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Lula e o voto útil em 2018

A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder máximo do PT, pelo juiz Sergio Moro é um dos momentos mais importantes da história política do Brasil. Temos, agora, um presidente em exercício investigado por crime de corrupção e um ex-presidente condenado a nove anos e meio de cadeia por atos corruptos. Lula só […]

LULA: o ex-presidente acabou de piorar para quem não o tem como primeira preferência / Victor Moriyama / Stringer / Getty Images
LULA: o ex-presidente acabou de piorar para quem não o tem como primeira preferência / Victor Moriyama / Stringer / Getty Images
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Sérgio Praça

Publicado em 12 de julho de 2017 às, 20h07.

A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder máximo do PT, pelo juiz Sergio Moro é um dos momentos mais importantes da história política do Brasil. Temos, agora, um presidente em exercício investigado por crime de corrupção e um ex-presidente condenado a nove anos e meio de cadeia por atos corruptos. Lula só irá para a cadeia quando o Judiciário de segunda instância (neste caso, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região) avaliar a decisão de Sergio Moro. Disso dependerá se o petista poderá se candidatar à presidência no ano que vem. Caso seja condenado em segunda instância até agosto de 2018, sua ficha estará suja e não poderá concorrer – mas poderá recorrer da decisão e causar um imbróglio jurídico digno do Brasil dos últimos anos.

De qualquer modo, caso Lula seja candidato, a decisão de hoje terá forte repercussão na disputa presidencial. Nenhum dos possíveis candidatos – Marina Silva, Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, João Doria – é especialmente beneficiado pela decisão de Moro. Mas Lula deverá estacionar nos 30% de intenção de voto que tem hoje. A principal consequência de sua condenação é que caso vá ao segundo turno, o voto útil no candidato petista tende a ser menor do que tendia ontem. Por quê?

Eleições majoritárias com segundo turno não são sobre escolher o melhor candidato, mas o menos pior. “Ah, isso é horrível, antidemocrático, péssimo para o debate!” Pode até ser, mas é assim que as coisas são, e não apenas no Brasil. O laço entre eleitores e seus candidatos à presidência podem ser bastante fracos. Preferências não precisam ser intensas. Quando elas são, tendemos a superestimar sua importância (vide Bolsonaro). No primeiro turno de uma eleição disputadíssima como a de 2018, a tendência é votarmos no(a) candidato(a) que mais se aproxima de nossas preferências. Posso, por exemplo, gostar muito da Marina Silva, fazer campanha para ela e escolhê-la como candidata.

Mas é possível que Marina não chegue ao segundo turno e eu tenha que escolher, por exemplo, entre Lula e Bolsonaro. Deixaremos de lado a possibilidade de anular o voto ou não comparecer às urnas. Se gosto de Marina, tendo a não gostar nada de Bolsonaro e provavelmente preferir Lula. Mas será que eu votaria em um candidato condenado a quase dez anos de cadeia por corrupção? Como que eu justificaria isso não só para meus amigos e família, mas para mim mesmo?

Uma opção, claro, é que eu não acredite na justeza do juiz Sergio Moro e pense que foi tudo uma armação para impossibilitar a vitória de Lula. Mas é claro que se eu acho isso eu provavelmente já terei votado em Lula no primeiro turno de qualquer jeito. O ponto é: no segundo turno escolhemos o candidato menos pior, e Lula acabou de piorar para quem não o tem como primeira preferência.

Um dos possíveis candidatos tucanos, o prefeito paulistano João Doria, tenta capitalizar a decisão de Moro, provocando Lula em entrevistas e pelas redes sociais. É uma estratégia arriscada. Se por um lado ele ganha apoio dos que rejeitam o ex-presidente, por outro ele fecha um pouco a porta para quem gosta um pouco de Lula, mas não necessariamente o escolheria no segundo turno. E não é preciso ser nenhum Maquiavel para entender que político pode fazer tudo, menos esnobar votos.