As estratégias de Serra para uma guinada na política externa
Poucas áreas no governo provisório de Temer devem mudar tanto como a política externa. Ao final do ciclo Lula-Dilma, restaram poucos apoiadores da linha defendida por Lula-Amorim, fortemente criticada pela total ausência de linha estratégica nos últimos anos. José Serra, o novo chanceler, não assumiu a posição apenas para fazer ajustes de rota. Tudo indica […]
Da Redação
Publicado em 26 de maio de 2016 às 12h53.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h57.
Poucas áreas no governo provisório de Temer devem mudar tanto como a política externa. Ao final do ciclo Lula-Dilma, restaram poucos apoiadores da linha defendida por Lula-Amorim, fortemente criticada pela total ausência de linha estratégica nos últimos anos.
José Serra, o novo chanceler, não assumiu a posição apenas para fazer ajustes de rota. Tudo indica que fará dessa área um polo importante de debate político e econômico e, com isso, buscará seguir como ator de destaque na arena política doméstica. Aproveitará a pouca experiência do novo ministro do MDIC, Marcos Pereira, para assumir a dianteira nas discussões sobre políticas de fomento à competitividade e inserção internacional do país.
Entre os principais temas na agenda externa está a mudança do posicionamento internacional do Brasil, baseado no binômio potência emergente e alinhamento com países em desenvolvimento. O objetivo era aumentar o protagonismo brasileiro em temas globais por meio do estabelecimento de relações diretas com diversos países e regiões, mostrando-se como uma alternativa mais interessante do que as potências tradicionais. E, ao mesmo tempo, evitar o avanço em acordos mais vinculantes com Estados Unidos e Europa. Nos fóruns multilaterais, o mote era defender agendas mais alinhadas com os temas de desenvolvimento. Já no caso dos países da América Latina a tradução dessa agenda acabou recaindo numa aproximação exagerada com países com governos nacionalistas ou desenvolvimentistas.
Serra já anunciou mudanças importantes nessas orientações ao retomar uma agenda estratégica para o desenvolvimento do país, em contraste com a visão até então dominante de tratar essa dimensão como secundária ou subsidiária. Em relação aos governos Lula, a ruptura se dará na alteração da lógica Mercosul versus Aliança do Pacífico (esta formada por Chile, Peru, Colômbia e México) e na reaproximação pragmática com Estados Unidos e Europa.
A nova orientação terá consequências importantes em várias agendas específicas. Exemplo disso já foi visto nos pronunciamentos recentes em relação ao processo político na Venezuela. Nesse tema, o Brasil passa a adotar postura próxima à de Macri na Argentina, de forte crítica ao comportamento do presidente Maduro. Tão importante quanto esse ponto são as mudanças nas relações com outros países latino-americanos. Serra defende que não é interesse estratégico do Brasil ser líder apenas do bloco Mercosul, mas que o país deve recuperar a condição de líder da América do Sul, reaproximando-se de Colômbia, Peru, Chile e México e evitando que esses países sigam fortalecendo um bloco sem nossa participação. Para tanto, deverá repetir iniciativas semelhantes às adotadas na Argentina nos últimos dias, como a recuperação de uma agenda positiva no campo comercial, a criação de fóruns para avançar em temas convergentes específicos e outras ações dentro e fora do marco dos acordos formais.
Também são esperadas novidades em relação a temas com Estados Unidos e Europa. Longe de ser um defensor da abertura comercial unilateral, Serra deverá apostar em acordos mais ousados com os países desenvolvidos, tentando romper a inércia de baixa intensidade ora prevalecente. Uma dessas agendas é a retomada do acordo Mercosul-União Europeia. Empurrar esse acordo — emperrado há mais de dez anos — pode alterar o status do Mercosul e sinalizar que o país tem interesse estratégico em voltar ao jogo econômico internacional com grandes apostas.
Por fim, Serra deve avançar na aproximação com a OCDE, organização dos países desenvolvidos ocidentais e dos países em desenvolvimento com modelos abertos de mercado. Os acordos negociados e monitorados por ela vão muito além de acesso a mercados. O foco são temas profundos das relações econômicas internacionais, como padrões mínimos de financiamento e garantia às exportações, regras de compliance em concorrências internacionais, regras de investimentos externos diretos, acordos nas áreas de comércio de alta tecnologia, entre outros. O Brasil, que hoje tem a condição de país observador, já subscreve vários dos acordos e pode avançar nessa linha de forma seletiva, mas indicando novamente interesse em se aproximar dos padrões de comércio e investimentos internacionais praticados pelas principais potências econômicas.
