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Além de Lula, Fernando Haddad é José Dirceu

Sem o apoio de Dirceu, Haddad não conseguirá ir para o centro e atrair a boa vontade de empresários no início de seu governo

DIRCEU: de 1968 para 2018, o que mudou para ele foi o objeto da indignação / Vagner Rosário/ VEJA.COM
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Da Redação

Publicado em 4 de outubro de 2018 às 12h41.

Última atualização em 4 de outubro de 2018 às 14h36.

Personagens rasos, escreveu o romancista inglês E. M. Forster, têm uma única – e essencial – característica. Ela é repetida, sem mudança, a cada aparição do personagem na obra literária. Ao ler o primeiro livro de memórias de José Dirceu (PT), tive a impressão de que ele não é uma figura complexa – o outro lado da moeda de Forster.

Dirceu é guerrilheiro, é um organizador, é um militante, é um indignado. Expressou isso nos últimos dias em diversas entrevistas. O ex-ministro disse que “todos os poderes” deveriam ser tirados do Supremo Tribunal Federal, que se tornaria uma Corte Constitucional. Para outro jornalista, afirmou que é necessário “tirar o poder de investigação do Ministério Público. Virou uma polícia política, não há controle nenhum”.

De 1968 para 2018, o que mudou é o objeto da indignação. Dirceu amplifica o descontentamento petista com as instituições judiciais brasileiras. Por incrível que pareça, não está muito distante do moderado Fernando Haddad (PT), o candidato à presidência.

Ao “Jornal da Globo”, Haddad disse que petistas condenados pela Lava Jato tiveram penas “desequilibradas” em comparação a outros políticos investigados. Teve tempo também para mentir. Disse que Lula sancionou praticamente todas as leis usadas pela Lava Jato. Mas Dilma Rousseff (PT) aprovou as leis 12.846 (Anticorrupção) e 12.850 (Organizações Criminosas) no segundo semestre de 2013.

Isso ajuda a contextualizar a mais nova declaração do candidato petista, segundo quem José Dirceu não terá lugar em seu governo. Não podemos levar essa frase de Haddad a sério. Sem Dirceu em seu governo (mesmo que seja de modo informal, nos bastidores), o professor não terá apoio do próprio partido. Haddad não é querido por grande parte dos petistas que hoje comandam o partido – especialmente Gleisi Hoffmann, a presidente da organização.

Qualquer presidente da República precisa ter controle sobre seu partido. Dirceu relata, em seu livro, que Lula só conseguiu fazer aliança com a centro-direita e contratar o publicitário Duda Mendonça após obter o controle da máquina partidária, incluindo os postos-chave de direção. Sem o apoio de Dirceu, Haddad não conseguirá ir para o centro e atrair a boa vontade de empresários no início de seu governo.

Sorte do candidato que, no essencial, no papel de instituições como o Ministério Público e Judiciário devem ter, Dirceu concorda com ele.

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Personagens rasos, escreveu o romancista inglês E. M. Forster, têm uma única – e essencial – característica. Ela é repetida, sem mudança, a cada aparição do personagem na obra literária. Ao ler o primeiro livro de memórias de José Dirceu (PT), tive a impressão de que ele não é uma figura complexa – o outro lado da moeda de Forster.

Dirceu é guerrilheiro, é um organizador, é um militante, é um indignado. Expressou isso nos últimos dias em diversas entrevistas. O ex-ministro disse que “todos os poderes” deveriam ser tirados do Supremo Tribunal Federal, que se tornaria uma Corte Constitucional. Para outro jornalista, afirmou que é necessário “tirar o poder de investigação do Ministério Público. Virou uma polícia política, não há controle nenhum”.

De 1968 para 2018, o que mudou é o objeto da indignação. Dirceu amplifica o descontentamento petista com as instituições judiciais brasileiras. Por incrível que pareça, não está muito distante do moderado Fernando Haddad (PT), o candidato à presidência.

Ao “Jornal da Globo”, Haddad disse que petistas condenados pela Lava Jato tiveram penas “desequilibradas” em comparação a outros políticos investigados. Teve tempo também para mentir. Disse que Lula sancionou praticamente todas as leis usadas pela Lava Jato. Mas Dilma Rousseff (PT) aprovou as leis 12.846 (Anticorrupção) e 12.850 (Organizações Criminosas) no segundo semestre de 2013.

Isso ajuda a contextualizar a mais nova declaração do candidato petista, segundo quem José Dirceu não terá lugar em seu governo. Não podemos levar essa frase de Haddad a sério. Sem Dirceu em seu governo (mesmo que seja de modo informal, nos bastidores), o professor não terá apoio do próprio partido. Haddad não é querido por grande parte dos petistas que hoje comandam o partido – especialmente Gleisi Hoffmann, a presidente da organização.

Qualquer presidente da República precisa ter controle sobre seu partido. Dirceu relata, em seu livro, que Lula só conseguiu fazer aliança com a centro-direita e contratar o publicitário Duda Mendonça após obter o controle da máquina partidária, incluindo os postos-chave de direção. Sem o apoio de Dirceu, Haddad não conseguirá ir para o centro e atrair a boa vontade de empresários no início de seu governo.

Sorte do candidato que, no essencial, no papel de instituições como o Ministério Público e Judiciário devem ter, Dirceu concorda com ele.

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