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“The Bomber Mafia”, as lições do novo livro de Malcolm Gladwell

O autor de “Blink” escreve agora sobre o uso de tecnologias e seus dilemas morais

Gladwell explica complexos conceitos científicos e nos fazer pensar sobre os dilemas morais do uso da tecnologia (Jerome Favre/Bloomberg/Getty Images)
Gladwell explica complexos conceitos científicos e nos fazer pensar sobre os dilemas morais do uso da tecnologia (Jerome Favre/Bloomberg/Getty Images)
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Sérgio Cavalcanti

Publicado em 14 de maio de 2021 às, 09h19.

Última atualização em 14 de maio de 2021 às, 11h04.

Por Sergio Cavalcanti 

Hoje vi na internet o vídeo de um prédio que parece implodir na Faixa de Gaza. No meio de uma área densamente povoada, um único edifício é atingido e destruído por aviões israelenses após bombardeio de precisão.

Bombardeios nem sempre foram precisos assim. Atingir alvos com bombas jogadas a 8.500m de altitude, mesmo em condições climáticas favoráveis, era uma tarefa quase impossível durante a maior parte da II Guerra Mundial.

Lembrei-me do excelente “The Bomber Mafia”, o novo livro de Malcolm Gladwell, mesmo autor de “Blink”“Outliers” e “The Tipping Point”. Neste, o autor demonstra, novamente, sua capacidade de explicar complexos conceitos científicos e nos fazer pensar sobre os dilemas morais que o uso da tecnologia pode criar.

Os personagens centrais da narrativa, os Generais Curtis LeMay e Haywood Hansell Jr, representam duas abordagens opostas de bombardeios. Os dois utilizam as ferramentas disponíveis para atingir seus objetivos, ajustando-as de acordo com suas bússolas morais.

LeMay defendia o pragmatismo da "area bombing", a destruição de imensas áreas civis e militares, com o objetivo de infligir destruição generalizada, afetar o moral do inimigo e, assim, chegar à rápida aniquilação. Em suas próprias palavras: "Faz-se a guerra da forma mais feroz e brutal possível e, em troca, recebe-se uma guerra mais curta."

Haywood Hansell por sua vez pretendia usar toda tecnologia ao seu alcance para conseguir o bombardeio de precisão, que atingisse apenas alvos industriais capazes de parar a máquina de guerra inimiga, com a finalidade de infligir o menor número de mortes possível.

O livro é também um passeio pelos avanços tecnológicos da época, como os bombardeiros B-17 (a Fortaleza Voadora) e o B-27 (a Super Fortaleza), assim como o Norden Bombsight (uma espécie de guia e mira mecânica) e o NAPALM (agente utilizado em superbombas incendiárias).

No final, prevaleceu LeMay e seu pragmatismo amoral, afinal de contas como escreve o autor: "Não damos prêmios a pessoas que não cumprem suas tarefas, por mais nobres que sejam as suas intenções."

LeMay e seu 21º Comando de Bombardeiros, situado nas Ilhas Marianas, no meio do Oceano Pacífico, devastaram o Japão como animais selvagens. Osaka, Kur, Kobe, Nishinomiya. Eles incendiaram 68,9% de Okayama, 85% de Tokushima, 99% de Toyama, sessenta e sete cidades japonesas ao longo de meio ano. No caos da guerra, é impossível dizer quantos japoneses foram mortos - talvez meio milhão, talvez um milhão.

Tudo isso aconteceu antes das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, que selaram a rendição incondicional do Império do Sol Nascente. Lemay costumava dizer que elas foram supérfluas, pois o trabalho de verdade já havia sido feito.

Quem gosta de história, II Guerra Mundial, tecnologia e da narrativa perspicaz e inteligente de Malcolm Gladwell terá diversão, aprendizado e fonte de reflexão em um único livro.