O peso da travessia na ponte para o futuro
Michel Temer lidera um governo tampão entre o impeachment e as eleições 2018. Esperar muito mais de seu mandato é inocência. Tirando o PT e PC do B e incluindo os tucanos e democratas, ele segue com a mesma base partidária de Dilma Rousseff. Temer e Meirelles estão fazendo o que Rousseff e Levy tentaram […]
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2016 às 18h54.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h10.
Michel Temer lidera um governo tampão entre o impeachment e as eleições 2018. Esperar muito mais de seu mandato é inocência. Tirando o PT e PC do B e incluindo os tucanos e democratas, ele segue com a mesma base partidária de Dilma Rousseff.
Temer e Meirelles estão fazendo o que Rousseff e Levy tentaram fazer após as eleições de 2014, mas não conseguiram. São dois os desafios centrais: manter o mínimo de governabilidade em meio à Lava Jato e recuperar minimamente as condições de equilíbrio econômico do país. FHC disse que o atual governo é uma ponte, ou melhor, uma pinguela. Ele tem razão e, como toda pinguela, é instável, balança e não consegue aguentar muito peso.
Após o mérito de formar um time sólido de macroeconomia e uma base parlamentar ampla – que lhe rederam um retorno positivo inicial, o novo presidente começa a perder parte do fôlego. Está lutando contra o tempo e não está vencendo.
Superada a catarse do impeachment, a manutenção de apoio político no Congresso torna-se cada vez mais complicada. A maior parte dos parlamentares sofre pressão de dois lados: de suas bases, que demandam ganhos para atenuar os efeitos da crise; e de Temer, para que sejam aprovadas medidas amargas, como o ajuste fiscal e a limitação dos gastos públicos. Seus mandatos dependem de uma resposta equilibrada dentre esse intervalo de pressão.
Até o momento, migrar para a oposição não é a melhor opção para a maioria deles. Todavia, ao permanecer na base, as exigências para votar com o governo devem aumentar cada vez mais. Esse é o jogo clássico da barganha que mantém a maior parte dos congressistas como governistas desde que consigam repassar para suas bases ganhos pontuais. Desembarques totais do governo muito antes das eleições ocorrem apenas se o desgaste do governo for inadministrável ou se ele mantiver um parlamentar por tempo demais na geladeira.
A crise aguda dos estados surge como mais uma variável no cálculo sobre ficar ou deixar a base do governo. A demora da retomada econômica do país está comprimindo ao extremo a capacidade fiscal dos estados. O colapso agora não é apenas iminente para os que estavam com as contas totalmente desorganizadas, mas também para aqueles em condições medianamente sob controle.
Nesse cenário, o desgaste do governo com as bancadas regionais pode ser drástico e em escala. Além de desviar a atenção e os esforços do governo para apagar incêndios estaduais, pode retardar a aprovação de medidas básicas que sustentariam o humor positivo do mercado gerado pela montagem da equipe econômica. Para isso é crucial a aprovação da PEC do teto até o final do ano e a indicação de capacidade de aprovação de algum ajuste no campo previdenciário. A apreensão com a demora nessas aprovações está corroendo a expectativa positiva dos agentes econômicos dos últimos dois meses. As decisões de compras e investimentos estão sendo postergadas e, consequentemente, a economia não retoma um ritmo de crescimento.
Temer tem ainda o desafio da aprovação popular. Aqueles já atingidos pelos cortes de gastos públicos ou que correm o risco de serem atingido, como usuário do sistema público de saúde no Rio de Janeiro ou funcionários públicos no Rio Grande do Sul, pesam cada vez mais sobre a frágil ponte do governo Temer. Mas não são só esses grupos. No meio à insatisfação geral, grupos da classe média voltam a se mobilizar e, com eles, levam a mídia.
Nesse clima, o governo perde gradativamente sua capacidade de manter uma agenda estratégica de travessia até 2018. Quem ganha são os grupos corporativos, mais beneficiados pela situação atual, que aproveitam a oportunidade para misturar suas agendas de manutenção de privilégios à maré de críticas mais gerais.
Como se não bastassem as tempestades domésticas, a pinguela de Temer também enfrenta ventos laterais vindo do cenário internacional. O cataclismo Trump que se seguiu ao Brexit agora se soma aos movimentos políticos pouco usuais na França e Itália, gerando uma expectativa negativa para o futuro próximo. Mudanças nas principais políticas no campo da segurança internacional e nos arranjos comerciais têm gerado um ambiente de apreensão que não favorece o Brasil.
