A surpreendente normalidade democrática do Brasil
Ainda que seja correto afirmar que as eleições municipais têm lógicas próprias e que nem sempre refletem as tendências nacionais, elas podem trazer indicações importantes sobre o cenário macropolítico do país. No caso das últimas eleições, a principal característica foi a normalidade política do país. Ao contrário do que alguns analistas – e boa parte […]
Da Redação
Publicado em 10 de novembro de 2016 às 15h21.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h36.
Ainda que seja correto afirmar que as eleições municipais têm lógicas próprias e que nem sempre refletem as tendências nacionais, elas podem trazer indicações importantes sobre o cenário macropolítico do país. No caso das últimas eleições, a principal característica foi a normalidade política do país.
Ao contrário do que alguns analistas – e boa parte da opinião pública – apontavam, o país não corria o risco de uma ruptura democrática nem estava extremamente polarizado. Os exageros retóricos de parte das lideranças dos partidos não tiveram lastro na dinâmica política do país. As eleições se encerraram sem a ocorrência de acontecimentos que negassem que o país segue uma normalidade democrática surpreendente para uma nação de 200 milhões de habitante, profundamente desigual e em crise econômica aguda.
No caso do PT, o impeachment e a enorme derrota nas eleições não fez com que o partido e seus aliados radicalizassem, contestando, por exemplo, a legitimidade das urnas ou acusando os EUA de estarem por trás do Dória ou do Crivella. Além disso, o Brasil não seguiu o caminho da Venezuela, nem da Nicarágua, nem de Cuba, mas o caminho de países republicanos e democráticos. A polarização das manifestações de 2014 também não se repetiu, já que não surgiu uma força política que correspondesse ao que o PT foi nos anos 2000. Houve sim um aumento da fragmentação política do país, além de um deslocamento maior do eixo político para o campo liberal e conservador. O único palco de polarização ocorreu no Rio de Janeiro; não entre PSDB e PT, como poderia ser esperado, mas entre o nanico PSC e o PSOL.
Os pequenos partidos elegeram 50% mais prefeitos do que em 2012, incluindo capitais importantes como Belo Horizonte. Fora o PT, os demais partidos mais à esquerda mantiveram mais ou menos a mesma representação política. No campo mais liberal, cresceram o PSDB– principalmente nas capitais -, e o PSD. Já no campo mais conservador os destaques foram partidos com ligações religiosas, incluindo pentecostais, neopentecostais e católicos.
Considerando o novo padrão de financiamento de campanhas, outra aposta que não se confirmou foi o aumento de poder dos que estavam ocupando as máquinas públicas municipais, com destaque novamente para os políticos ligados ao PT. Em contrapartida, embora ainda não seja conclusivo, há indicações de que as novas regras beneficiaram candidatos ricos a cargos majoritários – aqui se destaca o caso de Dória em São Paulo -, candidatos vinculados a igrejas e, por fim, candidatos ligados às milícias, crime organizado e afins. Por ter sido uma experiência restrita a apenas uma eleição e ao jogo político municipal, ainda é cedo para saber os reais efeitos do fim do financiamento de campanhas por pessoas jurídicas.
Outro aspecto interessante de ser observado nessas eleições foi o fortalecimento acentuado de alguns líderes estaduais. Curiosamente, cada um de um partido político diferente. No Ceará o grupo de Ciro Gomes foi avassalador. Seu partido, o PDT, sai de 9 prefeituras para 51, incluindo Fortaleza. Na Bahia, o ACM Neto venceu em 1º turno e fez o DEM crescer em vários municípios importantes. Já no Maranhão, o governador Dino consolidou o domínio do PC do B frente à família Sarney.
Em São Paulo, o governador Alckmin ampliou sua capacidade eleitoral. Ele mesmo tendo sido eleito no 1º turno em 2012, agora bancou e elegeu no 1º turno João Dória na capital. Seus candidatos levaram parte importante do ABCD paulista e do interior. Os aliados PSD e PSB cresceram também, cada um conquistando 20 novas prefeituras. Em contraposição, PT passou de 70 para apenas 8.
