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Inclusão e desenvolvimento de mulheres negras no mercado de trabalho: um compromisso urgente

"Com base no Estatuto da Igualdade Racial, é um direito da população negra a efetivação da igualdade de oportunidades"

Julho das Pretas B (Julho das Pretas B/Reprodução)
DR

Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2022 às 19h14.

Última atualização em 31 de agosto de 2022 às 15h32.

*Rodrigo Santini, Diretor Executivo, e Priscilla Arantes, Gerente de Comunicação, do Sistema B Brasil assinam a coluna desse mês.

Em 25 de julho de 1992 aconteceu o primeiro encontro de mulheres da América Latina e do Caribe, na República Dominicana, que fortaleceu uma rede para denunciar o racismo e visibilizar a luta por direitos das mulheres dessas regiões. No Brasil, a data passou a ser também uma homenagem a um dos principais símbolos de luta das mulheres negras: "Rainha Tereza", que  liderou a resistência do povo negro à frente do Quilombo de Quariterê durante o século XVIII  no Mato Grosso e, em 2014, ganhou o Dia Nacional de Tereza de Benguela. Mais do que um lembrete para honrar e respeitar a vida das mulheres negras, é uma data para trazer também reflexões sobre a presença, representatividade e oportunidades no mercado de trabalho.

Embora a pauta deva ser trabalhada em caráter de urgência e estar na agenda o ano inteiro, a data é ponto de partidapara que a gente reflita sobre a desigualdade racial e estrutural do país e novas rotas para transformar este cenário. Com base no Estatuto da Igualdade Racial, Lei nº 12.288, que completou 12 anos em 20 de julho, - e é fruto de movimentos de base que se colocaram na linha de frente de uma luta social -, é um direito da população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, bem como o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

Mas, "na prática, a teoria é outra". Sabemos que as esferas pública e privada têm a responsabilidade de eliminar obstáculos históricos socioculturais e institucionais que impedem a representação da diversidade étnica para promover a participação da população negra, em condição de igualdade de oportunidade, na vida econômica, social, política e cultural.

Porém, o estatuto reconhece a assimetria social que acentua a distância entre mulheres negras e os demais segmentos sociais. Fato que é bem representado pelo levantamento realizado em 2022 pela consultoria Gestão Kairós, especializada em diversidade, que revelou que entre 900 lideranças entrevistadas (nível de gerência para cima) apenas 3% são mulheres negras.

Diante desse cenário, destacamos que o setor privado tem um papel chave para promover inclusão e equidade, uma vez que a participação das pessoas na sociedade passa pelo acesso à renda em uma república democrática capitalista como o Brasil.

Esses 3% de mulheres negras em posição de liderança também revelam que precisamos agir rápido e cobrar para que a inclusão seja mais do que discurso: precisamos que ela seja uma prática corporativa com impacto real na nossa sociedade e um compromisso que se transforme em ação. Vale destacar que inclusão é um direito; e incluir não pode mais ser uma escolha e, sim, um compromisso.

Entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU estão a ODS 5 em prol da Igualdade de Gênero e a ODS 10 pela Igualdade Racial no Mercado de Trabalho. Hoje, o Fórum Econômico Mundial estima que a igualdade de gênero só será atingida daqui a mais de 135 anos. É muito tempo para quem já esperou tanto. É preciso agir hoje. As empresas precisam urgentemente criar espaços que pensem não apenas em diversidade, mas em real inclusão e equidade.

Isso quer dizer que a criação de vagas afro centradas para mulheres, por exemplo, é um ato político que precisa vir associado a uma contratação que supere a análise da formação profissional e acadêmica, e desenvolvam um olhar que seja capaz de identificar experiências de vida que geram habilidades importantes para a empresa. Qual foi a rica trajetória que trouxe essa pessoa até aqui?

Assim, as ações pontuais para aumentar a diversidade dentro das empresas precisam se tornar elementos da cultura organizacional de forma estratégica. A implementação de processos de recrutamento inclusivos, programas de tutoria, capacitação e grupos de afinidade, bem como a medição de representatividade, realização de pesquisas e criação de metas mensuráveis na organização são práticas que garantem a efetividade de ações a longo prazo.

