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Trump e a reedição da vertente isolacionista

Apenas o avanço da candidatura de Donald Trump já é suficiente para produzir uma reação em cadeia nos principais atores políticos internacionais. Não apenas pelo risco, ainda que remoto, de sua vitória, mas também pelo fortalecimento das teses isolacionistas no debate político norte-americano. Trump, na mesma linha de outros políticos da história recente do país, […]

DONALD TRUMP: candidato acredita que governos anteriores pagaram um preço acima do necessário para a construção e manutenção da ordem política e econômica mundial / Jeff J. Mitchell / Getty Images
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Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2016 às 10h34.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h28.

Apenas o avanço da candidatura de Donald Trump já é suficiente para produzir uma reação em cadeia nos principais atores políticos internacionais. Não apenas pelo risco, ainda que remoto, de sua vitória, mas também pelo fortalecimento das teses isolacionistas no debate político norte-americano.

Trump, na mesma linha de outros políticos da história recente do país, trabalha com o axioma “os Estados Unidos primeiro” para formular suas estratégias de política externa. Ele parte do argumento que os governos anteriores pagaram um preço acima do necessário para a construção e manutenção da ordem política e econômica mundial e, portanto, defende que os EUA retirem parte do apoio hoje dado à OTAN, ONU, OMC e outros arranjos multilaterais. No campo nuclear, por exemplo, sugeriu que Japão e Coreia do Sul se preparassem para assumir a proteção de possíveis ameaças norte-coreanas, russas e chinesas. Para Trump, o apoio dos EUA está condicionado a contrapartidas claras.

São três as vertentes principais de política externa nos EUA. Em um primeiro grupo, os “falcões” defendem que os EUA devem usar seu poder, incluindo o militar, para formatar a ordem internacional de acordo com seus interesses e para corrigir desvios de atores políticos menores. Esta visão combina um forte unilateralismo com um multilateralismo seletivo. De outro lado, existem aqueles que revertem essa equação, focando nas soluções multilaterais e coordenadas, e sendo bastante seletivo nas ações unilaterais. Em diferentes graus, para os dois grupos os EUA deixaram de ser uma potência hegemônica mundial. Além disso, argumentam que se os EUA não forem proativos, se engajando em temas internacionais, mais cedo ou mais tarde os problemas globais não resolvidos irão cobrar seu preço, que será muito mais alto se tivesse sido evitado ou atenuado.

Os argumentos de Trump seguem um terceiro caminho ao recuperar uma visão isolacionista do tema. Ou seja, os EUA optariam por não se envolver em temas internacionais que não digam diretamente a seu respeito. Antes dele, George W. Bush se elegeu com visão semelhante, mas os atentados de 11 de setembro obrigaram sua administração a dar uma guinada de 180º pouco depois de sua posse.

Trump resgata a retórica de colocar no campo internacional a culpa pelas mazelas sofridas por parte das classes média e baixa de seu país. Ora são as concessões excessivas que os EUA fazem na OMC, ora são os custos do engajamento militar, ou ainda os imigrantes mexicanos que roubam os empregos de cidadãos norte-americanos e turistas, e imigrantes muçulmanos que causam atentados em território nacional. Para quase todos os problemas existe uma causa internacional. É simples de explicar e, mais importante, coloca o inimigo longe do eleitorado.

A opção pelo isolacionismo já colocou os EUA em risco mais de uma vez e, com ele, parte do mundo ocidental. A ausência do país na Liga das Nações, sua negação em participar de arranjos financeiros e monetários nos anos 20 e 30, assim como sua não participação na 2ª Guerra Mundial até o ataque a Pearl Harbor geraram custos altíssimos. Como é a maior potência política, militar e econômica do mundo, toda grande crise internacional atinge diretamente os interesses dos EUA, suas empresas e seus cidadãos.

Apesar do enorme impacto que crises internacionais podem ter na arena doméstica, Trump argumenta que o gradual fechamento do país para o mundo é mais benéfico aos norte-americanos do que uma política de engajamento internacional. Ao defender o isolacionismo, o candidato republicano se apoia nos deserdados da globalização e não em atores externos. Aqui pode existir uma certa semelhança entre esse eleitorado e os votantes pela saída do Reino Unido da União Europeia.

