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Maior vantagem de Temer é a falta alternativas viáveis

Temer, além de congressista altamente experiente – possivelmente o mais experiente hoje no quadro político ao lado de Renan –, é também procurador aposentado. Ele conhece os dois lados que hoje são críticos para mantê-lo na presidência: o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente já anunciou que irá fazer uma estratégia bifocal. […]

MICHEL TEMER: torna-se natural que os líderes partidários, os ministros do STF e a elite econômica prefiram postergar a remoção do presidente do cargo / Ueslei Marcelino/ Reuters
MICHEL TEMER: torna-se natural que os líderes partidários, os ministros do STF e a elite econômica prefiram postergar a remoção do presidente do cargo / Ueslei Marcelino/ Reuters
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Ricardo Sennes

Publicado em 29 de maio de 2017 às, 12h53.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h09.

Temer, além de congressista altamente experiente – possivelmente o mais experiente hoje no quadro político ao lado de Renan –, é também procurador aposentado. Ele conhece os dois lados que hoje são críticos para mantê-lo na presidência: o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). O presidente já anunciou que irá fazer uma estratégia bifocal. De um lado, enfrentará a Procuradoria Geral da República e, de outro, reforçará suas ações para manter uma base mínima de apoio parlamentar.

Conta a seu favor a dificuldade de se desenhar uma saída viável politicamente em um Congresso altamente fragmentado e fisiológico, e acuado pela Lava-Jato tanto quanto o presidente. Sem um cenário claro e confiável à frente, torna-se natural que os líderes partidários, os ministros do STF e a elite econômica prefiram postergar a remoção de Temer do cargo. Para que o impeachment de Rousseff avançasse, foi preciso muita articulação política, além da divulgação de planos como Ponte para o Futuro e de outras garantias. Para remover Temer, espera-se um esforço na mesma linha.

Até o momento, não há incentivos para Temer renunciar. Diferentemente de ex-presidentes como Sarney e FHC que se mantiveram na arena política com certa influência, as circunstâncias de afastamento de Temer sinalizam que seu fim será mais parecido com o de Cunha, ainda que ele resista.

Parte importante do seu futuro político está no núcleo duro de seu governo formado pelo PSDB-PMDB-DEM e PSD. Vários sinais já indicam que esse núcleo está rachado. Uma parte propõe resistir, aguentar o forte desgaste político e apostar em uma recuperação econômica mínima para enfrentar as eleições de 2018. Nesse grupo está a maioria do PMDB, o PSD e parte do DEM e do PSDB. Porém, cresce a pressão de importantes líderes do PSDB pelo rompimento da aliança.

O objetivo central para o PSDB é se manter como o partido que mais detém cargos estratégicos em um hipotético próximo governo. Tarefa que não será fácil se quiserem buscar um nome que agrade a maioria do Congresso.

Também não está claro qual será o papel reservado para a cúpula do PMDB e os aliados principais de Temer como Romero Jucá, Eliseu Padilha e Moreira Franco. Como seria difícil achar uma posição de honra para eles em um cenário sem Temer, eles tendem a resistir à sua derrubada.

No campo jurídico, o atual presidente ainda tem bons aliados ou, pelo menos, conta com a simpatia daqueles que julgam que o papel do STF é de “poder moderador”. Num caso ou no outro, o governo Temer é visto como um mal necessário para garantir uma transição tranquila do país pós impeachment até as próximas eleições. Os vídeos gravados por Joesley Batista, porém, trouxeram tantos elementos constrangedores ao presidente que é impossível que não tenham abalado as convicções e a simpatia que Temer dispunha nos tribunais superiores. Se a maioria nesses tribunais já não virou contrária ao presidente, certamente migraram para uma posição mais crítica e cuidadosa.

Esse cenário de algum apoio político parlamentar e nos tribunais superiores poderá se alterar rapidamente caso haja uma mobilização maciça e persistente da sociedade. Eventos como os ocorridos no último dia 24 aumentam os custos de partidos como o PSDB de apoiarem o atual governo. O mesmo vale para TSE e o STF. Além disso, Temer não se comunica e nem tem bons aliados na sociedade civil. Começam a aflorar então os custos da falta de laços com ONGs, formadores de opinião, sindicatos e militantes das mídias sociais, etc.

O presidente já perdeu parte de sua base de apoio, com a saída do PSB. Mas em seu cálculo, se a maioria não for mais viável, passa a ser essencial garantir um apoio mínimo para bloquear os ataques mais eminentes, tais quais tentativas de avançar com impeachment. Como Temer não é Rousseff, ele ainda tem recursos políticos e condições significativas para garantir uma tropa de choque robusta no Congresso.

Podemos esperar nos próximos dias mais declarações bombásticas, além de manifestações de rua tanto da esquerda como da direita. De qualquer forma, o desfecho de Temer será definido, de fato, nos próximos trinta a quarenta dias. Só então será possível ver os efeitos de sua estratégia de enfrentamento com PGR e tribunais superiores, a reação da base e do PSDB, assim como das ruas.