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A desumanidade de Bolsonaro pode lhe custar o cargo?

Ao contrário do que acontece com Donald Trump, os absurdos de Bolsonaro podem lhe custar caro

TRUMP E BOLSONARO: nos EUA, os absurdos podem render bons frutos eleitorais / Kevin Lamarque/Reuters
DR

Da Redação

Publicado em 30 de julho de 2019 às 18h31.

Última atualização em 30 de julho de 2019 às 18h49.

“Verdade é que o grave Montesquieu disse num livro de sátira pachorrenta que era costume em todas as cidades construir uma casa especial para doidos, e meter nela umas poucas dúzias de pessoas, a fim de fazer crer que as pessoas que ficam de fora gozam de perfeito juízo”, escreveu Machado de Assis em 1870. Um louco preside o Brasil em 2019?

Atribuir a declaração de Bolsonaro sobre o pai do presidente da OAB, morto pela ditadura – “Se ele quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto para ele” – à loucura é até generoso com o presidente. Sua desumanidade é estarrecedora. Será também estratégica? (A citação de Machado está no livro “Badaladas do Dr. Semana”, organizado por Sílvia Maria Azevedo e publicado este ano pela Alameda Editorial.)

Falar absurdos tem sido uma boa tática para Donald Trump. A última foi declarar que a cidade de Baltimore, com a maior proporção de negros nos Estados Unidos (63%), está “infestada de ratos”. Imediatamente a prefeitura refutou: dois anos atrás havia 1.836 tocas de rato e agora são 282. Levaram a loucura e o racismo literalmente. Pouco importa. Atitudes assim animam boa parte da base republicana. E o presidente não precisa de maioria para se eleger. Metade da população não vota. Negros e pobres têm tido direitos políticos cerceados por Assembleias Estaduais controladas pelo Partido Republicano. Com a economia indo bem, Trump tem chance de se reeleger no ano que vem apoiado por apenas 25-30% da população.

O Brasil não é assim. Os absurdos de Bolsonaro levam à degradação da presidência como instituição e à queda de sua popularidade. Seus apoiadores mais fiéis certamente não são mais do que 30% dos brasileiros. E eleições presidenciais no Brasil ocorrem em dois turnos. Precisará de maioria para se reeleger. Cada loucura dita pelo presidente e cada referência de seu filho, Carlos, a “pavões misteriosos” leva os brasileiros sãos à negação, raiva, depressão e à barganha (“não é possível que ele realmente pense isso”). A aceitação completaria as cinco fases do luto.

A loucura de Trump pode render ótimos frutos eleitorais. Por aqui, as loucuras podem até levar a um impeachment. O caminho seria tortuoso, é verdade, mas poderia passar por uma insurreição parlamentar frente aos frequentes absurdos. Nem todos nós, aqui fora ou no Congresso, gozamos de perfeito juízo – mas qual o grau de aceitação às loucuras presidenciais?

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“Verdade é que o grave Montesquieu disse num livro de sátira pachorrenta que era costume em todas as cidades construir uma casa especial para doidos, e meter nela umas poucas dúzias de pessoas, a fim de fazer crer que as pessoas que ficam de fora gozam de perfeito juízo”, escreveu Machado de Assis em 1870. Um louco preside o Brasil em 2019?

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O Brasil não é assim. Os absurdos de Bolsonaro levam à degradação da presidência como instituição e à queda de sua popularidade. Seus apoiadores mais fiéis certamente não são mais do que 30% dos brasileiros. E eleições presidenciais no Brasil ocorrem em dois turnos. Precisará de maioria para se reeleger. Cada loucura dita pelo presidente e cada referência de seu filho, Carlos, a “pavões misteriosos” leva os brasileiros sãos à negação, raiva, depressão e à barganha (“não é possível que ele realmente pense isso”). A aceitação completaria as cinco fases do luto.

A loucura de Trump pode render ótimos frutos eleitorais. Por aqui, as loucuras podem até levar a um impeachment. O caminho seria tortuoso, é verdade, mas poderia passar por uma insurreição parlamentar frente aos frequentes absurdos. Nem todos nós, aqui fora ou no Congresso, gozamos de perfeito juízo – mas qual o grau de aceitação às loucuras presidenciais?

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