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Hoje é o pior dia da história dos Estados Unidos

Parecia inacreditável, mas Donald Trump está tentando dar um golpe com a ajuda de manifestantes armados

No início da tarde, Trump fez um discurso incitando seus apoiadores a não aceitarem o resultado das eleições e “marchar” em frente ao Congresso. Ele é, evidentemente, o maior culpado e o político mais beneficiado por essa violenta tentativa de golpe (Bloomberg/Getty Images)
No início da tarde, Trump fez um discurso incitando seus apoiadores a não aceitarem o resultado das eleições e “marchar” em frente ao Congresso. Ele é, evidentemente, o maior culpado e o político mais beneficiado por essa violenta tentativa de golpe (Bloomberg/Getty Images)
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Sérgio Praça

Publicado em 6 de janeiro de 2021 às, 21h14.

Cerca de uma hora atrás, 17h40 no horário de Brasília, parlamentares norte-americanos foram instruídos a se abrigarem dentro do Congresso Nacional (Capitólio). O presidente Donald Trump (Partido Republicano) assiste tudo pela televisão em sua sala na Casa Branca e tuíta que os protestos devem ser “pacíficos”.

Um comentarista da CNN diz que as imagens de violência política parecem “cenas de um livro... Não é típico dos Estados Unidos”. Parece que uma mulher foi baleada dentro do plenário, mas ainda não há confirmação. Outra jornalista afirma: “Essa é nossa casa e esses aí são terroristas ‘domésticos’, mas alguns políticos republicanos os chamam de ‘patriotas’”, afirma outra jornalista da CNN.

No início da tarde, Trump fez um discurso incitando seus apoiadores a não aceitarem o resultado das eleições e “marchar” em frente ao Congresso. Ele é, evidentemente, o maior culpado e o político mais beneficiado por essa violenta tentativa de golpe.

Tudo isso só é possível por causa de dois outros elementos: anos de apoio da Fox News aos políticos republicanos mais radicais e parlamentares como o deputado republicano Kevin Mcarthy, que sempre divulgaram teorias conspiratórias pró-Trump. Agora há pouco, outro deputado republicano, Louie Gohmert, pediu que a Suprema Corte interrompesse a contagem formal de votos do Colégio Eleitoral e que Trump publicasse um decreto para impedir que o vice-presidente Mike Pence (Partido Republicano) continuasse o ritual.

Deve ficar claro, também, que parte significativa dos cidadãos norte-americanos não acharia ruim um golpe, desde que fosse comprovada “corrupção ou crime exacerbado” dos governantes. Em 2017, cerca de 25% dos democratas e 30% dos republicanos concordaram com essa afirmação. Para os cientistas políticos Matthew Graham e Milan Svolik, a polarização crescente é responsável por essa situação. (O artigo de Graham e Svolik sobre isso é “Democracy in America? Partisanship, Polarization, and the Robustness of Support for Democracy in the United States”, publicado na American Political Science Review ano passado.)

As próximas horas serão definidoras para não apenas a qualidade da democracia norte-americana, mas sua própria existência. Agora Trump está na televisão pedindo que os golpistas vão para casa em paz – mas continua dizendo que Joe Biden (Partido Democrata) não venceu a eleição.

Caso ele não seja destituído da presidência e preso, ficará difícil classificar os Estados Unidos como democracia plena.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)