Falta ao Brasil uma estratégia para o jogo global da internet
A hiperconectividade e as regras que prevalecem na internet estão revolucionando a vida das pessoas nos mais diversos campos, como economia, política, relações humanas, segurança nacional e privacidade. Na sua fase mais recente, a revolução se apresenta como internet das coisas (IOT), ou seja, a conexão de aparelhos eletrônicos, máquinas ou meios de transportes desenvolvidos […]
Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2016 às 14h44.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h45.
A hiperconectividade e as regras que prevalecem na internet estão revolucionando a vida das pessoas nos mais diversos campos, como economia, política, relações humanas, segurança nacional e privacidade. Na sua fase mais recente, a revolução se apresenta como internet das coisas (IOT), ou seja, a conexão de aparelhos eletrônicos, máquinas ou meios de transportes desenvolvidos a partir da nanotecnologia e de sensores wireless. O fenômeno avança rápido no Brasil, aliás mais do que em outros países com mesmo nível de renda.
O mercado brasileiro de tecnologia de informação e comunicação (TIC) é dos maiores do mundo, perdendo apenas para alguns países desenvolvidos. Segundo dados da Brasscom, o faturamento do setor foi de 260 bilhões de reais em 2014. Ao mesmo tempo em que é um mercado vulnerável a ataques de hackers, de espionagem industrial e, como vimos há pouco tempo atrás, também de espionagem política, o Brasil oferece uma enorme aderência a novos aplicativos, ao uso das redes sociais, aos games e ao e-commerce.
No âmbito governamental, o país também merece destaque pelo marco civil da internet, aprovado em 2014 e em processo de regulamentação, e pelo seu modelo de governança, que inclui um Comitê Gestor da Internet (CGI) eficaz e multirepresentativo. Nas palavras de Rodrigo de la Parra, vice-presidente da ICANN, – entidade ligada ao governo dos EUA que é nó global e gestor dos endereços da internet – nosso modelo de governança e regulação do mercado está entre os mais avançados do mundo.
O Brasil é um grande mercado e seguirá sendo, mas não necessariamente um grande player. Atualmente, o setor de TIC é tratado como tema doméstico e de regulação de mercado. O principal desafio para o país se inserir no jogo global da internet é definir estratégias voltadas para as dimensões econômica e de geração de valor, de segurança, de soft power e geopolítica.
Há espaço na América do Sul para a implementação de estratégias agressivas, certamente mais do que teríamos no campo multilateral. Uma parceria com os EUA ou com a União Europeia também pode ser uma opção interessante. Isso porque já somos um hub natural para a integração física do Cone Sul, mas é necessário traduzir isso para o campo da banda larga e da internet. Nossos modelos avançados de governança e de regulação podem ser exportados para outros países ou ser usados como referência para acordos internacionais. Uma segunda frente seria o fomento de algumas linhas de negócios com base na internet, nas quais o Brasil já dispõe de vantagem competitiva. O potencial de negócio pode ser encontrado em setores como, por exemplo, business services, audiovisual, financeiro e de pagamento, games e serviços médicos.
Há, portanto, uma janela de oportunidade para o Brasil ocupar um espaço ativo nesse campo, compatível com os recursos, capacidade e diferenciais de que dispõe, aproveitando, ainda, que poucos países estão se aventurando por essas águas. Mas essa janela não ficará aberta para sempre.
Relatório recente do Atlantic Council sobre o futuro da internet, e dos riscos a ela estão associados, indicou como um dos cenários possíveis para a internet a reversão do grau de liberdade e conectividade internacional hoje existente. Nele, os riscos e custos da operação livre e desregulada da internet criariam incentivos e motivações para que vários países passassem a restringir a conexão de seu país com os demais, visando, dessa forma, controlar os fluxos de informação e reduzir sua vulnerabilidade do país a ataques cibernéticos.
Com o jogo em formação, e com avanços mais rápidos em algumas áreas do que em outras, o Brasil está relativamente bem posicionado até o momento. Fica então faltando definir suas ambições a longo prazo, para além de um país de usuários e consumidores.
A hiperconectividade e as regras que prevalecem na internet estão revolucionando a vida das pessoas nos mais diversos campos, como economia, política, relações humanas, segurança nacional e privacidade. Na sua fase mais recente, a revolução se apresenta como internet das coisas (IOT), ou seja, a conexão de aparelhos eletrônicos, máquinas ou meios de transportes desenvolvidos a partir da nanotecnologia e de sensores wireless. O fenômeno avança rápido no Brasil, aliás mais do que em outros países com mesmo nível de renda.
O mercado brasileiro de tecnologia de informação e comunicação (TIC) é dos maiores do mundo, perdendo apenas para alguns países desenvolvidos. Segundo dados da Brasscom, o faturamento do setor foi de 260 bilhões de reais em 2014. Ao mesmo tempo em que é um mercado vulnerável a ataques de hackers, de espionagem industrial e, como vimos há pouco tempo atrás, também de espionagem política, o Brasil oferece uma enorme aderência a novos aplicativos, ao uso das redes sociais, aos games e ao e-commerce.
No âmbito governamental, o país também merece destaque pelo marco civil da internet, aprovado em 2014 e em processo de regulamentação, e pelo seu modelo de governança, que inclui um Comitê Gestor da Internet (CGI) eficaz e multirepresentativo. Nas palavras de Rodrigo de la Parra, vice-presidente da ICANN, – entidade ligada ao governo dos EUA que é nó global e gestor dos endereços da internet – nosso modelo de governança e regulação do mercado está entre os mais avançados do mundo.
O Brasil é um grande mercado e seguirá sendo, mas não necessariamente um grande player. Atualmente, o setor de TIC é tratado como tema doméstico e de regulação de mercado. O principal desafio para o país se inserir no jogo global da internet é definir estratégias voltadas para as dimensões econômica e de geração de valor, de segurança, de soft power e geopolítica.
Há espaço na América do Sul para a implementação de estratégias agressivas, certamente mais do que teríamos no campo multilateral. Uma parceria com os EUA ou com a União Europeia também pode ser uma opção interessante. Isso porque já somos um hub natural para a integração física do Cone Sul, mas é necessário traduzir isso para o campo da banda larga e da internet. Nossos modelos avançados de governança e de regulação podem ser exportados para outros países ou ser usados como referência para acordos internacionais. Uma segunda frente seria o fomento de algumas linhas de negócios com base na internet, nas quais o Brasil já dispõe de vantagem competitiva. O potencial de negócio pode ser encontrado em setores como, por exemplo, business services, audiovisual, financeiro e de pagamento, games e serviços médicos.
Há, portanto, uma janela de oportunidade para o Brasil ocupar um espaço ativo nesse campo, compatível com os recursos, capacidade e diferenciais de que dispõe, aproveitando, ainda, que poucos países estão se aventurando por essas águas. Mas essa janela não ficará aberta para sempre.
Relatório recente do Atlantic Council sobre o futuro da internet, e dos riscos a ela estão associados, indicou como um dos cenários possíveis para a internet a reversão do grau de liberdade e conectividade internacional hoje existente. Nele, os riscos e custos da operação livre e desregulada da internet criariam incentivos e motivações para que vários países passassem a restringir a conexão de seu país com os demais, visando, dessa forma, controlar os fluxos de informação e reduzir sua vulnerabilidade do país a ataques cibernéticos.
Com o jogo em formação, e com avanços mais rápidos em algumas áreas do que em outras, o Brasil está relativamente bem posicionado até o momento. Fica então faltando definir suas ambições a longo prazo, para além de um país de usuários e consumidores.