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Cinco coisas importantes ofuscadas pela prisão de Lula

Da candidatura de Dilma à filiação de Joaquim Barbosa, os últimos dias foram pródigos em eventos importantes que passaram quase despercebidos

Joaquim Barbosa: pré-candidato à presidência pelo PSB (Ueslei Marcelino/Reuters)
Joaquim Barbosa: pré-candidato à presidência pelo PSB (Ueslei Marcelino/Reuters)
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Sérgio Praça

Publicado em 9 de abril de 2018 às, 15h40.

Última atualização em 10 de abril de 2018 às, 15h52.

Nós ficamos vidrados, na última semana, em tudo sobre a prisão do ex-presidente Lula (PT). Começou com a decisão do Supremo Tribunal Federal de negar seu habeas corpus e foi até os áudios de controladores de voo (“joga pela janela!”) captados em sua viagem de São Paulo a Curitiba.

O que resta agora é a vigília comandada por Gleisi Hoffmann (PT), presidente do partido, em frente à superintendência da Polícia Federal onde Lula está preso. E os lamentos palmeirenses sobre o primeiro título (roubado pelo juiz, dizem) do Corinthians comemorado pelo ex-presidente na cadeia. Os policiais federais permitiram TV na cela.

O fim melancólico da relevância política do petista escondeu cinco fatos importantes nos últimos dias. São eles:

1) Dilma disputará o Senado em Minas Gerais

Em uma movimentação surpreendente, Dilma Rousseff (PT) anunciou que será candidata a uma das duas vagas no Senado Federal do estado mineiro. O senador Aécio Neves (PSDB) tentará a reeleição. Em 2014, disputaram a presidência. Aécio foi mau perdedor. Contestou o resultado eleitoral e com isso perdeu legitimidade e tirou um pouco do “brilho” da vitória da petista. Ambos tiverem campanhas amplamente financiadas por negócios corruptos.

Destituída do cargo em 2015, Dilma está tão chamuscada quanto Aécio, pego em gravações telefônicas indecorosas. A rejeição do tucano já chegou a 90%, de acordo com pesquisas do Instituto Ipsos divulgadas no ano passado. É provável que as próximas pesquisas indiquem rejeição menor para Dilma, pois ela não escolheria esse estado à toa para disputar a eleição. Ambos podem acabar derrotados por candidatos com menos história política. Vamos aguardar.

2) Joaquim Barbosa filiou-se ao PSB

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, pertence, agora, a um partido político. É bastante provável que seja o candidato do PSB à presidência da República. A pesquisa mais recente com o nome do juiz foi divulgada pelo Instituto Datafolha em 31 de janeiro deste ano. No cenário que tinha também João Doria (PSDB) como candidato, Barbosa conseguia 5%, o mesmo percentual de Ciro Gomes (PDT). Nessa simulação, Lula ainda era candidato. As coisas estão bem mais abertas agora.

Algoz do PT no “Mensalão”, Barbosa tem a seu favor elementos de vários outros candidatos: origem humilde (Marina), impaciência para fazer acordos políticos (Bolsonaro, Marina) e culto à educação (Ciro). Mais do que qualquer outro postulante, Joaquim Barbosa avançou, concretamente, no combate à corrupção. E não está chamuscado por polêmicas da Operação Lava Jato. Além disso, não terá Luciano Huck para atrapalhar. Com bancada de pouco mais de 30 deputados federais, seu partido, o PSB, tem força organizacional e não está associado à corrupção. Nome fortíssimo para a presidência.

3) Prisão de Paulo Preto, provável operador do PSDB

Na sexta-feira, Paulo Preto, ex-diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S/A), empresa ligada ao estado de São Paulo, foi preso. Paulo foi citado em depoimentos de sete delatores na Operação Lava Jato – entre eles, executivos da Odebrecht e Andrade Gutierrez. De acordo com os depoimentos, o então diretor da Dersa requisitou 0,75% do valor que dez empreiteiras receberiam pela construção do trecho sul do Rodoanel em São Paulo.

Estima-se que Paulo Preto tinha 113 milhões de reais em contas na Suíça. Ele disse, em entrevista anos atrás para a revista Piauí, que o governador José Serra (PSDB) sabe muito bem quem ele é e o que fazia para o partido. Caso faça delação premiada, a (ainda mediana) popularidade de Geraldo Alckmin (PSDB) pode esmaecer.

4) Moreira Franco no Ministério de Minas e Energia

O presidente Michel Temer (MDB) nomeou Moreira Franco (MDB), seu escudeiro na Secretaria-Geral da Presidência, para comandar o Ministério de Minas e Energia nesses últimos oito meses de mandato. A troca tem duas motivações. A primeira é o medo de que Moreira Franco perca o foro privilegiado, pois o status ministerial da Secretaria-Geral da presidência, criada por medida provisória, é questionado por Raquel Dodge, Procuradora-Geral da República. Comandando a área de Minas e Energia, não terá problemas com investigações e denúncias até 2019.

A segunda motivação é o processo de privatização da Eletrobrás. Terá que ser negociado em um Congresso no qual Moreira Franco e Eliseu Padilha (MDB), outro comparsa do presidente, ainda têm certa influência. A má notícia é que Paulo Pedrosa, secretário-executivo do ministério, e Luiz Barroso, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), renunciaram aos cargos. Será um teste e tanto para a capacidade técnica do político apelidado de “gato angorá” pela Odebrecht.

5) Cerca de 80 deputados federais mudam de partido

No ano passado, a legislação eleitoral foi alterada para permitir um mês de janela para políticos mudarem de partido político sem ônus. O prazo para registrar mudança acabou no sábado. De acordo com as contas da Folha de S. Paulo, por volta de 80 dos 513 deputados federais mudaram de sigla. DEM, PSL e Podemos se beneficiaram mais, enquanto o PT e o MDB perderam. O DEM elegeu 21 parlamentares em 2014 e agora tem 40. O PSL atraiu mais nove, provavelmente por conta da entrada de Jair Bolsonaro no partido, e agora conta com 10.

Uma das mudanças mais impressionantes é a do Podemos. O partido elegeu 4 deputados em 2014 e hoje tem 18. Apesar de o candidato à presidência pelo partido, Álvaro Dias, não empolgar, o fato de o partido ter nome limpo ajudou a atrair parlamentares. Os três maiores partidos em 2014 – e dos mais sujos nas investigações – elegeram 187 deputados federais em 2014. Agora, PT, MDB e PSDB controlam, juntos, 156 cadeiras. São 31 deputados a menos. Sinal amarelo para quem acha que vai compensar a péssima reputação partidária com mais recursos do fundo eleitoral recém-criado.