Bolsonaro não precisa ser expert para ser político
Como quase tudo em política, não há resposta definitiva. Mas creio que a importância de “candidatos-experts” seja superestimada
Da Redação
Publicado em 31 de julho de 2018 às 15h18.
Última atualização em 31 de julho de 2018 às 15h48.
“Tenho vários ‘Postos Ipiranga’”, disse o pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL) no Roda Viva, da TV Cultura, ontem à noite. Citou o economista Paulo Guedes e um general como seus guias. Guedes é o principal. Apesar de ter proposto algumas ideias bisonhas – como uma espécie de segundo sistema trabalhista, com menos direitos –, o economista tem mais conhecimento sobre políticas públicas do que o deputado. A pergunta importante é: políticos precisam entender profundamente de políticas públicas? Ou basta confiar em especialistas e focar em atrair partidos políticos para suas propostas? Como quase tudo em política, não há resposta definitiva. Mas creio que a importância de “candidatos-experts” seja superestimada.
Bill Clinton é um bom exemplo. O economista Larry Summers, ministro da Fazenda de Clinton de 1999 a 2001, disse que era comum o presidente citar reportagens da edição asiática da revista The Economist. Clinton era um “policy wonk”, um tarado pela minúcia das políticas públicas. Mas seu segundo mandato, de 1997 A 2000, foi quase completamente tomado pela polemica com a estagiária Monica Lewinsky e seu vestido manchado – “the human stain”, para usar a expressão do escritor Philip Roth. Clinton é um político genial que se atrapalhou à toa.
Outro exemplo, este um pouco pior, é o de Dilma Rousseff (PT). Sua arrogância é notória. A ex-presidente pensa que sabe muito mais sobre políticas públicas do que de fato entende. Idealizadora do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) iniciado em 2007, Dilma não soube antecipar consequências óbvias de um amplo programa de infraestrutura cheio de atividades corruptas. A dívida pública foi de 50% do PIB para 67% entre 2011 e 2016. O uso político indiscriminado dos empréstimos do BNDES resultou, junto com outros fatores, na pior recessão da história do país. Pior do que um político ignorante é um que se acha expert e não ouve economistas com o mínimo de boas publicações acadêmicas.
Ignorar experts é característica de candidatos populistas, afirma o cientista político Jan-Werner Müller em seu ótimo livro “What is Populism?”, publicado em 2016. Populistas também costumam criticar algum tipo de “elite” (real ou inventada) e deslegitimam seus oponentes políticos. Ao dizer no Roda Viva que desde já as eleições estão “sob suspeição”, o candidato do PSL flerta com essa deslegitimação do próprio processo. Sinal de que não acredita tanto assim em suas chances de vitória. Mas ele tem sido mais responsável do que populista ao dizer que confia em especialistas. O problema é que nem sempre os experts são competentes.
“Tenho vários ‘Postos Ipiranga’”, disse o pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL) no Roda Viva, da TV Cultura, ontem à noite. Citou o economista Paulo Guedes e um general como seus guias. Guedes é o principal. Apesar de ter proposto algumas ideias bisonhas – como uma espécie de segundo sistema trabalhista, com menos direitos –, o economista tem mais conhecimento sobre políticas públicas do que o deputado. A pergunta importante é: políticos precisam entender profundamente de políticas públicas? Ou basta confiar em especialistas e focar em atrair partidos políticos para suas propostas? Como quase tudo em política, não há resposta definitiva. Mas creio que a importância de “candidatos-experts” seja superestimada.
Bill Clinton é um bom exemplo. O economista Larry Summers, ministro da Fazenda de Clinton de 1999 a 2001, disse que era comum o presidente citar reportagens da edição asiática da revista The Economist. Clinton era um “policy wonk”, um tarado pela minúcia das políticas públicas. Mas seu segundo mandato, de 1997 A 2000, foi quase completamente tomado pela polemica com a estagiária Monica Lewinsky e seu vestido manchado – “the human stain”, para usar a expressão do escritor Philip Roth. Clinton é um político genial que se atrapalhou à toa.
Outro exemplo, este um pouco pior, é o de Dilma Rousseff (PT). Sua arrogância é notória. A ex-presidente pensa que sabe muito mais sobre políticas públicas do que de fato entende. Idealizadora do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) iniciado em 2007, Dilma não soube antecipar consequências óbvias de um amplo programa de infraestrutura cheio de atividades corruptas. A dívida pública foi de 50% do PIB para 67% entre 2011 e 2016. O uso político indiscriminado dos empréstimos do BNDES resultou, junto com outros fatores, na pior recessão da história do país. Pior do que um político ignorante é um que se acha expert e não ouve economistas com o mínimo de boas publicações acadêmicas.
Ignorar experts é característica de candidatos populistas, afirma o cientista político Jan-Werner Müller em seu ótimo livro “What is Populism?”, publicado em 2016. Populistas também costumam criticar algum tipo de “elite” (real ou inventada) e deslegitimam seus oponentes políticos. Ao dizer no Roda Viva que desde já as eleições estão “sob suspeição”, o candidato do PSL flerta com essa deslegitimação do próprio processo. Sinal de que não acredita tanto assim em suas chances de vitória. Mas ele tem sido mais responsável do que populista ao dizer que confia em especialistas. O problema é que nem sempre os experts são competentes.