Calibrando as expectativas de crescimento
Após as enormes incertezas que se acumularam a partir da reeleição de Dilma em 2014 e uma crise aguda de 2015 para cá, volta com toda a força a discussão sobre o potencial de crescimento acelerado do país. Tais expectativas atiçam os mercados financeiros, os investidores estrangeiros, alguns empresários e a mídia nacional e internacional. […]
Da Redação
Publicado em 28 de julho de 2016 às 18h20.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h34.
Após as enormes incertezas que se acumularam a partir da reeleição de Dilma em 2014 e uma crise aguda de 2015 para cá, volta com toda a força a discussão sobre o potencial de crescimento acelerado do país. Tais expectativas atiçam os mercados financeiros, os investidores estrangeiros, alguns empresários e a mídia nacional e internacional. Metaforicamente, algumas revistas arriscam, inclusive, a colocar novamente o Cristo Redentor decolando.
É inegável que o Brasil dispõe de condições muito favoráveis para ser um gigante econômico. Mas é igualmente verdade que ainda existem entraves enormes ao crescimento sustentável que apenas no longo prazo poderão ser equacionados. Ou seja, mesmo no cenário positivo, é pouco provável que o Brasil cresça acima de uma taxa média entre 2 e 3% ao ano na próxima década.
Os principais entraves do país têm a ver com concepções sobre a dinâmica social e econômica dos anos 50 e 60. Interesses corporativos tornaram-se um peso econômico e uma fonte de permanentes injustiças sociais. As corporações sindicais, empresariais, de funcionários públicos, além de boa parte do chamado “Sistema S”, entre outras tantas áreas no país, possuem grande capacidade de se apropriar de parcelas desproporcionais da renda nacional e de influenciar políticas públicas. Algumas delas, modernas ao nascerem, após 60 anos se consolidaram como focos de privilégios capturando áreas do estado, cada qual a sua maneira. Como reformas que alterem essa dinâmica são uma agenda difícil e de longo prazo, a ineficiência e o peso dessas políticas seguirão puxando a média de crescimento do país para baixo.
Mas médias em geral escondem grandes variações. No Brasil não deverá ser diferente. Existem vários setores e segmentos que indicam potencial de crescimento nos próximos anos muito acima da média nacional. Outros, no entanto, devem seguir tendência contrária, puxando a média para baixo. Indo mais longe, alguns segmentos econômicos no país devem desaparecer nos próximos anos simplesmente por não serem mais competitivos e viáveis para um país com as condições sociais, trabalhistas, ambientais do Brasil.
No Brasil, há uma enorme dispersão de performance econômica que é esperada e que pode se esconder nas médias. O tamanho continental de nosso país, as grandes assimetrias regionais, e, principalmente, as robustas políticas industriais e comerciais das últimas décadas geraram uma miríade de segmentos com capacidades competitivas muito distintas.
Os segmentos que seguiam dependentes de mão-de-obra barata, baixa regulação técnica ou ambiental, ou alta proteção comercial estão inevitavelmente inviabilizados. Vários segmentos industriais, principalmente aqueles tradicionais, se encaixam nessa categoria e irão sofrer sobremaneira os custos de um ajuste e da redução dos incentivos e das proteções. Apenas as empresas melhor posicionadas em termos competitivos deverão prosperar.
Ao lado desses segmentos em decadência estrutural, vários outros navegam em tendência oposta, de rápido e vigoroso crescimento, o chamado “novo capitalismo brasileiro”. Liderados por uma nova geração de executivos, essas companhias em geral nasceram sem apoio de políticas industriais e comerciais e já têm na inovação e na familiaridade com mundo digital um claro diferencial. São empresas espalhadas em vários setores, inclusive o industrial, mas que se destacam no setor de serviços. No geral, estão ligadas às manchas de modernização da economia e da sociedade brasileira.
Mais importante que o setor de atuação é a forma de gerir os negócios. No agronegócio moderno, por exemplo, essas características também são visíveis. Segmentos como celulose, etanol, soja e carnes estão liderando a retomada econômica e devem seguir em ascensão. Como são commodities, seu parâmetro de competição é global por definição. Os resultados dos últimos anos indicam os avanços trazidos pela biotecnologia, mecanização, automação, além de standards técnicos e sanitários. Fortemente conectados com o mercado internacional, o desafio atual desse novo capitalismo é integrar suas atividades com os segmentos de marketing, logística e industrialização. Algumas empresas já caminham nesse sentido, mas o potencial dos setores ainda é subaproveitado.
