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A CPI da Pandemia pode ser ótima para Bolsonaro

A popularidade do presidente não cai muito mais porque ele se beneficia da nova dinâmica de informações políticas

Jair Bolsonaro. (Marcos Correa/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 30 de abril de 2021 às 16h59.

Quando a CPI da Pandemia foi instalada, há dois dias, muita gente se animou. O impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido) pareceu mais factível. Os senadores que apoiam o governo são minoria na comissão. Com Renan Calheiros (MDB) na relatoria, o cargo mais importante da CPI, parece que o bolsonarismo corre risco de ser responsabilizado em praça pública pelos possíveis crimes cometidos desde março de 2020.

Mesmo assim, a CPI pode ser ótima para Bolsonaro.

O principal motivo é que há uma novidade ainda não bem incorporada por muitos analistas: a circulação de informações políticas não tem a mesma dinâmica, hoje, de dez anos atrás. O clichê é verdadeiro. As redes sociais – especialmente o Whatsapp, que não é bem uma rede – mudaram a relação das pessoas com a informação política. Receber notícias de escândalos envolvendo meu político predileto não me torna menos propenso a votar nele. Talvez o contrário: notícias “ruins” podem me irritar, reforçar minhas preferências políticas e diminuir minha confiança na imprensa tradicional.

Essa dinâmica não depende, necessariamente, da internet – embora por ela seja reforçada.

As duas CPIs de potencial mais perigoso para presidentes brasileiros foram a CPI contra Fernando Collor de Mello, em 1992, e a CPI dos Correios (que também investigou o “mensalão”) em 2005, no primeiro mandato do governo Lula. Os efeitos foram desiguais. A comissão que revelou os esquemas de seu comparsa PC Farias foi a pá-de-cal em Collor.

Mas Lula sobreviveu bem às investigações, pois sacrificou ministros importantes e o crescimento econômico do país à época lhe dava segurança. Qualquer notícia de escândalo era atribuída ao “PIG” – Partido da Imprensa Golpista. Reelegeu-se no ano seguinte sem sustos. O escândalo não tirou sua popularidade.

Talvez o mesmo aconteça agora, por vias diferentes, com Bolsonaro. Basta que seus apoiadores mais notórios, como a deputada federal Carla Zambelli (PSL), sigam criando fatos para manter a dinâmica das redes sociais bem alimentada.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)

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Quando a CPI da Pandemia foi instalada, há dois dias, muita gente se animou. O impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido) pareceu mais factível. Os senadores que apoiam o governo são minoria na comissão. Com Renan Calheiros (MDB) na relatoria, o cargo mais importante da CPI, parece que o bolsonarismo corre risco de ser responsabilizado em praça pública pelos possíveis crimes cometidos desde março de 2020.

Mesmo assim, a CPI pode ser ótima para Bolsonaro.

O principal motivo é que há uma novidade ainda não bem incorporada por muitos analistas: a circulação de informações políticas não tem a mesma dinâmica, hoje, de dez anos atrás. O clichê é verdadeiro. As redes sociais – especialmente o Whatsapp, que não é bem uma rede – mudaram a relação das pessoas com a informação política. Receber notícias de escândalos envolvendo meu político predileto não me torna menos propenso a votar nele. Talvez o contrário: notícias “ruins” podem me irritar, reforçar minhas preferências políticas e diminuir minha confiança na imprensa tradicional.

Essa dinâmica não depende, necessariamente, da internet – embora por ela seja reforçada.

As duas CPIs de potencial mais perigoso para presidentes brasileiros foram a CPI contra Fernando Collor de Mello, em 1992, e a CPI dos Correios (que também investigou o “mensalão”) em 2005, no primeiro mandato do governo Lula. Os efeitos foram desiguais. A comissão que revelou os esquemas de seu comparsa PC Farias foi a pá-de-cal em Collor.

Mas Lula sobreviveu bem às investigações, pois sacrificou ministros importantes e o crescimento econômico do país à época lhe dava segurança. Qualquer notícia de escândalo era atribuída ao “PIG” – Partido da Imprensa Golpista. Reelegeu-se no ano seguinte sem sustos. O escândalo não tirou sua popularidade.

Talvez o mesmo aconteça agora, por vias diferentes, com Bolsonaro. Basta que seus apoiadores mais notórios, como a deputada federal Carla Zambelli (PSL), sigam criando fatos para manter a dinâmica das redes sociais bem alimentada.

(Este artigo expressa a opinião do autor, não representando necessariamente a opinião institucional da FGV.)

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