Carlos Marun, o “fechador de questões”
A tarde de hoje terminou com o anúncio do senador Romero Jucá (PMDB) sobre o adiamento da votação da reforma da Previdência para fevereiro de 2018. Amanhã começará com a posse do deputado federal Carlos Marun (PMDB) na Secretaria de Governo ligada à Presidência da República, substituindo o tucano Antônio Imbassahy (PSDB). Há quem leia […]
Publicado em 13 de dezembro de 2017 às, 19h54.
A tarde de hoje terminou com o anúncio do senador Romero Jucá (PMDB) sobre o adiamento da votação da reforma da Previdência para fevereiro de 2018. Amanhã começará com a posse do deputado federal Carlos Marun (PMDB) na Secretaria de Governo ligada à Presidência da República, substituindo o tucano Antônio Imbassahy (PSDB). Há quem leia a declaração de Jucá com desânimo sobre as chances de votação da reforma. Não me parece ser esta a posição mais correta. Alguma mudança substantiva no sistema previdenciário será, sim, aprovada no governo de Michel Temer (PMDB). O “a não ser que” da história é que os parlamentares podem fazer o cálculo eleitoral errado, imaginando que serão punidos nas urnas por votarem “contra os interesses da população”. Este sentimento é exagerado, a julgar pelo que ocorreu após as reformas de 1998 e 2003, segundo os pesquisadores Pedro Fernando Nery e Carolina Botelho. Ainda assim, reformas constitucionais custam caro para os presidentes. Eles ficam com a maior parte do mérito e os deputados arcam com o ônus (repito: no caso da Previdência, o peso do ônus está sendo superestimado). Então o pagamento em cargos de confiança e emendas orçamentárias terá que compensar.
É aí, na distribuição dos cargos, que entra o craque Carlos Marun. Michel Temer guardou-o para a prorrogação. Marun costuma ser associado ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). Seria o principal membro da tropa de choque que lutou contra a cassação do peemedebista. É associado também ao que há de pior na política por ter feito uma dancinha comemorativa após uma das votações que livraram Temer da cassação. Marun é um pouco – só um pouco! – mais complexo do que isso. É um deputado que sabe coordenar (acordos políticos) e entregar (benefícios para eleitores). A associação entre uma coisa e outra costuma ser considerada ruim para os cidadãos, mas não é. Acordos são necessários para entregar benefícios. Emendas orçamentárias não são intrinsecamente ruins.
Nem, na verdade, são ruins, em si, os cargos de confiança. Permitem que pessoas associadas aos governantes implementem as políticas públicas desejadas pelos eleitores. Enquanto militava na política estadual, Carlos Marun foi entusiasta de um dos programas governamentais mais relevantes das últimas décadas, o Minha Casa, Minha Vida. Construir casas e apartamentos suscitou menos corrupção do que construir estádios de futebol. O MCMV não foi afetado pelo cartel de construtoras corruptas. É um dos raros (talvez o único!) programas bem-sucedidos da parceria Lula-Dilma. Quando era presidente do Fórum Nacional dos Secretários de Estado de Habitação e Desenvolvimento Urbano, em 2009, Marun defendia que os dirigentes dos menores municípios pudessem propor projetos de construção para as empresas, em vez do contrário. O cálculo político era claro: prefeitos proporiam muitas obras, tomariam o crédito pelas ideias, e as empresas e Caixa Econômica Federal que se virassem para explicar a inviabilidade de algumas das propostas.
Este é Marun: um defensor de pequenos municípios e prefeitos (que lhes interessam eleitoralmente) que ajudará, ao coordenar a distribuição de cargos com Eliseu Padilha (chefe da Casa Civil, PMDB), os partidos da base de Temer a “fecharem questão” a favor da reforma da Previdência.