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Polarização do debate é reflexo de uma quebra de consensos

Há em comum entre a emergência do chavismo na Venezuela, a disputa entre Crivella e Freixo pela prefeitura do Rio de Janeiro e as últimas eleições norte-americanas a perda de aderência de propostas centristas com as bases eleitorais. Esse fenômeno corresponde a uma quebra ou um forte questionamento de consensos básicos, já que parte expressiva […]

CRIVELA E FREIXO: ambientes de maior escassez e de insegurança acirram as tensões latentes na sociedade / Yasuyoshi Chiba/AFP/ VEJA
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Da Redação

Publicado em 18 de novembro de 2016 às 10h31.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h25.

Há em comum entre a emergência do chavismo na Venezuela, a disputa entre Crivella e Freixo pela prefeitura do Rio de Janeiro e as últimas eleições norte-americanas a perda de aderência de propostas centristas com as bases eleitorais. Esse fenômeno corresponde a uma quebra ou um forte questionamento de consensos básicos, já que parte expressiva da opinião pública migra para posições mais extremadas. Como resultado, quem perde, perde muito, enquanto quem ganha, fica com o peso de representar apenas parte dos eleitores.

Alguns fatores costumam estar associados a esse tipo de situação, como o clima de insegurança gerado tanto por violência urbana quanto ataques terroristas, que tende a destruir consensos e aumentar o nível de intolerância social. Crises econômicas também favorecem a polarização. Ao se somar os dois fatores cria-se uma situação explosiva.

Ambientes de maior escassez e de insegurança acirram as tensões latentes na sociedade, tanto em núcleos menores como em uma sociedade. Não é a natureza humana que se altera, mas as margens para concessões e tolerância que são reduzidas. Os acuados ou que correm risco de perder seu status se mobilizam mais para reagir. Nesses contextos, as lideranças políticas e partidárias tradicionais – vistas como incapazes de dar respostas suficientemente inovadoras para os problemas que se tornaram crônicos – são varridas para fora das disputas políticas.

Nos EUA, a soma de apoiadores de Donald Trump e do autoproclamado socialista Bernie Sanders superou o apoio dado à Hillary e aos pré-candidatos tradicionais republicanos. Ou seja, era evidente que os eleitores norte-americanos rechaçavam os políticos tradicionais e de centro, estando dispostos a arriscar nomes novos. Algo semelhante ocorreu na Venezuela quando o COPEI e o AD, partidos mais tradicionais, (COPEI e AD) perdem sua credibilidade perante a população. Guardadas as devidas proporções, é também o que explica a vitória de um polêmico pastor para a prefeitura do Rio Janeiro, depois de levar um combativo socialista para o segundo turno das eleições. Nos três casos, os representes centristas, que, por definição, apostam na combinação ponderada de plataformas e propostas, passaram a ser minorias sem condição de disputar cargos majoritários.

As instâncias legislativas são menos vulneráveis às polarizações. Sua essência plural tende a contrapor os impulsos monocráticos do poder executivo. Por outro, a tradição democrática indica que após uma disputa majoritária polarizada, o vencedor busca construir alianças que o levem a conquistar pelo menos parte do centro político para poder formar maiorias e governar. Dessa forma, existem incentivos para que se atenue, depois, a polarização do período eleitoral.

Não foi, entretanto, o que ocorreu no caso de Hugo Chávez, que apostou no aumento permanente da polarização entre grupos políticos e sociais, em particular após a tentativa de golpe sofrida após sua eleição. Sua estratégia foi fazer com que as instituições do estado também passassem a fazer o jogo da polarização política: ou eram controladas pelo executivo ou eram um reduto da oposição. Essa dinâmica acabou por destruir as instituições do país e, consequentemente, o país. Trump e Crivella não devem seguir a mesma dinâmica. Mesmo com estilo agressivo e polêmico, imediatamente após suas vitórias eleitorais, ambos se apressaram para divulgar discursos mais conciliatórios.

