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Contra covid-19, empresários mostram medo de reinvenção

Roberto Justus e o dono do Madero mostram insensatez e insegurança ao minimizar o coronavírus

HAMBÚRGUER DO MADERO: mais do que falta de tato, as manifestações revelam a insegurança de empresários com crises e mudanças  / Divulgação
HAMBÚRGUER DO MADERO: mais do que falta de tato, as manifestações revelam a insegurança de empresários com crises e mudanças / Divulgação
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Sérgio Praça

Publicado em 24 de março de 2020 às, 11h44.

Vídeos de empresários comentando o coronavirus têm disputado atenção no whatsapp. Roberto Justus respondeu a Marcos Mion afirmando que “o total de mortes até agora no mundo é 12 mil (risos). Isso é absolutamente nada, são 220 mil infectados”. Hoje recebi um vídeo em que Junior Durski, dono da lanchonete Madero, diz que o Brasil não pode parar por 5 ou 7 mil mortes.

A reação dos empresários revela o utilitarismo cego atribuído à classe por esquerdistas que não leram Joseph Schumpeter – um dos melhores intérpretes, aliás, do marxismo em seu “Capitalismo, Socialismo e Democracia” (Editora Unesp, 2017 [1942]).

“Destruição criativa”, para Schumpeter, é o fato essencial do capitalismo. Capitalismo estabilizado é uma contradição em termos. Segundo seu principal biógrafo, Thomas McCraw, o economista “identificou o capitalismo como uma expressão da inovação, de luta humana e pura e simples destruição, tudo ao mesmo tempo. Ele descrevia o capitalismo da maneira como a maioria das pessoas o vivencia: desejos de consumo insuflados pelo constante martelar da propaganda; violentos solavancos para cima e para baixo na ordem social; metas alcançadas, destroçadas, revistas e novamente alcançadas, em um infindável processo de tentativa e erro”. (O livro se chama “O profeta da inovação” e foi publicada pela Record em 2012.)

O clichê do insensível “dono dos meios de produção” toma forma concreta nas falas de Justus e do dono da rede de lanchonetes. Mais do que falta de tato, essas manifestações revelam a insegurança dos dois empresários. Sublinham a falta de confiança em si mesmos para atravessar a crise com algum tipo de reinvenção. Admitem-se, sem querer, incapazes de inovar. Precisam que tudo siga como antes para que tenham sucesso.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)