As empresas também precisam estar atentas para viabilizar o desenvolvimento das profissionais contratadas para que elas tenham oportunidades iguais de crescimento, acesso a plano de carreira e salários justos. Para ser uma empresa que faz a diferença na vida, no mundo e é notada pelos seus esforços em ESG, é primordial a valorização das pessoas e a criação de ambientes saudáveis de trabalho.

Abrir espaço no mercado para mulheres negras é o primeiro passo e não deve ser visto como uma cortesia. O aumento da diversidade dentro das empresas, para além de justiça social, é benéfico para o desempenho dos negócios.

Muitas vezes, as empresas não sabem por onde começar a implementar ações de impacto ou se estão no caminho correto. Para isso,  diversas ferramentas de mensuração podem apontar validar práticas. A que usamos para a Certificação B é o B Impact Assessment (BIA), que pode ser acessada de forma gratuita por qualquer empresa que queira começar a mensurar esses e outros aspectos ligados a questões de ESG.

O Sistema B Brasil, justamente na data simbólica Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, lançou a iniciativa Julho das Pretas B, que consiste em mapear e conectar mulheres negras (pretas e pardas) que fazem parte de Empresas B no Brasil. A visão para um futuro próximo é criar uma rede de troca, um espaço seguro de escuta e compartilhamento de experiências no mercado de trabalho, além da estruturação de parcerias para dar acesso a capacitações, mentorias e orientações profissionais de forma ampla e abrangente. Por outro lado, a iniciativa também vai colaborar para que empresas saibam como proporcionar o desenvolvimento de mulheres negras, oferecendo propostas efetivas de transformação.

Esses esforços da rede têm como base a visão de que uma sociedade mais inclusiva e equitativa não deixa ninguém para trás. Nossa atuação investiga e impulsiona transformações no mercado de trabalho para garantir o direito das mulheres negras ao desenvolvimento profissional e, assim, fazer com que ocupem cada vez mais cargos de liderança.

Acreditamos na interdependência. Um futuro melhor só é possível com a inclusão de todas e todos, por meio de uma construção coletiva. Trocar experiências e se inspirar em boas práticas é o primeiro passo para que possamos evoluir como sociedade. Vamos juntos agir agora para que esse futuro se torne presente!

*Rodrigo Santini, Diretor Executivo, e Priscilla Arantes, Gerente de Comunicação, do Sistema B Brasil assinam a coluna desse mês.

Em 25 de julho de 1992 aconteceu o primeiro encontro de mulheres da América Latina e do Caribe, na República Dominicana, que fortaleceu uma rede para denunciar o racismo e visibilizar a luta por direitos das mulheres dessas regiões. No Brasil, a data passou a ser também uma homenagem a um dos principais símbolos de luta das mulheres negras: "Rainha Tereza", que  liderou a resistência do povo negro à frente do Quilombo de Quariterê durante o século XVIII  no Mato Grosso e, em 2014, ganhou o Dia Nacional de Tereza de Benguela. Mais do que um lembrete para honrar e respeitar a vida das mulheres negras, é uma data para trazer também reflexões sobre a presença, representatividade e oportunidades no mercado de trabalho.

Embora a pauta deva ser trabalhada em caráter de urgência e estar na agenda o ano inteiro, a data é ponto de partidapara que a gente reflita sobre a desigualdade racial e estrutural do país e novas rotas para transformar este cenário. Com base no Estatuto da Igualdade Racial, Lei nº 12.288, que completou 12 anos em 20 de julho, - e é fruto de movimentos de base que se colocaram na linha de frente de uma luta social -, é um direito da população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, bem como o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

Mas, "na prática, a teoria é outra". Sabemos que as esferas pública e privada têm a responsabilidade de eliminar obstáculos históricos socioculturais e institucionais que impedem a representação da diversidade étnica para promover a participação da população negra, em condição de igualdade de oportunidade, na vida econômica, social, política e cultural.

Porém, o estatuto reconhece a assimetria social que acentua a distância entre mulheres negras e os demais segmentos sociais. Fato que é bem representado pelo levantamento realizado em 2022 pela consultoria Gestão Kairós, especializada em diversidade, que revelou que entre 900 lideranças entrevistadas (nível de gerência para cima) apenas 3% são mulheres negras.