Tal qual Hugo Chávez, o apoio de Crivella e Trump não vem das elites, mas da população menos educada e de menor renda. O clima de insegurança e de crise política torna ainda mais crítico o tempo de resposta para atender as promessas feitas durante a campanha. Seus eleitores votaram neles justamente por não acreditarem que os candidatos do establishment teriam condições de dar esse retorno. Será um jogo entre o DNA desses novos líderes e as necessidades institucionais do jogo político.

sennesficha

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Há em comum entre a emergência do chavismo na Venezuela, a disputa entre Crivella e Freixo pela prefeitura do Rio de Janeiro e as últimas eleições norte-americanas a perda de aderência de propostas centristas com as bases eleitorais. Esse fenômeno corresponde a uma quebra ou um forte questionamento de consensos básicos, já que parte expressiva da opinião pública migra para posições mais extremadas. Como resultado, quem perde, perde muito, enquanto quem ganha, fica com o peso de representar apenas parte dos eleitores.

Alguns fatores costumam estar associados a esse tipo de situação, como o clima de insegurança gerado tanto por violência urbana quanto ataques terroristas, que tende a destruir consensos e aumentar o nível de intolerância social. Crises econômicas também favorecem a polarização. Ao se somar os dois fatores cria-se uma situação explosiva.

Ambientes de maior escassez e de insegurança acirram as tensões latentes na sociedade, tanto em núcleos menores como em uma sociedade. Não é a natureza humana que se altera, mas as margens para concessões e tolerância que são reduzidas. Os acuados ou que correm risco de perder seu status se mobilizam mais para reagir. Nesses contextos, as lideranças políticas e partidárias tradicionais – vistas como incapazes de dar respostas suficientemente inovadoras para os problemas que se tornaram crônicos – são varridas para fora das disputas políticas.

Nos EUA, a soma de apoiadores de Donald Trump e do autoproclamado socialista Bernie Sanders superou o apoio dado à Hillary e aos pré-candidatos tradicionais republicanos. Ou seja, era evidente que os eleitores norte-americanos rechaçavam os políticos tradicionais e de centro, estando dispostos a arriscar nomes novos. Algo semelhante ocorreu na Venezuela quando o COPEI e o AD, partidos mais tradicionais, (COPEI e AD) perdem sua credibilidade perante a população. Guardadas as devidas proporções, é também o que explica a vitória de um polêmico pastor para a prefeitura do Rio Janeiro, depois de levar um combativo socialista para o segundo turno das eleições. Nos três casos, os representes centristas, que, por definição, apostam na combinação ponderada de plataformas e propostas, passaram a ser minorias sem condição de disputar cargos majoritários.

As instâncias legislativas são menos vulneráveis às polarizações. Sua essência plural tende a contrapor os impulsos monocráticos do poder executivo. Por outro, a tradição democrática indica que após uma disputa majoritária polarizada, o vencedor busca construir alianças que o levem a conquistar pelo menos parte do centro político para poder formar maiorias e governar. Dessa forma, existem incentivos para que se atenue, depois, a polarização do período eleitoral.

Não foi, entretanto, o que ocorreu no caso de Hugo Chávez, que apostou no aumento permanente da polarização entre grupos políticos e sociais, em particular após a tentativa de golpe sofrida após sua eleição. Sua estratégia foi fazer com que as instituições do estado também passassem a fazer o jogo da polarização política: ou eram controladas pelo executivo ou eram um reduto da oposição. Essa dinâmica acabou por destruir as instituições do país e, consequentemente, o país. Trump e Crivella não devem seguir a mesma dinâmica. Mesmo com estilo agressivo e polêmico, imediatamente após suas vitórias eleitorais, ambos se apressaram para divulgar discursos mais conciliatórios.

Tal qual Hugo Chávez, o apoio de Crivella e Trump não vem das elites, mas da população menos educada e de menor renda. O clima de insegurança e de crise política torna ainda mais crítico o tempo de resposta para atender as promessas feitas durante a campanha. Seus eleitores votaram neles justamente por não acreditarem que os candidatos do establishment teriam condições de dar esse retorno. Será um jogo entre o DNA desses novos líderes e as necessidades institucionais do jogo político.

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