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QAnon: a metateoria conspiratória que pode afetar seu negócio

Rede crescente e descentralizada de militantes é adepta a teorias conspiratórias

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Sérgio Cavalcanti

Publicado em 9 de julho de 2020 às, 17h17.

Última atualização em 9 de julho de 2020 às, 20h20.

Teorias conspiratórias existem porque têm elementos de uma boa história, misturam dados verossímeis a outros nem tanto, constroem premissas que se encaixam dentro de uma lógica própria, criam um universo rico, com tramas e vilões, aguçam a curiosidade e o imaginário popular.

Os exemplos não param de crescer, disseminados facilmente pelas redes sociais: o assassinato de JFK; os ET's no deserto de Nevada; a Operação Paperclip, que cuidou do envio de cientistas alemães – e alguns nazistas de alto escalão - para os Estados Unidos, ao final da Segunda Guerra; Projeto MK Ultra, conduzido pela CIA para controlar mentes através de processos de lavagem cerebral; a real causa da destruição das torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001; os vínculos históricos entre a CIA e Hollywood, utilizados para manipular a opinião pública etc.

Prestando atenção aos recentes comícios do Presidente Donald Trump, notei placas e faixas com gigantes Q's espalhados pela plateia. Uma pesquisa mais detalhada me levou ao histórico do Movimento QAnon e a esta coluna.

Trata-se de uma rede crescente e descentralizada de militantes e adeptos de teorias conspiratórias autodenominados Q. Esses indivíduos, com supostas credenciais da comunidade de informação e inteligência americana, patriotas de dentro do "deep state", propõem-se a fazer revelações sobre o subterrâneo do poder, a fim de provocar o "despertar" do cidadão comum frente à corrupção generalizada do sistema.

Os Q's publicam regular e anonimamente - daí o QAnon, de “anonymous” - indícios/pistas (Q drops) que dão suporte às teorias conspiratórias que defendem. Esses posts - 4.580 quando essa coluna foi escrita - podem ser encontrados em https://qmap.pub, divididos em 99 temas, entre eles: China Covid-19; Social Media/High Tech; Jeffrey Epstein e sua rede de prostituição infantil que envolve líderes políticos mundiais; Robert Mueller investigando crimes de Hillary, Bill Clinton e Barack Obama; e muitos mais.

O movimento começou em 2017, com publicações em “bulletin boards” como o 4chan e, desde então, vem ganhando tração e popularidade, sendo apadrinhado pela extrema direita, a ponto de alguns candidatos a deputados americanos admitirem o mérito de teorias defendidas pelo movimento.

Participantes da mídia tradicional como CNN, CBS e Forbes têm dedicado artigos aos QAnon, com objetivo de investigar e mostrar a falta de fundamentos e consistência nas teorias conspiratórias. Os esforços são insuficientes, frente ao aumento de seguidores e quantidade de novos Q drops. O fato é que QAnon já está na mídia tradicional, o que é preocupante.

E o que tem tudo isso a ver com seu negócio? Não é pouco plausível que empresas sejam os próximos alvos do movimento, a exemplo do que aconteceu com a cimenteira mexicana CEMEX em 2018. Uma unidade industrial abandonada, em Nevada, teve sua propriedade atribuída à CEMEX pelo QAnon, ao alegarem ser aquele um local para tráfico humano. Até a empresa provar que não tinha ligações com aquela unidade ou com tráfico humano, o estrago à sua imagem já estava feito e as iniciativas para reparos custaram caro.

É muito simples criar uma teoria conspiratória, associá-la a #qanon e vê-la se propagar rapidamente. Daí a importância das grandes empresas entenderem que o Movimento QAnon já é parte das Redes Sociais tradicionais e de seu poder destruidor, que devem acompanhar seus movimentos e ter um plano de contingência para eventuais Q drops que as envolvam.

Se você achar tudo isso uma bobagem, encontrará milhares de Q drops dignos de roteiros de Hollywood. Diversão garantida!