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Vale, uma consequência do gigantismo

É hora de refletir para valer o motivo pelo qual uma empresa tanto ambiciona o crescimento. E se este crescimento percorre o caminho distante da sociedade.

VALE: com impactos do acidente em Brumadinho, empresa registrou prejuízo de 1,64 bilhão de dólares no primeiro trimestre de 2019 (Washington Alves/Reuters)
MO

Marcio Oliveira

Publicado em 18 de fevereiro de 2019 às 10h30.

Indo direto ao ponto, não sou muito fã de empresas gigantes, mas não que eu seja contra empresas grandes ou até mesmo contra a busca delas pelo crescimento. Creio que buscar o crescimento é importante para todas as empresas inclusive na minha também. Mas me incomoda quando a busca pelo crescimento parece não ter limites para uma empresa e ela se torna um gigante dominante. Ou seja, tenho algumas restrições com o tamanho de empresas como Amazon, Apple, Microsoft etc, etc e etc.

Mas não sou ativista e, sim, consumo produtos delas, muitas vezes por opção e muitas por falta de opção (fruto deste gigantismo). A minha restrição é porque entendo que este gigantismo pode atrapalhar mais do que ajudar tanto os seus próprios funcionários, como seus clientes, a cadeia de distribuição do seu produto ou serviço e até mesmo a sociedade. Como assim? Você pode estar pensando. Afinal, o mindset estabelecido em nós nos faz acreditar que ter uma empresa grande, reconhecida, que vende muito, tem altos lucros e domina o mercado é o desejo principal de qualquer empresário ou empreendedor, certo?

Mas o meu incômodo está em tentar descobrir qual o limite para este crescimento, ou seja, entender quando a empresa deve escolher parar de crescer em prol de toda a cadeia de relacionamento dela. E talvez o caso recente da Vale possa ajudar a descobrir este limite.

A Vale é a terceira maior mineradora do mundo, inegavelmente uma gigante. E como em toda empresa gigante, na prática, ela só opera porque funciona informalmente como se fosse “dividida em pequenas empresas”. Esta é uma característica de toda empresa gigante e fica claro nas palavras ditas por Fábio Schvartsman, CEO da empresa, na audiência pública na Câmara dos Deputados.

“A Vale é uma das melhores empresas que eu conheci na minha vida. É uma joia brasileira, que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu em sua barragem, por maior que tenha sido a tragédia”.

E completou com esta: “A Vale humildemente reconhece que, seja lá o que vinha fazendo, não funcionou, pois uma barragem caiu.”

A matéria completa você pode conferir aqui mesmo na Exame.

Para mim, estas duas frases são emblemáticas. E, na minha leitura e talvez mesmo inconscientemente, ele usa o gigantismo da empresa para justificar algumas coisas:

- O porque ela não pode ser condenada, ou seja, é uma jóia e se for condenada, pode gerar problemas para o Brasil.
- E minimizar a falha, mesmo reconhecendo, quando ele que é o CEO diz “seja lá o que vinha fazendo”. Em outras palavras, a empresa é gigante e eu não consigo saber de tudo.
- Talvez até aceite que algumas pessoas sejam punidas, mas a empresa não.

Independente disso, acredito que a Vale continuará a ser gigante e outros problemas acontecerão. Se isso um dia mudará, não sei, até porque os líderes dela podem mudar, mas a essência do negócio creio que não. Portanto, convido-o à uma reflexão.

Se uma empresa existe apenas para gerar cada vez mais dinheiro e virar gigante para dominar o mercado é encarada como a única forma possível para isso, pode até ser que durante muito tempo isso funcione, mas em algum momento na sua trajetória, que será mais rápida para algumas e mais demoradas para outras, esta escolha também cobrará o seu preço de alguma forma - seja através da insatisfação de seus clientes, seja através de regulamentações de mercado, seja através de infelicidade de seus funcionários e fornecedores ou mesmo um desastre como este da Vale.

