Irã já “ganhou” uma guerra contra os EUA, no Afeganistão
Ao fazer jogo duplo com os afegãos, o Irã ajudou a construir o fracasso norte-americano
Da Redação
Publicado em 7 de janeiro de 2020 às 06h53.
As próximas semanas serão dedicadas às relações entre Estados Unidos e Irã. O assassinato do general Qassem Soleimani já teve consequências. O Irã abandonou o acordo segundo o qual não trabalharia para conseguir ter armamento nuclear. Em resposta, o presidente norte-americano, Donald Trump (Partido Republicano), tuitou nesta segunda-feira: “IRAN WILL NEVER HAVE A NUCLEAR WEAPON” (O Irã nunca terá arma nuclear).
Palavras importam em relações internacionais, mas o berro de Trump não terá efeito. Não dissuadirá nenhum manda-chuva iraniano. E quem quer arma nuclear no Irã não precisa do estímulo às avessas do presidente norte-americano. A frase rasa do republicano só demonstra sua inabilidade.
Sem alarde, os iranianos já ajudaram a atrapalhar os interesses americanos na Ásia para muito além da ameaça nuclear. Fizeram isso ao realizar jogo duplo na guerra do Afeganistão – uma das iniciadas após o 11 de setembro de 2001, lembram-se? Por um lado, o Irã apoia uma minoria afegã contra os talibãs que enfrentam os Estados Unidos. Há esse inimigo em comum. Por outro, interessa aos iranianos – e especialmente ao falecido general Soleimani – que os norte-americanos gastem recursos, tempo, dinheiro, esforço, reputação, para vencer a guerra e estruturar um (impossível) estado estável para os afegãos. Então o Irã optou por financiar e armar, debaixo dos panos, os inimigos dos EUA no Afeganistão.
A estratégia foi ótima. Os recém-divulgados “Afghanistan Papers”, obtidos pelo Washington Post, mostra que os Estados Unidos enfrentam os mesmos problemas que tinham no Vietnã nos anos sessenta e setenta. Não há um objetivo claro sobre o que pretendem com a guerra; falta planejamento; há leniência com aliados corruptos etc. O fracasso é evidente, mas sair do Afeganistão sem deixar nada de bom (e estável) no lugar é péssimo para os militares norte-americanos – que são, no fim das contas, os responsáveis por muito do que está dando de errado na política externa do país.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)
As próximas semanas serão dedicadas às relações entre Estados Unidos e Irã. O assassinato do general Qassem Soleimani já teve consequências. O Irã abandonou o acordo segundo o qual não trabalharia para conseguir ter armamento nuclear. Em resposta, o presidente norte-americano, Donald Trump (Partido Republicano), tuitou nesta segunda-feira: “IRAN WILL NEVER HAVE A NUCLEAR WEAPON” (O Irã nunca terá arma nuclear).
Palavras importam em relações internacionais, mas o berro de Trump não terá efeito. Não dissuadirá nenhum manda-chuva iraniano. E quem quer arma nuclear no Irã não precisa do estímulo às avessas do presidente norte-americano. A frase rasa do republicano só demonstra sua inabilidade.
Sem alarde, os iranianos já ajudaram a atrapalhar os interesses americanos na Ásia para muito além da ameaça nuclear. Fizeram isso ao realizar jogo duplo na guerra do Afeganistão – uma das iniciadas após o 11 de setembro de 2001, lembram-se? Por um lado, o Irã apoia uma minoria afegã contra os talibãs que enfrentam os Estados Unidos. Há esse inimigo em comum. Por outro, interessa aos iranianos – e especialmente ao falecido general Soleimani – que os norte-americanos gastem recursos, tempo, dinheiro, esforço, reputação, para vencer a guerra e estruturar um (impossível) estado estável para os afegãos. Então o Irã optou por financiar e armar, debaixo dos panos, os inimigos dos EUA no Afeganistão.
A estratégia foi ótima. Os recém-divulgados “Afghanistan Papers”, obtidos pelo Washington Post, mostra que os Estados Unidos enfrentam os mesmos problemas que tinham no Vietnã nos anos sessenta e setenta. Não há um objetivo claro sobre o que pretendem com a guerra; falta planejamento; há leniência com aliados corruptos etc. O fracasso é evidente, mas sair do Afeganistão sem deixar nada de bom (e estável) no lugar é péssimo para os militares norte-americanos – que são, no fim das contas, os responsáveis por muito do que está dando de errado na política externa do país.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)