A ressurreição do MDB no Senado
Junto com o DEM, o MDB do Senado, com Renan escanteado, poderá decidir ser fiador do governo Bolsonaro
Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às, 10h23.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2019 às, 11h00.
Renan Calheiros deixou o MDB do Senado em uma saia-justa. Sua humilhante derrota para a presidência da casa, aumentada por um tweet inacreditavelmente desrespeitoso contra a jornalista Dora Kramer logo em seguida, credencia a interpretação de que os emedebistas poderiam ser escanteados nas principais decisões. Davi Alcolumbre (DEM), o novo presidente do Senado, não precisaria, se não quisesse, destinar postos de poder importantes para o MDB.
Mas não foi isso que ocorreu. O MDB presidirá três comissões permanentes do Senado: a de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), com Simone Tebet; a de Educação, Cultura e Esporte, com Dário Berger, e a Comissão Mista de Orçamento (formada por senadores e deputados federais), com Marcelo Castro. A principal condição para que o partido indicasse esses três presidentes de comissões foi que nenhum deles tivesse rabo preso com Calheiros. Com 13 senadores, o princípio de proporcionalidade partidária, estabelecido no Regimento Interno da casa, foi seguido na alocação dos postos.
Presidentes de comissões no Senado têm uma prerrogativa importantíssima: são eles que escolhem os relatores de projetos que a comissão recebe. E como a CCJ avalia a constitucionalidade de todas as propostas legislativas que tramitam no Senado, presidi-la significa poder designar o relator de qualquer projeto relevante – exceto os que tratam de assuntos orçamentários. Um exemplo é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 4/2019, do senador Márcio Bittar, que reduz a maioridade penal para os 16 anos, sem exceção. É um projeto ousado, polêmico, que encontra ressonância na agenda legislativa do governo Bolsonaro.
Pois é Simone Tebet que decidirá, unilateralmente, qual dos 27 senadores da CCJ será o relator desta PEC. Na CCJ, cabe ao relator dar parecer favorável ou contrário à constitucionalidade do projeto. Em um país com Constituição enxuta, isso seria algo importante, mas nem tanto. A questão é que como nossa Constituição de 1988 é imensa e detalhada, qualquer projeto pode ter implicações constitucionais – nem precisa ser uma PEC. Caso Tebet seja contrária à proposta de Bittar, poderá escolher como relator da PEC um senador de esquerda; se favorável, escolherá um senador conservador.
Junto com o DEM, o MDB do Senado poderá decidir ser fiador do governo Bolsonaro. Agora tem as posições institucionais que precisava para isso.