Como Lula se livrou do RenovaBR
Alunos do movimento apartidário ensinam ao fundador que democracia é bagunça, não ordem
Publicado em 16 de dezembro de 2019 às, 18h30.
Última atualização em 16 de dezembro de 2019 às, 19h15.
Na semana retrasada aconteceu a formatura dos alunos do movimento RenovaBR, uma organização apartidária que promove, desde 2017, cursos de formação para quem prefere começar a vida política com um pé fora dos partidos. O instituto não proíbe filiação partidária. Mas lamentou, através de um artigo de seu fundador Eduardo Mufarej, a manifestação de formandos que aproveitaram a atenção da cerimônia para mostrar o sinal de “Lula Livre” para fotos, como Monica Bergamo relatou. Mufarej chamou o episódio de “equívoco isolado”. Reação tão esquisita quanto previsível.
Esquisita porque um movimento que pretende promover e melhorar a qualidade da democracia brasileira deveria se orgulhar de formar pessoas que não temem represália por expressarem suas preferências partidárias. Foi feio fazer isso em uma cerimônia de formatura? De modo algum. Democracia é bagunça. Parece que os dirigentes do RenovaBr nunca participaram de formatura de colégio ou faculdade. Colocar ordem na celebração é bobagem.
E o lamento de Mufarej é previsível porque o instituto é muito mimado pela imprensa e sociedade civil. Partidos políticos recebem críticas diárias – muitas justas, outras não. Por que uma organização de cidadãos que agem politicamente deveria ser poupada? Pior ainda: apenas sites ligados a partidos de esquerda questionam o envolvimento de Luciano Huck, entusiasta ativo dos cursos de formação política, com a organização.
Uma consequência do imbróglio é que o PT poderá se deliciar na campanha de 2022 caso Huck se candidate. Nem esse movimento coxinha consegue conter a paixão do povo!, Lula poderá dizer.
Seria uma ótima lição para quem, como Mufarej, acredita que “ensinar democracia é difícil”.
(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)