Com Maia, o PSDB só pensa em 2018
Pela segunda vez em dois anos, o Brasil vive a expectativa de uma nova troca de presidente. Desta vez, não terá sido necessária a presença de milhares de cidadãos nas ruas. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), deverá assumir o lugar de Michel Temer (PMDB), nas próximas semanas. Este cenário é provável […]
Publicado em 8 de julho de 2017 às, 10h08.
Pela segunda vez em dois anos, o Brasil vive a expectativa de uma nova troca de presidente. Desta vez, não terá sido necessária a presença de milhares de cidadãos nas ruas. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), deverá assumir o lugar de Michel Temer (PMDB), nas próximas semanas.
Este cenário é provável por conta da crescente rejeição parlamentar a Temer, revelada na quantidade cada vez menor de deputados federais da Comissão de Constituição e Justiça, o primeiro órgão a analisar a denúncia de Rodrigo Janot, Procurador-Geral da República, contra o presidente. Caso essa primeira denúncia não prospere, Janot promete mais duas, por outros crimes, contra Temer.
Por enquanto, a situação na CCJ está indefinida. De acordo com a revista VEJA, 20 dos 66 deputados da comissão expressam voto contra o presidente; 8 são favoráveis a ele. O restante – nada menos do que 38 parlamentares – está indeciso. (Esses dados foram vistos na sexta-feira, 7 de julho, às 20h.) Partidos como PSD e PRB, que controlam, respectivamente, os ministérios de Ciência e Tecnologia e o de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, são os mais importantes a observar. O motivo é que são formados por parlamentares que respondem menos aos líderes do que os dos outros partidos. A rebelião de alguns deputados do PSDB logo após a gravação de Joesley Batista, por exemplo, foi estancada enquanto os líderes tucanos não definissem suas posições.
E tudo indica que o PSDB finalmente saiu do muro. Desde o fim de maio, critico o partido por não definir se fica ou sai do governo Temer. Bem, políticos são mais espertos do que cientistas políticos. A solução é não sair nem ficar: simplesmente arranjar outro presidente para liderar o que o senador Tasso Jereissati (PSDB) chama de “travessia até 2018”. Diferentemente de partidos como o PSD e PRB, o PSDB joga o que cientistas políticos chamam de “jogo majoritário”. O partido lança candidato em toda eleição presidencial, e também para a maioria dos governos estaduais e prefeituras de capitais. Não querem apenas poder parlamentar, querem formular e executar políticas públicas. Querem poder nacional.
Desde 2002, o PSDB fracassa contra o PT. Na última vez que um presidente tucano foi eleito, em 1998, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) continuou no poder. Presidenciáveis não faltaram, mas Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra conseguiram, no máximo, governar seus estados. Caso lancem João Dória à presidência ano que vem, o partido poderá ter alguma chance de vencer. Após triturar a organização do PSDB em São Paulo para vencer as prévias partidárias para a prefeitura em 2016, Dória acabou de ser incluído entre os caciques que devem definir o rumo da organização nos próximos meses.
Por incrível que pareça, é possível que o PSDB se dê bem ano que vem mesmo que não se livre de Aécio. Difícil pensar em uma figura política mais desmoralizada do que a dele, e não é pouco dizer isso em julho de 2017. Segundo o Instituto Ipsos, Aécio é rejeitado por mais de 90% dos brasileiros. Se continuar assim, talvez não consiga ser nem deputado federal nas eleições de 2018. Mas, no Brasil, os partidos não são punidos nas urnas por não se livrarem de maçãs podres.
Toda essa conversa pode ser um pouco precipitada. O futuro do governo depende, ainda, da votação na CCJ. Mas a coisa parece cada dia pior para Temer e melhor para o PSDB.