É bastante possível que Serra utilize esses avanços na agenda internacional do país como bandeira para sua estratégia política doméstica. Esse é, certamente, um dos principais incentivos para ele liderar uma guinada na política externa do país.
Poucas áreas no governo provisório de Temer devem mudar tanto como a política externa. Ao final do ciclo Lula-Dilma, restaram poucos apoiadores da linha defendida por Lula-Amorim, fortemente criticada pela total ausência de linha estratégica nos últimos anos.
José Serra, o novo chanceler, não assumiu a posição apenas para fazer ajustes de rota. Tudo indica que fará dessa área um polo importante de debate político e econômico e, com isso, buscará seguir como ator de destaque na arena política doméstica. Aproveitará a pouca experiência do novo ministro do MDIC, Marcos Pereira, para assumir a dianteira nas discussões sobre políticas de fomento à competitividade e inserção internacional do país.
Entre os principais temas na agenda externa está a mudança do posicionamento internacional do Brasil, baseado no binômio potência emergente e alinhamento com países em desenvolvimento. O objetivo era aumentar o protagonismo brasileiro em temas globais por meio do estabelecimento de relações diretas com diversos países e regiões, mostrando-se como uma alternativa mais interessante do que as potências tradicionais. E, ao mesmo tempo, evitar o avanço em acordos mais vinculantes com Estados Unidos e Europa. Nos fóruns multilaterais, o mote era defender agendas mais alinhadas com os temas de desenvolvimento. Já no caso dos países da América Latina a tradução dessa agenda acabou recaindo numa aproximação exagerada com países com governos nacionalistas ou desenvolvimentistas.
Serra já anunciou mudanças importantes nessas orientações ao retomar uma agenda estratégica para o desenvolvimento do país, em contraste com a visão até então dominante de tratar essa dimensão como secundária ou subsidiária. Em relação aos governos Lula, a ruptura se dará na alteração da lógica Mercosul versus Aliança do Pacífico (esta formada por Chile, Peru, Colômbia e México) e na reaproximação pragmática com Estados Unidos e Europa.
A nova orientação terá consequências importantes em várias agendas específicas. Exemplo disso já foi visto nos pronunciamentos recentes em relação ao processo político na Venezuela. Nesse tema, o Brasil passa a adotar postura próxima à de Macri na Argentina, de forte crítica ao comportamento do presidente Maduro. Tão importante quanto esse ponto são as mudanças nas relações com outros países latino-americanos. Serra defende que não é interesse estratégico do Brasil ser líder apenas do bloco Mercosul, mas que o país deve recuperar a condição de líder da América do Sul, reaproximando-se de Colômbia, Peru, Chile e México e evitando que esses países sigam fortalecendo um bloco sem nossa participação. Para tanto, deverá repetir iniciativas semelhantes às adotadas na Argentina nos últimos dias, como a recuperação de uma agenda positiva no campo comercial, a criação de fóruns para avançar em temas convergentes específicos e outras ações dentro e fora do marco dos acordos formais.
Também são esperadas novidades em relação a temas com Estados Unidos e Europa. Longe de ser um defensor da abertura comercial unilateral, Serra deverá apostar em acordos mais ousados com os países desenvolvidos, tentando romper a inércia de baixa intensidade ora prevalecente. Uma dessas agendas é a retomada do acordo Mercosul-União Europeia. Empurrar esse acordo — emperrado há mais de dez anos — pode alterar o status do Mercosul e sinalizar que o país tem interesse estratégico em voltar ao jogo econômico internacional com grandes apostas.
Por fim, Serra deve avançar na aproximação com a OCDE, organização dos países desenvolvidos ocidentais e dos países em desenvolvimento com modelos abertos de mercado. Os acordos negociados e monitorados por ela vão muito além de acesso a mercados. O foco são temas profundos das relações econômicas internacionais, como padrões mínimos de financiamento e garantia às exportações, regras de compliance em concorrências internacionais, regras de investimentos externos diretos, acordos nas áreas de comércio de alta tecnologia, entre outros. O Brasil, que hoje tem a condição de país observador, já subscreve vários dos acordos e pode avançar nessa linha de forma seletiva, mas indicando novamente interesse em se aproximar dos padrões de comércio e investimentos internacionais praticados pelas principais potências econômicas.
É bastante possível que Serra utilize esses avanços na agenda internacional do país como bandeira para sua estratégia política doméstica. Esse é, certamente, um dos principais incentivos para ele liderar uma guinada na política externa do país.