Não é fácil sustentar em plano século XXI, era da globalização digital e do boom da internet, que uma estratégia isolacionista por parte da maior potência do mundo – embora não mais hegemônica – seja a mais interessante ao país. Por essa e outras questões, arrisco dizer que as motivações de Trump para defender essas ideias estejam, possivelmente, mais na arena eleitoral do que na do campo internacional.

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Apenas o avanço da candidatura de Donald Trump já é suficiente para produzir uma reação em cadeia nos principais atores políticos internacionais. Não apenas pelo risco, ainda que remoto, de sua vitória, mas também pelo fortalecimento das teses isolacionistas no debate político norte-americano.

Trump, na mesma linha de outros políticos da história recente do país, trabalha com o axioma “os Estados Unidos primeiro” para formular suas estratégias de política externa. Ele parte do argumento que os governos anteriores pagaram um preço acima do necessário para a construção e manutenção da ordem política e econômica mundial e, portanto, defende que os EUA retirem parte do apoio hoje dado à OTAN, ONU, OMC e outros arranjos multilaterais. No campo nuclear, por exemplo, sugeriu que Japão e Coreia do Sul se preparassem para assumir a proteção de possíveis ameaças norte-coreanas, russas e chinesas. Para Trump, o apoio dos EUA está condicionado a contrapartidas claras.

São três as vertentes principais de política externa nos EUA. Em um primeiro grupo, os “falcões” defendem que os EUA devem usar seu poder, incluindo o militar, para formatar a ordem internacional de acordo com seus interesses e para corrigir desvios de atores políticos menores. Esta visão combina um forte unilateralismo com um multilateralismo seletivo. De outro lado, existem aqueles que revertem essa equação, focando nas soluções multilaterais e coordenadas, e sendo bastante seletivo nas ações unilaterais. Em diferentes graus, para os dois grupos os EUA deixaram de ser uma potência hegemônica mundial. Além disso, argumentam que se os EUA não forem proativos, se engajando em temas internacionais, mais cedo ou mais tarde os problemas globais não resolvidos irão cobrar seu preço, que será muito mais alto se tivesse sido evitado ou atenuado.

Os argumentos de Trump seguem um terceiro caminho ao recuperar uma visão isolacionista do tema. Ou seja, os EUA optariam por não se envolver em temas internacionais que não digam diretamente a seu respeito. Antes dele, George W. Bush se elegeu com visão semelhante, mas os atentados de 11 de setembro obrigaram sua administração a dar uma guinada de 180º pouco depois de sua posse.

Trump resgata a retórica de colocar no campo internacional a culpa pelas mazelas sofridas por parte das classes média e baixa de seu país. Ora são as concessões excessivas que os EUA fazem na OMC, ora são os custos do engajamento militar, ou ainda os imigrantes mexicanos que roubam os empregos de cidadãos norte-americanos e turistas, e imigrantes muçulmanos que causam atentados em território nacional. Para quase todos os problemas existe uma causa internacional. É simples de explicar e, mais importante, coloca o inimigo longe do eleitorado.

A opção pelo isolacionismo já colocou os EUA em risco mais de uma vez e, com ele, parte do mundo ocidental. A ausência do país na Liga das Nações, sua negação em participar de arranjos financeiros e monetários nos anos 20 e 30, assim como sua não participação na 2ª Guerra Mundial até o ataque a Pearl Harbor geraram custos altíssimos. Como é a maior potência política, militar e econômica do mundo, toda grande crise internacional atinge diretamente os interesses dos EUA, suas empresas e seus cidadãos.

Apesar do enorme impacto que crises internacionais podem ter na arena doméstica, Trump argumenta que o gradual fechamento do país para o mundo é mais benéfico aos norte-americanos do que uma política de engajamento internacional. Ao defender o isolacionismo, o candidato republicano se apoia nos deserdados da globalização e não em atores externos. Aqui pode existir uma certa semelhança entre esse eleitorado e os votantes pela saída do Reino Unido da União Europeia.

Não é fácil sustentar em plano século XXI, era da globalização digital e do boom da internet, que uma estratégia isolacionista por parte da maior potência do mundo – embora não mais hegemônica – seja a mais interessante ao país. Por essa e outras questões, arrisco dizer que as motivações de Trump para defender essas ideias estejam, possivelmente, mais na arena eleitoral do que na do campo internacional.

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