Equação política de Temer sob a sombra de 2018
O maior desafio de Michel Temer não é ter apenas dois anos de mandato, mas lidar com as movimentações políticas decorrentes das eleições de 2018, que podem em pouco tempo – mais precisamente, até o final de sua “lua de mel” – corroer seu governo. Como é natural, existem vários candidatos potenciais em sua equipe, […]
Publicado em 18 de maio de 2016 às, 12h11.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h05.
O maior desafio de Michel Temer não é ter apenas dois anos de mandato, mas lidar com as movimentações políticas decorrentes das eleições de 2018, que podem em pouco tempo – mais precisamente, até o final de sua “lua de mel” – corroer seu governo. Como é natural, existem vários candidatos potenciais em sua equipe, além dos cálculos políticos dos partidos que o apoiam, e esses atores definirão seu apoio de acordo com suas opções políticas para 2018.
Quatro variáveis compõem de maneira mais direta a equação política que Temer terá que administrar até 2018. A primeira é ele mesmo. Apesar de Temer ter bons motivos para não querer ser candidato em 2018, todo presidente é um candidato potencial para reeleição. Sempre existe espaço para argumentar que o chamado patriótico ou, de forma menos dramática, o chamado do partido e de suas bases, o obrigam a assumir uma nova candidatura.
De qualquer forma, Temer também é uma variável fundamental do jogo político 2018, pois tanto com alta ou baixa popularidade ele será um problema para seus aliados. No primeiro cenário, ele terá condições de ser candidato ou de escolher um com razoável nível de discricionariedade. Mais do que isso, poderá influenciar de maneira decisiva a montagem das chapas tanto no âmbito federal como nas eleições estaduais.
Caso a popularidade de seu governo despenque, o que não é algo difícil de ocorrer, Temer passará a ser um fardo pesado para quem quiser apostar em um projeto de poder para 2018. Tanto os potenciais candidatos de seu governo quanto os partidos hoje aliados tenderão a se afastar. Por isso, o presidente interino terá que administrar com muito cuidado os sinais que passará aos seus apoiadores de hoje para não se transformar no principal fator de instabilidade política de seu próprio governo.
A segunda variável relevante no jogo político a ser administrado por Temer é seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Homem forte do atual governo, já indicou várias vezes sua intenção de seguir carreira política no poder executivo. Após ser eleito deputado pelo PSDB em 2002, assumiu o Banco Central do governo Lula da Silva por oito anos, transferiu sua filiação para o PMDB, e cogitou ser candidato à vice-presidente na chapa de Dilma. Também chegou a cogitar candidatura ao governo de Goiás, seu estado natal.
Meirelles já demonstrou que circula muito bem entre petistas, tucanos, peemedebistas, e outros partidos, além de ser muito bem avaliado e relacionado com a mídia e com o setor privado. Seu ponto fraco é ter a imagem arraigada de banqueiro e ter poucas ligações orgânicas com a sociedade civil organizada, tais como associações de classe, instituições civis, grupos políticos regionais, etc. Mas sua principal hipótese política é lograr uma recuperação econômica rápida e que permita a retomada em tempo recorde da geração de empregos, e sustentar políticas sociais e regionais. Nesse cenário, e contando com a não candidatura de Temer, Meirelles pode se tornar figura chave para 2018. Tem a seu favor o fato de não ser um político profissional, não ter tido qualquer citação na Operação Lava Jato — coisa rara entre os caciques do PMDB —, e ter tido uma longa experiência como gestor privado e público. Ambição não faltará para assumir uma candidatura, mas dependerá fundamentalmente de sua performance na área econômica.
Correndo por fora, mas também disputando a candidatura pelo PMDB, temos José Serra, que até o momento não deu sinais de ter alterado um milímetro sua obsessão de ser presidente da República. Tal qual no governo Fernando Henrique, não foi chamado para área central do governo. Na gestão tucana foi alocado na Saúde e, agora, no Itamaraty. Serra é o tipo de aliado que se quer por perto, mas não tão perto, dado o potencial de estrago que pode provocar e o custo cotidiano que impõe aos demais quando não concorda com um argumento ou com uma discussão. Todavia, sua capacidade de trabalho e de implementar políticas é notória e reconhecida inclusive por seus adversários.
Não será surpresa se Serra conseguir, mesmo no enfraquecido Itamaraty, se destacar como ministro. Apesar do tempo e recurso limitados, tentará produzir resultados palpáveis para o país. Seu foco será, sem dúvida, a agenda econômica. Os demais temas serão tratados quando estritamente necessários ou se puderem gerar frutos políticos no embate com as concepções prevalecentes nos governos Lula e Dilma. Ou seja, fará do Itamaraty uma trincheira para armar sua possível candidatura. Diferentemente de Meirelles, Serra aceitaria ser candidato mesmo se a situação econômica do país não decolar e, portanto, a imagem do governo não for claramente positiva. Serra poderá ser a melhor opção para Temer nesse contexto, pois não hesitará em ir para o sacrifício, considerando que será sua última chance de ser candidato.
A quarta variável nesse xadrez político é o PSDB. O partido, que tem polarizado com o PT nas eleições presidenciais, embora não nas eleições legislativas, tem seus próprios cálculos para 2018. Tanto Aécio como Alckmin estão articulando suas candidaturas. O apoio ao governo Temer foi definido não sem disputas internas importantes. Isso porque, do ponto de vista estritamente eleitoral, não é evidente que apoiar a atual gestão seja uma boa opção. Se Temer se fortalece, pode ser um problema para o PSDB e se for muito mal, pode arrastar o PSDB junto. Alckmin chegou a propor que o partido apoiasse Temer apenas no parlamento, mas sem cargos, exatamente para evitar esse risco, mas perdeu nas discussões internas.
O apoio do PSDB ao governo é importante, embora não seja vital. Temer precisa evitar que o PSDB migre para a oposição e inicie um ataque às suas políticas. Somando aos já esperados movimentos de oposição e bloqueio do PT, PC do B e outros partidos mais à esquerda, uma artilharia do PSDB deve enfraquecer o presidente interino.
A sombra das eleições de 2018 atingirá Temer em pouco tempo, tornando-se a principal referência para o seu sucesso ou fracasso político após o período de “lua de mel”.