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Temer entre o choque e o gradualismo para sair da crise

Aprovado o impeachment no Senado, uma questão-chave que se impõe é a discussão de qual será a agenda econômica do governo Temer. Duas alternativas parecem estar na sua mesa, cada uma com um grupo de apoiadores por trás. A primeira envolveria um choque fiscal e de reformas, enquanto a outra, mais gradualista no ajuste, seria […]

HENRIQUE MEIRELLES: a pressão em 2003 era ainda maior / Aline Lata / Veja (Aline Lata/VEJA)
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Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2016 às 13h04.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h11.

Aprovado o impeachment no Senado, uma questão-chave que se impõe é a discussão de qual será a agenda econômica do governo Temer. Duas alternativas parecem estar na sua mesa, cada uma com um grupo de apoiadores por trás. A primeira envolveria um choque fiscal e de reformas, enquanto a outra, mais gradualista no ajuste, seria uma aposta na retomada do crescimento econômico com base nos setores de infraestrutura e externo — abertura comercial e para investimentos estrangeiros.

A alternativa mais radical parte do pressuposto de que, se não fizer os ajustes necessários na inauguração de seu governo, Temer não terá condições de fazê-lo depois, dado que o custo político para aprovar tais medidas será muito alto; e a lua de mel de Temer, bem curta. A estratégia seria aproveitar a comoção nacional momentânea. Passado o momento, deverão mostrar seu peso as demandas por recursos da ampla base parlamentar que Temer está montando e o fato de termos eleições municipais neste ano. Portanto, o cenário é pouco propício a cortes nos gastos públicos.

Porém, sem um ajuste rápido e drástico, Michel Temer corre o risco de não conseguir tirar o país da crise até 2018 e, com isso, gradualmente perder o apoio inicial que deve receber. Seguindo essa linha, o choque de credibilidade poderia gerar um efeito positivo nos atores econômicos domésticos e estrangeiros e, com isso, os investimentos seriam retomados mais rapidamente.

A opção gradualista, por sua vez, visa consolidar um apoio político robusto antes de implementar uma agenda de reforma e de ajustes estruturais. A aposta, nesse caso, é que Temer seria capaz de manter uma liderança política mesmo com uma sequência de medidas impopulares, que deverão ser adotadas nos próximos meses. Ao estilo PMDB, cada medida terá de ser negociada à exaustão com o intuito de preservar a unidade e o apoio político do Congresso.

Reformas mais polêmicas, como a das leis trabalhistas ou o fim da obrigatoriedade de gastos mínimos em educação e na saúde, não devem figurar de forma explícita na agenda gradualista, pois significariam abrir uma disputa frontal com grupos políticos bem organizados. Essas questões, se forem abordadas, serão mais na linha de ajustes marginais do que de revisão do padrão vigente.

Nessa estratégia, o prioritário é garantir maioria política, mesmo que as reformas sejam postergadas ou reduzidas, fazendo o ajuste fiscal mínimo necessário, sem a adoção de medidas drásticas. Isso garantiria às forças políticas governistas chegar às eleições sem o ônus de ter abonado reformas impopulares, ao mesmo tempo que daria à economia um pouco mais de fôlego para recuperar pelo menos parte de seu dinamismo. Portanto, manter o governo com base sólida é mais importante do que um rearranjo rápido da economia.

A escolha de nomes para a área econômica se consolidando em torno de Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn sinaliza que Temer está apostando mais na tese gradualista. A alternativa mais radical estaria mais afeita a nomes na linha de Armínio Fraga, que não prosperaram. De viés pragmático, a dupla Meirelles e Goldfajn deve priorizar a recuperação do ambiente pró-negócios a reformas estruturais. Ações como recuperar o tripé estruturado ao longo do governo Fernando Henrique e incrementar o poder e a autonomia das agências reguladoras certamente estarão entre suas prioridades.

As duas alternativas indicam quão crítico é para Temer definir de início sua estratégia política, pois não terá tempo para mudá-la caso sua escolha venha a se mostrar equivocada. Seu governo de apenas dois anos, sendo o último deles tomado pela corrida presidencial, terá pouca margem para erro.

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Aprovado o impeachment no Senado, uma questão-chave que se impõe é a discussão de qual será a agenda econômica do governo Temer. Duas alternativas parecem estar na sua mesa, cada uma com um grupo de apoiadores por trás. A primeira envolveria um choque fiscal e de reformas, enquanto a outra, mais gradualista no ajuste, seria uma aposta na retomada do crescimento econômico com base nos setores de infraestrutura e externo — abertura comercial e para investimentos estrangeiros.

A alternativa mais radical parte do pressuposto de que, se não fizer os ajustes necessários na inauguração de seu governo, Temer não terá condições de fazê-lo depois, dado que o custo político para aprovar tais medidas será muito alto; e a lua de mel de Temer, bem curta. A estratégia seria aproveitar a comoção nacional momentânea. Passado o momento, deverão mostrar seu peso as demandas por recursos da ampla base parlamentar que Temer está montando e o fato de termos eleições municipais neste ano. Portanto, o cenário é pouco propício a cortes nos gastos públicos.

Porém, sem um ajuste rápido e drástico, Michel Temer corre o risco de não conseguir tirar o país da crise até 2018 e, com isso, gradualmente perder o apoio inicial que deve receber. Seguindo essa linha, o choque de credibilidade poderia gerar um efeito positivo nos atores econômicos domésticos e estrangeiros e, com isso, os investimentos seriam retomados mais rapidamente.

A opção gradualista, por sua vez, visa consolidar um apoio político robusto antes de implementar uma agenda de reforma e de ajustes estruturais. A aposta, nesse caso, é que Temer seria capaz de manter uma liderança política mesmo com uma sequência de medidas impopulares, que deverão ser adotadas nos próximos meses. Ao estilo PMDB, cada medida terá de ser negociada à exaustão com o intuito de preservar a unidade e o apoio político do Congresso.

Reformas mais polêmicas, como a das leis trabalhistas ou o fim da obrigatoriedade de gastos mínimos em educação e na saúde, não devem figurar de forma explícita na agenda gradualista, pois significariam abrir uma disputa frontal com grupos políticos bem organizados. Essas questões, se forem abordadas, serão mais na linha de ajustes marginais do que de revisão do padrão vigente.

Nessa estratégia, o prioritário é garantir maioria política, mesmo que as reformas sejam postergadas ou reduzidas, fazendo o ajuste fiscal mínimo necessário, sem a adoção de medidas drásticas. Isso garantiria às forças políticas governistas chegar às eleições sem o ônus de ter abonado reformas impopulares, ao mesmo tempo que daria à economia um pouco mais de fôlego para recuperar pelo menos parte de seu dinamismo. Portanto, manter o governo com base sólida é mais importante do que um rearranjo rápido da economia.

A escolha de nomes para a área econômica se consolidando em torno de Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn sinaliza que Temer está apostando mais na tese gradualista. A alternativa mais radical estaria mais afeita a nomes na linha de Armínio Fraga, que não prosperaram. De viés pragmático, a dupla Meirelles e Goldfajn deve priorizar a recuperação do ambiente pró-negócios a reformas estruturais. Ações como recuperar o tripé estruturado ao longo do governo Fernando Henrique e incrementar o poder e a autonomia das agências reguladoras certamente estarão entre suas prioridades.

As duas alternativas indicam quão crítico é para Temer definir de início sua estratégia política, pois não terá tempo para mudá-la caso sua escolha venha a se mostrar equivocada. Seu governo de apenas dois anos, sendo o último deles tomado pela corrida presidencial, terá pouca margem para erro.

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