Nesse momento de retomada de certa estabilidade política e dos níveis de confiança nos rumos da economia é prudente não perder de vista as tendências mais estruturais do país. Os excessos de confiança dos anos 2008-2012, assim como o excesso de pessimismo dos dois últimos anos, fizeram o país pagar um preço alto demais. O potencial de crescimento do Brasil é inegável. Mas não estão dadas as condições para nos tornarmos um tigre ou uma águia econômica.
Após as enormes incertezas que se acumularam a partir da reeleição de Dilma em 2014 e uma crise aguda de 2015 para cá, volta com toda a força a discussão sobre o potencial de crescimento acelerado do país. Tais expectativas atiçam os mercados financeiros, os investidores estrangeiros, alguns empresários e a mídia nacional e internacional. Metaforicamente, algumas revistas arriscam, inclusive, a colocar novamente o Cristo Redentor decolando.
É inegável que o Brasil dispõe de condições muito favoráveis para ser um gigante econômico. Mas é igualmente verdade que ainda existem entraves enormes ao crescimento sustentável que apenas no longo prazo poderão ser equacionados. Ou seja, mesmo no cenário positivo, é pouco provável que o Brasil cresça acima de uma taxa média entre 2 e 3% ao ano na próxima década.
Os principais entraves do país têm a ver com concepções sobre a dinâmica social e econômica dos anos 50 e 60. Interesses corporativos tornaram-se um peso econômico e uma fonte de permanentes injustiças sociais. As corporações sindicais, empresariais, de funcionários públicos, além de boa parte do chamado “Sistema S”, entre outras tantas áreas no país, possuem grande capacidade de se apropriar de parcelas desproporcionais da renda nacional e de influenciar políticas públicas. Algumas delas, modernas ao nascerem, após 60 anos se consolidaram como focos de privilégios capturando áreas do estado, cada qual a sua maneira. Como reformas que alterem essa dinâmica são uma agenda difícil e de longo prazo, a ineficiência e o peso dessas políticas seguirão puxando a média de crescimento do país para baixo.
Mas médias em geral escondem grandes variações. No Brasil não deverá ser diferente. Existem vários setores e segmentos que indicam potencial de crescimento nos próximos anos muito acima da média nacional. Outros, no entanto, devem seguir tendência contrária, puxando a média para baixo. Indo mais longe, alguns segmentos econômicos no país devem desaparecer nos próximos anos simplesmente por não serem mais competitivos e viáveis para um país com as condições sociais, trabalhistas, ambientais do Brasil.
No Brasil, há uma enorme dispersão de performance econômica que é esperada e que pode se esconder nas médias. O tamanho continental de nosso país, as grandes assimetrias regionais, e, principalmente, as robustas políticas industriais e comerciais das últimas décadas geraram uma miríade de segmentos com capacidades competitivas muito distintas.
Os segmentos que seguiam dependentes de mão-de-obra barata, baixa regulação técnica ou ambiental, ou alta proteção comercial estão inevitavelmente inviabilizados. Vários segmentos industriais, principalmente aqueles tradicionais, se encaixam nessa categoria e irão sofrer sobremaneira os custos de um ajuste e da redução dos incentivos e das proteções. Apenas as empresas melhor posicionadas em termos competitivos deverão prosperar.
Ao lado desses segmentos em decadência estrutural, vários outros navegam em tendência oposta, de rápido e vigoroso crescimento, o chamado “novo capitalismo brasileiro”. Liderados por uma nova geração de executivos, essas companhias em geral nasceram sem apoio de políticas industriais e comerciais e já têm na inovação e na familiaridade com mundo digital um claro diferencial. São empresas espalhadas em vários setores, inclusive o industrial, mas que se destacam no setor de serviços. No geral, estão ligadas às manchas de modernização da economia e da sociedade brasileira.
Mais importante que o setor de atuação é a forma de gerir os negócios. No agronegócio moderno, por exemplo, essas características também são visíveis. Segmentos como celulose, etanol, soja e carnes estão liderando a retomada econômica e devem seguir em ascensão. Como são commodities, seu parâmetro de competição é global por definição. Os resultados dos últimos anos indicam os avanços trazidos pela biotecnologia, mecanização, automação, além de standards técnicos e sanitários. Fortemente conectados com o mercado internacional, o desafio atual desse novo capitalismo é integrar suas atividades com os segmentos de marketing, logística e industrialização. Algumas empresas já caminham nesse sentido, mas o potencial dos setores ainda é subaproveitado.
Nesse momento de retomada de certa estabilidade política e dos níveis de confiança nos rumos da economia é prudente não perder de vista as tendências mais estruturais do país. Os excessos de confiança dos anos 2008-2012, assim como o excesso de pessimismo dos dois últimos anos, fizeram o país pagar um preço alto demais. O potencial de crescimento do Brasil é inegável. Mas não estão dadas as condições para nos tornarmos um tigre ou uma águia econômica.