Entre bicheiros e evangélicos: as tendências do cenário político
As eleições municipais estão sendo o primeiro termômetro das tendências políticas pós ciclo Lula-Dilma e pós Lava Jato. Elas irão combinar aspectos mais estruturais da sociedade e do sistema político no país, com outros mais conjunturais. Entre os fatores estruturais, a mudanças no perfil socioeconômico do país é possivelmente o mais relevante. Os avanços sociais […]
Da Redação
Publicado em 21 de setembro de 2016 às 19h19.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h37.
As eleições municipais estão sendo o primeiro termômetro das tendências políticas pós ciclo Lula-Dilma e pós Lava Jato. Elas irão combinar aspectos mais estruturais da sociedade e do sistema político no país, com outros mais conjunturais.
Entre os fatores estruturais, a mudanças no perfil socioeconômico do país é possivelmente o mais relevante. Os avanços sociais dos últimos 20 anos permitiram que a sociedade brasileira se tornasse mais urbanizada (cerca de 90%) e mais educada, além de garantir uma maior expectativa de vida e um núcleo familiar de aproximadamente dois filhos por casal. Do ponto de vista econômico, houve um crescimento vertiginosos da classe média. Quase 50% da população brasileira tem renda entre 4 e 10 salários mínimos.
Essa faixa populacional busca sair dos serviços públicos de educação e saúde, mesmo que não seja evidente que as opções do setor privado sejam melhores. Como a população evangélica, que hoje representa 23% dos brasileiros, está concentrada na classe média e nas classes mais baixas, esse movimento como um todo tende a gerar um eleitor com perfil mais conservador, que demanda simultaneamente mais ordem e, como se vê nas pesquisas, menos impostos.
Somando-se essa tendência demográfica com o final do ciclo político liderado por Lula e Dilma, é de se esperar um recuo significativo dos grupos mais à esquerda nas próximas eleições. A crise do PT arrasta com ela bandeiras tradicionais da esquerda, tanto no campo social como econômico. Aumenta a crítica à eficiência e justeza das políticas sociais mais robustas, das cotas para minorias, assim como das políticas mais voltadas à intervenção econômica do estado, das políticas industriais ativas e do papel de fomento das estatais. Por essas razões, a perda de espaço da esquerda e centro esquerda deslocará a mediana do espectro político brasileiro para a centro-direita.
Também associado aos fatores socioeconômicos apontados acima, mas independente do deslocamento para a direita do jogo político, passou a ocorrer no Brasil um certo distanciamento de jovens e grupos urbanos da política tradicional. Apesar de manterem uma intensa comunicação sobre temas públicos nas redes sociais, não se identificam com as referências políticas tradicionais de esquerda ou de direita. Sua participação se dá por meio de ONGs e de manifestações de rua. Esse movimento não é exclusivo do Brasil, sendo as eleições presidenciais dos Estados Unidos mais um exemplo. Entretanto, aqui está sendo reforçado pela sequência de escândalos de corrupção na área pública em geral e na política.
Essas tendências devem se refletir nas eleições municipais e, ainda de forma mais forte, nas eleições presidenciais de 2018. Pensando nesse ano, devemos observar uma maior pulverização partidária no âmbito local. Isso porque a ausência de um partido capaz de capturar o refluxo do ciclo político liderado pelo PT provocará a divisão do espaço político entre vários partidos. Os grandes partidos, incluindo o PT, seguirão no jogo eleitoral, mas devem representar um conjunto menor do que foram nos anos anteriores.
A emergência de alguns novos agrupamentos partidários, aproveitando o vácuo criado pelos partidos tradicionais, como a Rede ou o partido-movimento Raiz também deve afetar as próximas eleições, assim como partidos ligados a grupos religiosos, temáticos ou mesmo regionais. O PRB, por exemplo, com fortíssimas relações com a Igreja Universal, está liderando as pesquisas de intenções de voto em São Paulo e no Rio de Janeiro. Além disso, o PSD, partido que busca ocupar espaço de centro direita e conservador, deve consolidar seu crescimento dos últimos anos.
Em contrapartida, o afastamento dos jovens da política tradicional e a pulverização partidária devem contribuir para o aumento das abstenções e de votos brancos e nulos. Pesquisas indicam que de 15% esse valor deve subir para 30% nas eleições municipais.
Por último, o fim do financiamento de campanhas por empresas pode gerar um efeito indesejável: o crescimento da presença de políticos ligados ao crime organizado. Em um cenário de descrença em relação à política e de fragmentação, grupos como o PCC, em São Paulo, ou de bicheiros, no Rio de Janeiro, podem ganhar espaço nas Câmaras Municipais, aumentando a influência das redes criminosas nos esquemas eleitorais e de representação.
