Smartphones, o concentrador de concorrentes
Como se relacionar com nossos clientes ou conquistá-los em um mundo onde o celular é, cada vez mais, um enorme concentrador de nosso tempo?
Publicado em 6 de agosto de 2018 às, 12h31.
Última atualização em 6 de agosto de 2018 às, 12h33.
Já há algum tempo que defendo a ideia de que os padrões de definição de concorrentes de uma empresa mudaram, ou melhor, ampliaram. Sim, a Pepsi ainda é concorrente da Coca-Cola, a Nestlé da Lacta e a C&A das Lojas Renner, por exemplo. E não estou falando aqui daquelas concorrências óbvias, por conta de mudanças culturais ou de hábitos, como o Uber virando um dos principais concorrentes das montadoras de automóveis.
Mas, e se eu lhe disser que o Mercado Livre é concorrente da Coca-Cola, o Youtube da Nestlé e o WhatsApp das Lojas Renner?
Movido pela curiosidade, fui pesquisar o que já foi feito de estudos que mostrem os comportamentos das pessoas com o Smartphone. Encontrei muita coisa e o mais recente foi o TMT Predictions 2018, um estudo global feito pela Deloitte. Ele aborda várias coisas, mas alguns dados me chamaram a atenção porque, para mim, validam totalmente a ideia da mudança dos concorrentes. O estudo mostrou que as pessoas acessam o celular em média 55 vezes ao dia, aumentando em 20% até 2023 (outros estudos falavam entre 85 e 100 vezes). E este dado só é extremamente relevante por causa de um outro, que mostra que a tendência para 2023 é de que 90% da população adulta mundial tenha um smartphone. Como referência, uma pesquisa da FGV, de abril deste ano, mostra que o Brasil já superou a marca de um smartphone por habitante.
Então é inegável que o smartphone já faz parte da vida de muitas pessoas e, a despeito de qualquer movimento social de conscientização para a diminuição do uso deste aparelhinho (do qual sou a favor, inclusive), creio que será muito difícil conter este comportamento, principalmente porque a vida está se digitalizando a passos largos.
Há algumas semanas, escrevi um artigo aqui falando sobre a quantidade de aplicativos que temos em nossos smartphones e, muito em breve, não poderemos de fato ficar sem um destes aparelhos. Agora, além de o usarmos para falar com alguém, bater fotos, mandar mensagens, ler notícias, fofocar e ler fofocas, jogar, acessar banco, etc, etc, etc, até o cartão de crédito e os nossos documentos pessoais estão indo para o smartphone. Alguém em algum momento num passado não muito distante, imaginou que a Apple ou a Samsung iriam concorrer um dia com os fornecedores de couro e os fabricantes de carteiras?
Então, para responder à pergunta que fiz no segundo parágrafo. Busque observar no seu dia a dia algumas situações.
Por exemplo, quando estiver em uma fila de caixa de supermercado ou de uma padaria, observe o comportamento das pessoas. Basta a fila demorar uns poucos minutos, que muitas pessoas irão já instintivamente pegar o seu smartphone e fazer algo, seja mandar uma mensagem, assistir um vídeo, fazer uma compra ou qualquer outra coisa. E assim, não vão prestar muita atenção naqueles chocolates expostos na entrada do caixa ou então nas bebidas que também ficam ali.
Ou repare nas pessoas andando em uma rua comercial ou até mesmo em um Shopping. Onde será que estará de fato a atenção de muitas delas? Nas vitrines ou novamente no smartphone mandando uma mensagem, assistindo um vídeo, fazendo compra ou qualquer outra coisa enquanto andam ali?
A propaganda e a comunicação, desde seus primórdios, se utilizaram da variável tempo para conseguir diferenciar o produto anunciado de seus concorrentes, além de outras variáveis, claro. O tempo necessário para captar a atenção, passar um conteúdo, descrever os benefícios dos produtos etc. A variável tempo era (e ainda é!), inclusive, um dos dois fatores principais, no cálculo de valor dos espaços publicitários (o outro é a quantidade de pessoas), como os famosos 30 segundo dos comerciais de TV, spots de rádio, tempo de leitura de um outdoor em passagem, tempo de leitura de jornal, revista e até mesmo o tempo em que aqueles displays “que tanto gostamos” ficam visíveis sobre o que queremos ler em algum site, até aparecer o “X” para apagarmos.
Mas então ainda faz sentido criar propagandas, montar displays de produtos ou vitrines se as pessoas não vão dedicar muito tempo reparando nisso?
Muita coisa vem mudando na sociedade, mas uma coisa é certa: o dia continuará tendo 24 horas. E este aparelhinho que todos nós temos em nossos bolsos será cada vez mais um grande concentrador do nosso tempo, para o bem e para o mal, diga-se de passagem.
E como se relacionar com seus clientes, ou mesmo conquistar clientes neste cenário? Talvez, para conquistar e manter a relevância para os clientes, para assim conseguir que eles dediquem tempo para elas, as empresas devam mudar um pouco o mind set ainda dominante. Ouvir mais e falar menos (principalmente dela própria), falar as coisas certas nos momentos certos e buscar o que é o real ponto de conexão que a sua empresa deve ter com seus clientes.
Acha isso muito conceitual? Mudar o mind set é exatamente isso. Só assim as empresas conseguirão continuar usando as ferramentas de comunicação de forma diferente e efetiva.