou de sua equipe) com responsividade política – tanto aos eleitores do presidente quanto aos congressistas e suas siglas partidárias. Mas isso não consta de documento formal.
Há imprevistos em qualquer política pública. E o ministro reage a eles.
Em tempos normais, o desempenho do ministro é avaliado informalmente pelos partidos políticos (inclusive o seu próprio, quando há); pelo presidente; pela imprensa e, em raros casos, pelo público em geral. No governo Bolsonaro, organizações partidárias não cumprem esse papel. Quem avalia se um ministro está indo bem ou mal são os jornalistas e o presidente.
Com a crise do coronavirus, o elemento novo é que os cidadãos não só estão prestando atenção ao Ministério da Saúde como avaliando muito bem o ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM). Para seu azar, Mandetta é pró-ciência, ao contrário de Olavo de Carvalho, o comandante do grupo ideológico que circunda Bolsonaro. O presidente superestima a importância das redes sociais como termômetro da conjuntura política. O olavismo só existe, de fato, no Twitter. Seu apelo fora da internet é minoritário.
Nesta segunda-feira, 6 de Abril, os responsáveis pela conta de Bolsonaro no Instagram se depararam com mensagens favoráveis a Mandetta, ameaçadíssimo de demissão. Pouco depois das 20h, em uma coletiva, Mandetta diz que fica. Um exemplo típico (sem edição): “Arrependimento do meu voto em você presidente, demitir o melhor ministro da saúde que tivemos”. (Vale dizer que a autora do comentário se precipitou e está acompanhada de outros comentaristas que atacam Mandetta.)
Aos poucos, Bolsonaro começa a mostrar fraqueza até na internet. Que não é “instituição”, mas está funcionando.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)
Virou piada, há tempos, a ideia de que “as instituições brasileiras estão funcionando”. Injustiça. Congresso, Supremo e a presidência da República estão legalmente constituídos e com independência formal. A Constituição está de pé. As instituições não estão em “frangalhos”, para lembrar um famoso editorial d’O Estado de S. Paulo logo após o AI-5. Mas, na feliz formulação de Cláudio Couto há algumas semanas, raras vezes o sistema político brasileiro passou por um “teste de estresse” tão intenso.
Isso se evidencia, especialmente, em disputas políticas cujos contornos formais são imprecisos. Como se sabe, o presidente brasileiro pode nomear quem quiser para seu ministério. Em termos técnicos, uma nomeação ministerial é regida por um contrato incompleto (e tanto!). Ao ministro cabe equilibrar competência técnica (sua e/ou de sua equipe) com responsividade política – tanto aos eleitores do presidente quanto aos congressistas e suas siglas partidárias. Mas isso não consta de documento formal.
Há imprevistos em qualquer política pública. E o ministro reage a eles.
Em tempos normais, o desempenho do ministro é avaliado informalmente pelos partidos políticos (inclusive o seu próprio, quando há); pelo presidente; pela imprensa e, em raros casos, pelo público em geral. No governo Bolsonaro, organizações partidárias não cumprem esse papel. Quem avalia se um ministro está indo bem ou mal são os jornalistas e o presidente.
Com a crise do coronavirus, o elemento novo é que os cidadãos não só estão prestando atenção ao Ministério da Saúde como avaliando muito bem o ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM). Para seu azar, Mandetta é pró-ciência, ao contrário de Olavo de Carvalho, o comandante do grupo ideológico que circunda Bolsonaro. O presidente superestima a importância das redes sociais como termômetro da conjuntura política. O olavismo só existe, de fato, no Twitter. Seu apelo fora da internet é minoritário.
Nesta segunda-feira, 6 de Abril, os responsáveis pela conta de Bolsonaro no Instagram se depararam com mensagens favoráveis a Mandetta, ameaçadíssimo de demissão. Pouco depois das 20h, em uma coletiva, Mandetta diz que fica. Um exemplo típico (sem edição): “Arrependimento do meu voto em você presidente, demitir o melhor ministro da saúde que tivemos”. (Vale dizer que a autora do comentário se precipitou e está acompanhada de outros comentaristas que atacam Mandetta.)
Aos poucos, Bolsonaro começa a mostrar fraqueza até na internet. Que não é “instituição”, mas está funcionando.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)