O Brasil não é para iniciantes e, completaria, nem para maniqueístas. Essas eleições mostraram a complexidade do país, do sistema e da economia. Como diz a máxima: para cada problema complexo existe sempre uma resposta simples e, em geral, errada.
Ainda que seja correto afirmar que as eleições municipais têm lógicas próprias e que nem sempre refletem as tendências nacionais, elas podem trazer indicações importantes sobre o cenário macropolítico do país. No caso das últimas eleições, a principal característica foi a normalidade política do país.
Ao contrário do que alguns analistas – e boa parte da opinião pública – apontavam, o país não corria o risco de uma ruptura democrática nem estava extremamente polarizado. Os exageros retóricos de parte das lideranças dos partidos não tiveram lastro na dinâmica política do país. As eleições se encerraram sem a ocorrência de acontecimentos que negassem que o país segue uma normalidade democrática surpreendente para uma nação de 200 milhões de habitante, profundamente desigual e em crise econômica aguda.
No caso do PT, o impeachment e a enorme derrota nas eleições não fez com que o partido e seus aliados radicalizassem, contestando, por exemplo, a legitimidade das urnas ou acusando os EUA de estarem por trás do Dória ou do Crivella. Além disso, o Brasil não seguiu o caminho da Venezuela, nem da Nicarágua, nem de Cuba, mas o caminho de países republicanos e democráticos. A polarização das manifestações de 2014 também não se repetiu, já que não surgiu uma força política que correspondesse ao que o PT foi nos anos 2000. Houve sim um aumento da fragmentação política do país, além de um deslocamento maior do eixo político para o campo liberal e conservador. O único palco de polarização ocorreu no Rio de Janeiro; não entre PSDB e PT, como poderia ser esperado, mas entre o nanico PSC e o PSOL.
Os pequenos partidos elegeram 50% mais prefeitos do que em 2012, incluindo capitais importantes como Belo Horizonte. Fora o PT, os demais partidos mais à esquerda mantiveram mais ou menos a mesma representação política. No campo mais liberal, cresceram o PSDB– principalmente nas capitais -, e o PSD. Já no campo mais conservador os destaques foram partidos com ligações religiosas, incluindo pentecostais, neopentecostais e católicos.
Considerando o novo padrão de financiamento de campanhas, outra aposta que não se confirmou foi o aumento de poder dos que estavam ocupando as máquinas públicas municipais, com destaque novamente para os políticos ligados ao PT. Em contrapartida, embora ainda não seja conclusivo, há indicações de que as novas regras beneficiaram candidatos ricos a cargos majoritários – aqui se destaca o caso de Dória em São Paulo -, candidatos vinculados a igrejas e, por fim, candidatos ligados às milícias, crime organizado e afins. Por ter sido uma experiência restrita a apenas uma eleição e ao jogo político municipal, ainda é cedo para saber os reais efeitos do fim do financiamento de campanhas por pessoas jurídicas.
Outro aspecto interessante de ser observado nessas eleições foi o fortalecimento acentuado de alguns líderes estaduais. Curiosamente, cada um de um partido político diferente. No Ceará o grupo de Ciro Gomes foi avassalador. Seu partido, o PDT, sai de 9 prefeituras para 51, incluindo Fortaleza. Na Bahia, o ACM Neto venceu em 1º turno e fez o DEM crescer em vários municípios importantes. Já no Maranhão, o governador Dino consolidou o domínio do PC do B frente à família Sarney.
Em São Paulo, o governador Alckmin ampliou sua capacidade eleitoral. Ele mesmo tendo sido eleito no 1º turno em 2012, agora bancou e elegeu no 1º turno João Dória na capital. Seus candidatos levaram parte importante do ABCD paulista e do interior. Os aliados PSD e PSB cresceram também, cada um conquistando 20 novas prefeituras. Em contraposição, PT passou de 70 para apenas 8.
O Brasil não é para iniciantes e, completaria, nem para maniqueístas. Essas eleições mostraram a complexidade do país, do sistema e da economia. Como diz a máxima: para cada problema complexo existe sempre uma resposta simples e, em geral, errada.