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Uma mente descansada é mais produtiva, mas como desligar?

O quão desafiador é adotar descansos no dia a dia? Confira na coluna de Sandya Coelho, diretora de comunicação do GetNinjas

Cerca de 32% dos colaboradores apresentam sinais evidentes de burnout e a tendência é crescer (Freepik/pikisuperstar/Reprodução)
Cerca de 32% dos colaboradores apresentam sinais evidentes de burnout e a tendência é crescer (Freepik/pikisuperstar/Reprodução)
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Sandya Coelho

Publicado em 2 de dezembro de 2022 às, 12h25.

Com frequência, ouço amigos e colegas se queixarem de se sentirem cansados e precisando de férias. Eu, inclusive. Afinal, quem não gosta de aproveitar os dias de folga e lazer? Diariamente, lidamos com problemas que se tornam ainda mais difíceis de serem solucionados quando a mente está estafada e pedindo por relaxamento. Mas o que me intriga é o fato de estarmos constantemente aguardando pelas férias para “desligar”. Faço uso das aspas, pois, segundo a American Psychological Association, 44% das pessoas veem mensagens do trabalho pelo menos uma vez por dia nas férias. Se até nas férias é necessário se policiar para se desligar do trabalho, o quão desafiador é adotar descansos no dia a dia? 

Apesar de ser desafiador, essa é uma solução que adotei nos últimos anos. Para reduzir o esgotamento físico e mental, tenho técnicas que me permitem desligar a mente, mesmo que temporariamente, de forma que eu possa encontrar momentos de relaxamento da mente e do corpo. Afinal, o cansaço excessivo pode influenciar nossa capacidade criativa e cognitiva. Basta comparar como temos ideias e estratégias mais criativas quando a mente está relaxada.

Primeiro, é preciso deixar de associar o descanso com a falta de produção, e sim, entender que o relaxamento é a força motriz da performance. Tendo isso em mente, o próximo passo é mudar os hábitos diários. Há diversas formas de relaxar o cérebro durante o dia a dia: cochilos à tarde, contato com a natureza, meditar. Particularmente, sou adepta do combo meditação + yoga há cinco anos. Deixo reservado um período da manhã para a prática e sou uma testemunha dos benefícios já mapeados por pesquisas científicas. 

De acordo com uma  pesquisa realizada pelo neurocientista Richard Davidson, da Universidade de Wisconsin, em parceria com uma startup de biotecnologia e o professor Jon Kabat-Zinn da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, o mindfulness traz benefícios para o mundo corporativo. Durante o estudo, os colaboradores da startup parceira foram estimulados a praticar a meditação. Após oito semanas, os primeiros benefícios foram registrados e um deles foi a resiliência. Cientificamente falando, segundo Davidson, quando estamos estressados, a atividade do lado direito da área pré-frontal aumenta, o que é um pouco problemático, pois é justamente o lado esquerdo que está relacionado com foco e energia. Retomando o experimento, as pessoas assistidas foram capazes de alterar a atividade neural do lado direito para o esquerdo por conta da atenção plena.      

Faço uso aqui de uma licença poética para traduzir o teor acadêmico da frase “alterar a atividade neural” para inteligência emocional, soft skill cada vez mais valorizada pelo mercado e cada vez mais importante na esfera pessoal. Apesar de essa ser uma habilidade individual, ela causa um impacto coletivo. Como Elaine Hatfield, professora de psicologia da universidade do Hawaii defende, as emoções, tanto positivas quanto negativas, são contagiosas. Sendo assim, buscar pequenos descansos no nosso dia a dia tumultuado não é apenas um mecanismo de autocuidado, mas também uma ferramenta de produtividade e até mesmo de gestão de pessoas. Na prática, cada um vai encontrar uma forma de desacelerar de acordo com o estilo de vida,  opções é o que não faltam, de um cochilo até uma corrida. A única opção que está ficando antiquada é a de achar que a exaustão é uma métrica adequada para o trabalho.     

*Sandya Coelho é diretora de comunicação do GetNinjas.