Ah, mas empresas menores também estão sujeitas a estes mesmos problemas da Vale, você pode pensar. Concordo que estarão, mas possivelmente elas não sobreviverão tanto tempo e nem poderão usar as mesmas “desculpas” que o CEO da Vale usou.

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Indo direto ao ponto, não sou muito fã de empresas gigantes, mas não que eu seja contra empresas grandes ou até mesmo contra a busca delas pelo crescimento. Creio que buscar o crescimento é importante para todas as empresas inclusive na minha também. Mas me incomoda quando a busca pelo crescimento parece não ter limites para uma empresa e ela se torna um gigante dominante. Ou seja, tenho algumas restrições com o tamanho de empresas como Amazon, Apple, Microsoft etc, etc e etc.

Mas não sou ativista e, sim, consumo produtos delas, muitas vezes por opção e muitas por falta de opção (fruto deste gigantismo). A minha restrição é porque entendo que este gigantismo pode atrapalhar mais do que ajudar tanto os seus próprios funcionários, como seus clientes, a cadeia de distribuição do seu produto ou serviço e até mesmo a sociedade. Como assim? Você pode estar pensando. Afinal, o mindset estabelecido em nós nos faz acreditar que ter uma empresa grande, reconhecida, que vende muito, tem altos lucros e domina o mercado é o desejo principal de qualquer empresário ou empreendedor, certo?

Mas o meu incômodo está em tentar descobrir qual o limite para este crescimento, ou seja, entender quando a empresa deve escolher parar de crescer em prol de toda a cadeia de relacionamento dela. E talvez o caso recente da Vale possa ajudar a descobrir este limite.

A Vale é a terceira maior mineradora do mundo, inegavelmente uma gigante. E como em toda empresa gigante, na prática, ela só opera porque funciona informalmente como se fosse “dividida em pequenas empresas”. Esta é uma característica de toda empresa gigante e fica claro nas palavras ditas por Fábio Schvartsman, CEO da empresa, na audiência pública na Câmara dos Deputados.

“A Vale é uma das melhores empresas que eu conheci na minha vida. É uma joia brasileira, que não pode ser condenada por um acidente que aconteceu em sua barragem, por maior que tenha sido a tragédia”.

E completou com esta: “A Vale humildemente reconhece que, seja lá o que vinha fazendo, não funcionou, pois uma barragem caiu.”

A matéria completa você pode conferir aqui mesmo na Exame.

Para mim, estas duas frases são emblemáticas. E, na minha leitura e talvez mesmo inconscientemente, ele usa o gigantismo da empresa para justificar algumas coisas:

- O porque ela não pode ser condenada, ou seja, é uma jóia e se for condenada, pode gerar problemas para o Brasil.
- E minimizar a falha, mesmo reconhecendo, quando ele que é o CEO diz “seja lá o que vinha fazendo”. Em outras palavras, a empresa é gigante e eu não consigo saber de tudo.
- Talvez até aceite que algumas pessoas sejam punidas, mas a empresa não.

Independente disso, acredito que a Vale continuará a ser gigante e outros problemas acontecerão. Se isso um dia mudará, não sei, até porque os líderes dela podem mudar, mas a essência do negócio creio que não. Portanto, convido-o à uma reflexão.

Se uma empresa existe apenas para gerar cada vez mais dinheiro e virar gigante para dominar o mercado é encarada como a única forma possível para isso, pode até ser que durante muito tempo isso funcione, mas em algum momento na sua trajetória, que será mais rápida para algumas e mais demoradas para outras, esta escolha também cobrará o seu preço de alguma forma - seja através da insatisfação de seus clientes, seja através de regulamentações de mercado, seja através de infelicidade de seus funcionários e fornecedores ou mesmo um desastre como este da Vale.

Ah, mas empresas menores também estão sujeitas a estes mesmos problemas da Vale, você pode pensar. Concordo que estarão, mas possivelmente elas não sobreviverão tanto tempo e nem poderão usar as mesmas “desculpas” que o CEO da Vale usou.

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