A combinação desses fatores e mudanças deve influenciar de forma significativa os resultados das eleições municipais desse ano, além de indicar o que pode ocorrer em 2018 nas eleições estaduais e presidenciais.
As eleições municipais estão sendo o primeiro termômetro das tendências políticas pós ciclo Lula-Dilma e pós Lava Jato. Elas irão combinar aspectos mais estruturais da sociedade e do sistema político no país, com outros mais conjunturais.
Entre os fatores estruturais, a mudanças no perfil socioeconômico do país é possivelmente o mais relevante. Os avanços sociais dos últimos 20 anos permitiram que a sociedade brasileira se tornasse mais urbanizada (cerca de 90%) e mais educada, além de garantir uma maior expectativa de vida e um núcleo familiar de aproximadamente dois filhos por casal. Do ponto de vista econômico, houve um crescimento vertiginosos da classe média. Quase 50% da população brasileira tem renda entre 4 e 10 salários mínimos.
Essa faixa populacional busca sair dos serviços públicos de educação e saúde, mesmo que não seja evidente que as opções do setor privado sejam melhores. Como a população evangélica, que hoje representa 23% dos brasileiros, está concentrada na classe média e nas classes mais baixas, esse movimento como um todo tende a gerar um eleitor com perfil mais conservador, que demanda simultaneamente mais ordem e, como se vê nas pesquisas, menos impostos.
Somando-se essa tendência demográfica com o final do ciclo político liderado por Lula e Dilma, é de se esperar um recuo significativo dos grupos mais à esquerda nas próximas eleições. A crise do PT arrasta com ela bandeiras tradicionais da esquerda, tanto no campo social como econômico. Aumenta a crítica à eficiência e justeza das políticas sociais mais robustas, das cotas para minorias, assim como das políticas mais voltadas à intervenção econômica do estado, das políticas industriais ativas e do papel de fomento das estatais. Por essas razões, a perda de espaço da esquerda e centro esquerda deslocará a mediana do espectro político brasileiro para a centro-direita.
Também associado aos fatores socioeconômicos apontados acima, mas independente do deslocamento para a direita do jogo político, passou a ocorrer no Brasil um certo distanciamento de jovens e grupos urbanos da política tradicional. Apesar de manterem uma intensa comunicação sobre temas públicos nas redes sociais, não se identificam com as referências políticas tradicionais de esquerda ou de direita. Sua participação se dá por meio de ONGs e de manifestações de rua. Esse movimento não é exclusivo do Brasil, sendo as eleições presidenciais dos Estados Unidos mais um exemplo. Entretanto, aqui está sendo reforçado pela sequência de escândalos de corrupção na área pública em geral e na política.
Essas tendências devem se refletir nas eleições municipais e, ainda de forma mais forte, nas eleições presidenciais de 2018. Pensando nesse ano, devemos observar uma maior pulverização partidária no âmbito local. Isso porque a ausência de um partido capaz de capturar o refluxo do ciclo político liderado pelo PT provocará a divisão do espaço político entre vários partidos. Os grandes partidos, incluindo o PT, seguirão no jogo eleitoral, mas devem representar um conjunto menor do que foram nos anos anteriores.
A emergência de alguns novos agrupamentos partidários, aproveitando o vácuo criado pelos partidos tradicionais, como a Rede ou o partido-movimento Raiz também deve afetar as próximas eleições, assim como partidos ligados a grupos religiosos, temáticos ou mesmo regionais. O PRB, por exemplo, com fortíssimas relações com a Igreja Universal, está liderando as pesquisas de intenções de voto em São Paulo e no Rio de Janeiro. Além disso, o PSD, partido que busca ocupar espaço de centro direita e conservador, deve consolidar seu crescimento dos últimos anos.
Em contrapartida, o afastamento dos jovens da política tradicional e a pulverização partidária devem contribuir para o aumento das abstenções e de votos brancos e nulos. Pesquisas indicam que de 15% esse valor deve subir para 30% nas eleições municipais.
Por último, o fim do financiamento de campanhas por empresas pode gerar um efeito indesejável: o crescimento da presença de políticos ligados ao crime organizado. Em um cenário de descrença em relação à política e de fragmentação, grupos como o PCC, em São Paulo, ou de bicheiros, no Rio de Janeiro, podem ganhar espaço nas Câmaras Municipais, aumentando a influência das redes criminosas nos esquemas eleitorais e de representação.
A combinação desses fatores e mudanças deve influenciar de forma significativa os resultados das eleições municipais desse ano, além de indicar o que pode ocorrer em 2018 nas eleições estaduais e presidenciais.