O governo ainda tem munição para usar. Apesar da queda acentuada de seu apoio parlamentar de 81% para 70%, no último mês, uma margem de negociação importante está garantida. A ponte pode não ter cedido até agora, mas está gerando sinais que o peso da travessia pode ser maior do que o planejado inicialmente.
Michel Temer lidera um governo tampão entre o impeachment e as eleições 2018. Esperar muito mais de seu mandato é inocência. Tirando o PT e PC do B e incluindo os tucanos e democratas, ele segue com a mesma base partidária de Dilma Rousseff.
Temer e Meirelles estão fazendo o que Rousseff e Levy tentaram fazer após as eleições de 2014, mas não conseguiram. São dois os desafios centrais: manter o mínimo de governabilidade em meio à Lava Jato e recuperar minimamente as condições de equilíbrio econômico do país. FHC disse que o atual governo é uma ponte, ou melhor, uma pinguela. Ele tem razão e, como toda pinguela, é instável, balança e não consegue aguentar muito peso.
Após o mérito de formar um time sólido de macroeconomia e uma base parlamentar ampla – que lhe rederam um retorno positivo inicial, o novo presidente começa a perder parte do fôlego. Está lutando contra o tempo e não está vencendo.
Superada a catarse do impeachment, a manutenção de apoio político no Congresso torna-se cada vez mais complicada. A maior parte dos parlamentares sofre pressão de dois lados: de suas bases, que demandam ganhos para atenuar os efeitos da crise; e de Temer, para que sejam aprovadas medidas amargas, como o ajuste fiscal e a limitação dos gastos públicos. Seus mandatos dependem de uma resposta equilibrada dentre esse intervalo de pressão.
Até o momento, migrar para a oposição não é a melhor opção para a maioria deles. Todavia, ao permanecer na base, as exigências para votar com o governo devem aumentar cada vez mais. Esse é o jogo clássico da barganha que mantém a maior parte dos congressistas como governistas desde que consigam repassar para suas bases ganhos pontuais. Desembarques totais do governo muito antes das eleições ocorrem apenas se o desgaste do governo for inadministrável ou se ele mantiver um parlamentar por tempo demais na geladeira.
A crise aguda dos estados surge como mais uma variável no cálculo sobre ficar ou deixar a base do governo. A demora da retomada econômica do país está comprimindo ao extremo a capacidade fiscal dos estados. O colapso agora não é apenas iminente para os que estavam com as contas totalmente desorganizadas, mas também para aqueles em condições medianamente sob controle.
Nesse cenário, o desgaste do governo com as bancadas regionais pode ser drástico e em escala. Além de desviar a atenção e os esforços do governo para apagar incêndios estaduais, pode retardar a aprovação de medidas básicas que sustentariam o humor positivo do mercado gerado pela montagem da equipe econômica. Para isso é crucial a aprovação da PEC do teto até o final do ano e a indicação de capacidade de aprovação de algum ajuste no campo previdenciário. A apreensão com a demora nessas aprovações está corroendo a expectativa positiva dos agentes econômicos dos últimos dois meses. As decisões de compras e investimentos estão sendo postergadas e, consequentemente, a economia não retoma um ritmo de crescimento.
Temer tem ainda o desafio da aprovação popular. Aqueles já atingidos pelos cortes de gastos públicos ou que correm o risco de serem atingido, como usuário do sistema público de saúde no Rio de Janeiro ou funcionários públicos no Rio Grande do Sul, pesam cada vez mais sobre a frágil ponte do governo Temer. Mas não são só esses grupos. No meio à insatisfação geral, grupos da classe média voltam a se mobilizar e, com eles, levam a mídia.
Nesse clima, o governo perde gradativamente sua capacidade de manter uma agenda estratégica de travessia até 2018. Quem ganha são os grupos corporativos, mais beneficiados pela situação atual, que aproveitam a oportunidade para misturar suas agendas de manutenção de privilégios à maré de críticas mais gerais.
Como se não bastassem as tempestades domésticas, a pinguela de Temer também enfrenta ventos laterais vindo do cenário internacional. O cataclismo Trump que se seguiu ao Brexit agora se soma aos movimentos políticos pouco usuais na França e Itália, gerando uma expectativa negativa para o futuro próximo. Mudanças nas principais políticas no campo da segurança internacional e nos arranjos comerciais têm gerado um ambiente de apreensão que não favorece o Brasil.
O governo ainda tem munição para usar. Apesar da queda acentuada de seu apoio parlamentar de 81% para 70%, no último mês, uma margem de negociação importante está garantida. A ponte pode não ter cedido até agora, mas está gerando sinais que o peso da travessia pode ser maior do que o planejado inicialmente.