Exame.com
Continua após a publicidade

As consequências políticas das prisões de Páscoa

A solidão de Temer é preocupante. Isolado, tende a crer que sua candidatura à reeleição é viável. Delírio total

ANTONIO CELSO GRECCO, DONO DA RODRIMAR:  prisões foram justificadas pela suspeita de que provas sobre o favorecimento ilícito da empresa, quando da edição do Decreto dos Portos, podem ser destruídas / Leonardo Benassatto/ Reuters
ANTONIO CELSO GRECCO, DONO DA RODRIMAR: prisões foram justificadas pela suspeita de que provas sobre o favorecimento ilícito da empresa, quando da edição do Decreto dos Portos, podem ser destruídas / Leonardo Benassatto/ Reuters
S
Sérgio Praça

Publicado em 30 de março de 2018 às, 07h16.

Michel Temer (MDB) passará a Páscoa com Marcela e Michelzinho. Estarão ausentes do almoço de domingo amigos como Geddel Vieira Lima (MDB), Henrique Eduardo Alves, (MDB), Wagner Rossi (MDB), José Yunes e o coronel Joao Batista Lima Filho. Todos, exceto o coronel, ocuparam cargos públicos indicados diretamente ou apoiados por Temer. (O deputado federal Rodrigo Rocha Loures (MDB), o da mala com rodinhas, pode fazer companhia à família do presidente.) As prisões foram justificadas pela suspeita de que provas sobre o favorecimento ilícito da empresa Rodrimar, quando da edição do Decreto dos Portos, podem ser destruídas. O presidente da empresa, Antônio Celso Grecco, também foi preso. A solidão de Temer é preocupante. Isolado, tende a crer que sua candidatura à reeleição é viável. Delírio total. Os desafios políticos que as prisões de hoje impõem ao emedebista são dois.

O primeiro é evitar que todos os partidos que hoje compõem a base governista, pois têm ministérios, abandonem a administração. Afinal, o que ganham ficando ao lado de um presidente muito impopular nas vésperas das eleições? A desincompatibilização dos ministros exigida pela legislação eleitoral piora esse quadro. No Ministério da Educação, por exemplo, é bastante provável que a secretária-executiva da pasta, Maria Helena Guimarães de Castro, assuma o cargo de Mendonça Filho (DEM). Sem esse posto importante, por que o DEM haveria de apoiar o governo em qualquer coisa? Especialmente considerando que, até o momento, está de pé a candidatura à presidência de Rodrigo Maia (DEM), atual presidente da Câmara dos Deputados.

O Partido Progressista tem menos incentivos para abandonar Temer, pois não apresenta candidato ao Planalto. O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), está prestes a sair do ministério. O partido quer manter o controle político desse ministério e também da Caixa Econômica Federal, hoje presidida pelo pepista Gilberto Occhi. Ele se tornaria ministro da Saúde e o PP ainda indicaria outra pessoa para a Caixa .Michel Temer não quer isso, mas talvez tenha que engolir.

O segundo desafio causado pelas prisões da páscoa é a forte possibilidade de a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, oferecer a terceira denúncia para o presidente durante este mandato. Como das outras vezes, Temer precisará do apoio em plenário de ao menos 172 dos 513 deputados federais para se livrar. Nas duas denúncias votadas em agosto e outubro do ano passado, o presidente passou com folga. Na primeira, 263 votaram pela rejeição da denúncia. 12 deputados a menos apoiaram o presidente em outubro. Entre uma votação e outra, não perdeu votos demais em nenhum partido da base. PSD e PSDB, por exemplo, deram 22 votos em agosto ao presidente e 20 em outubro. No DEM houve a maior queda: 23 em agosto, 20 em outubro. Nada muito relevante.

A diferença é que, agora, os cargos de confiança que Temer tem para distribuir são menos atraentes. E grande parte deles já estão ocupados. Mas dificilmente isso será determinante para o insucesso do presidente em uma nova votação. Ele teria que perder o apoio de 79 deputados. É bastante coisa. Além disso, o governo conta ainda com a possibilidade de liberar emendas orçamentárias – algumas retidas desde o início do ano passado, outras mais recentes. O fato é que as prisões de hoje tornarão 2018 mais um ano infernal para Michel Temer. Mostram, também, que o desânimo popular com as instituições judiciais têm menos base na realidade do que muitos acreditam.