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A (minha) verdade sobre a demissão de Roberto Alvim

O Secretário de Cultura exagerou na sinalização de lealdade ao presidente – e pagou um preço alto

O vídeo de Roberto Alvim (Secretaria da Cultura/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de janeiro de 2020 às 18h37.

Última atualização em 17 de janeiro de 2020 às 19h12.

Ao acenar para o nazismo em um vídeo oficial do governo, o (já demitido) secretário de Cultura do governo federal, Roberto Alvim, serviu com louvor aos críticos mais estridentes de Bolsonaro . Estaria aí, finalmente!, a prova definitiva de que o ex-capitão é simpatizante de Adolf Hitler. Mas, após o choque inicial, a coisa toda é mais complicada do que parece.

O dramaturgo Roberto Alvim não tinha patrocinadores políticos para ocupar um alto posto de confiança no governo. Nem filiação partidária. Tampouco é um funcionário concursado que se mostrou imprescindível para a implementação de alguma política pública. São esses os três mecanismos mais frequentes de acesso a um cargo de confiança no nível federal, conforme já mostrei em diversos artigos acadêmicos escritos com colegas.

Mas no governo Bolsonaro esses mecanismos não funcionam tão bem quanto em outros governos. Há um alento: redes pessoais (e políticas) corruptas têm sido muito menos relevantes nesse governo para definir cargos de confiança. Mas filiados a partidos políticos – que são, de alguma maneira, selecionados e controlados por essas organizações – têm tido pouco espaço na administração. Funcionários concursados continuam sendo nomeados para cargos de confiança, mas em quantidade menor do que em governos anteriores.

Para diminuir o problema, as Forças Armadas podem funcionar como mecanismo de triagem para ajudar a seleção de pessoas consideradas competentes e leais pelo (e ao) presidente. Mas os militares têm expertise reconhecida na área de infraestrutura – não em outras. Esse mecanismo não basta.

Resta, então, um jogo de sinalização e retórica entre o presidente e seus possíveis nomeados. Quem concorda com Bolsonaro em algum tema polêmico – por exemplo, o suposto efeito nefasto do “globalismo” – sinaliza que será leal a ele caso venha a ocupar um cargo de confiança. Afinal, há afinidade ideológica. E quanto mais o sujeito topa expor essa afinidade, mais sanções ele sofrerá do grupo (majoritário, frequentemente) que discorda do presidente. Assim sinaliza lealdade.

Roberto Alvim exagerou na dose e foi demitido.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)

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Ao acenar para o nazismo em um vídeo oficial do governo, o (já demitido) secretário de Cultura do governo federal, Roberto Alvim, serviu com louvor aos críticos mais estridentes de Bolsonaro . Estaria aí, finalmente!, a prova definitiva de que o ex-capitão é simpatizante de Adolf Hitler. Mas, após o choque inicial, a coisa toda é mais complicada do que parece.

O dramaturgo Roberto Alvim não tinha patrocinadores políticos para ocupar um alto posto de confiança no governo. Nem filiação partidária. Tampouco é um funcionário concursado que se mostrou imprescindível para a implementação de alguma política pública. São esses os três mecanismos mais frequentes de acesso a um cargo de confiança no nível federal, conforme já mostrei em diversos artigos acadêmicos escritos com colegas.

Mas no governo Bolsonaro esses mecanismos não funcionam tão bem quanto em outros governos. Há um alento: redes pessoais (e políticas) corruptas têm sido muito menos relevantes nesse governo para definir cargos de confiança. Mas filiados a partidos políticos – que são, de alguma maneira, selecionados e controlados por essas organizações – têm tido pouco espaço na administração. Funcionários concursados continuam sendo nomeados para cargos de confiança, mas em quantidade menor do que em governos anteriores.

Para diminuir o problema, as Forças Armadas podem funcionar como mecanismo de triagem para ajudar a seleção de pessoas consideradas competentes e leais pelo (e ao) presidente. Mas os militares têm expertise reconhecida na área de infraestrutura – não em outras. Esse mecanismo não basta.

Resta, então, um jogo de sinalização e retórica entre o presidente e seus possíveis nomeados. Quem concorda com Bolsonaro em algum tema polêmico – por exemplo, o suposto efeito nefasto do “globalismo” – sinaliza que será leal a ele caso venha a ocupar um cargo de confiança. Afinal, há afinidade ideológica. E quanto mais o sujeito topa expor essa afinidade, mais sanções ele sofrerá do grupo (majoritário, frequentemente) que discorda do presidente. Assim sinaliza lealdade.

Roberto Alvim exagerou na dose e foi demitido.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)

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