Diante desse cenário, destacamos que o setor privado tem um papel chave para promover inclusão e equidade, uma vez que a participação das pessoas na sociedade passa pelo acesso à renda em uma república democrática capitalista como o Brasil.

Esses 3% de mulheres negras em posição de liderança também revelam que precisamos agir rápido e cobrar para que a inclusão seja mais do que discurso: precisamos que ela seja uma prática corporativa com impacto real na nossa sociedade e um compromisso que se transforme em ação. Vale destacar que inclusão é um direito; e incluir não pode mais ser uma escolha e, sim, um compromisso.

Entre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU estão a ODS 5 em prol da Igualdade de Gênero e a ODS 10 pela Igualdade Racial no Mercado de Trabalho. Hoje, o Fórum Econômico Mundial estima que a igualdade de gênero só será atingida daqui a mais de 135 anos. É muito tempo para quem já esperou tanto. É preciso agir hoje. As empresas precisam urgentemente criar espaços que pensem não apenas em diversidade, mas em real inclusão e equidade.

Isso quer dizer que a criação de vagas afro centradas para mulheres, por exemplo, é um ato político que precisa vir associado a uma contratação que supere a análise da formação profissional e acadêmica, e desenvolvam um olhar que seja capaz de identificar experiências de vida que geram habilidades importantes para a empresa. Qual foi a rica trajetória que trouxe essa pessoa até aqui?

Assim, as ações pontuais para aumentar a diversidade dentro das empresas precisam se tornar elementos da cultura organizacional de forma estratégica. A implementação de processos de recrutamento inclusivos, programas de tutoria, capacitação e grupos de afinidade, bem como a medição de representatividade, realização de pesquisas e criação de metas mensuráveis na organização são práticas que garantem a efetividade de ações a longo prazo.

As empresas também precisam estar atentas para viabilizar o desenvolvimento das profissionais contratadas para que elas tenham oportunidades iguais de crescimento, acesso a plano de carreira e salários justos. Para ser uma empresa que faz a diferença na vida, no mundo e é notada pelos seus esforços em ESG, é primordial a valorização das pessoas e a criação de ambientes saudáveis de trabalho.

Abrir espaço no mercado para mulheres negras é o primeiro passo e não deve ser visto como uma cortesia. O aumento da diversidade dentro das empresas, para além de justiça social, é benéfico para o desempenho dos negócios.

Muitas vezes, as empresas não sabem por onde começar a implementar ações de impacto ou se estão no caminho correto. Para isso,  diversas ferramentas de mensuração podem apontar validar práticas. A que usamos para a Certificação B é o B Impact Assessment (BIA), que pode ser acessada de forma gratuita por qualquer empresa que queira começar a mensurar esses e outros aspectos ligados a questões de ESG.

O Sistema B Brasil, justamente na data simbólica Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, lançou a iniciativa Julho das Pretas B, que consiste em mapear e conectar mulheres negras (pretas e pardas) que fazem parte de Empresas B no Brasil. A visão para um futuro próximo é criar uma rede de troca, um espaço seguro de escuta e compartilhamento de experiências no mercado de trabalho, além da estruturação de parcerias para dar acesso a capacitações, mentorias e orientações profissionais de forma ampla e abrangente. Por outro lado, a iniciativa também vai colaborar para que empresas saibam como proporcionar o desenvolvimento de mulheres negras, oferecendo propostas efetivas de transformação.

Esses esforços da rede têm como base a visão de que uma sociedade mais inclusiva e equitativa não deixa ninguém para trás. Nossa atuação investiga e impulsiona transformações no mercado de trabalho para garantir o direito das mulheres negras ao desenvolvimento profissional e, assim, fazer com que ocupem cada vez mais cargos de liderança.

Acreditamos na interdependência. Um futuro melhor só é possível com a inclusão de todas e todos, por meio de uma construção coletiva. Trocar experiências e se inspirar em boas práticas é o primeiro passo para que possamos evoluir como sociedade. Vamos juntos agir agora para que esse futuro se torne presente!

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