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O papel social das empresas

O lucro é um fim ou um meio para uma empresa? É possível construir um modelo de negócios mais sustentável e ao mesmo tempo ter lucro?

O lucro nunca deve ser maior do que o benefício que a empresa entregue para a sociedade (Pixabay/Divulgação)
O lucro nunca deve ser maior do que o benefício que a empresa entregue para a sociedade (Pixabay/Divulgação)
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Relacionamento antes do Marketing

Publicado em 21 de março de 2022 às, 10h00.

Por Márcio Oliveira

Seja você um empresário ou um funcionário, sabia que a sua empresa tem um papel muito maior na sociedade do que você imagina?

Toda empresa, quando nasce formalmente, precisa criar um documento chamado contrato social. Este é o documento que registra basicamente o que é a empresa, a sua constituição e o que ela pretende fazer na sociedade (seu produto ou serviço). Ou seja, é o contrato que ela faz com a sociedade e que é registrado nos órgãos públicos.

Mas este contrato não registra o real impacto positivo ou negativo que uma empresa pode causar a sociedade. Muitas empresas acabam olhando para isso transformando-o nas famosas frases bonitas de Visão, Missão e Valores. Algumas até definem este impacto social no seu Propósito. Tudo isso tem a sua importância, mas ainda acaba sendo mais discursos bonitos do que realidade.

MONEY IS THE KING?

Toda empresa precisa vender e lucrar. Isso é natural e desejável, pois o lucro remunera pessoas, faz a economia rodar e gera desenvolvimento social em diversas áreas. Falando assim, pode parecer justificável vender sempre mais, certo? Mas não é tão simples assim.

Muitas vezes, é na busca incessante por lucros cada vez maiores que muitos discursos bonitos começam a cair. E quanto maior a empresa, maior este gap entre o discurso bonito e a prática de vendas. Mas não se enganem, as pequenas empresas também podem ter um comportamento parecido.

Em outras palavras, os impactos negativos de uma empresa para a sociedade começam principalmente quando o lucro, que deve ser um meio, passa a ser o único fim dela. E para conseguir lucrar sempre cada vez mais, tudo passa a valer. Até mesmo vender para alguém que não poderia comprar.

OS SUPERENDIVIDADOS

E, quando as empresas querem vender para todas as pessoas e em todos os momentos, usando todas as técnicas possíveis de convencimento psicológico, de comunicação e de marketing, os resultados na maioria das vezes são atingidos, com lucros altos de um lado e pessoas endividadas do outro.

O Brasil fechou o ano de 2021 com os recordes de 76,3% das famílias endividadas e 25,2% de inadimplência, segundo a pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio). Dois fatores são os principais para estes números tão altos, um deles é o desemprego e o outro a educação financeira.

A questão do superendividamento é tão séria, que novamente o mercado precisou de uma interferência governamental para regular a relação do consumo, criando a Lei do Superendividamento (14.181/2021), que foi sancionada no ano passado, com o objetivo de estabelecer mecanismos de proteção para as pessoas dos assédios e cobranças dos bancos e empresas.

Basta então fazer um olhar um pouco mais distante deste cenário, para entender que é uma equação difícil de fechar. De um lado as empresas fazendo de tudo para convencer as pessoas, que já estão endividadas, a comprarem mais para depois, fazerem cobranças excessivas por conta das inadimplências.

BUSCANDO A SUSTENTABILIDADE

Falar de sustentabilidade é um discurso comum hoje em dia, mas o que seria sustentabilidade em um cenário como este?

Sustentabilidade nada mais é do que buscar caminhos mais duradouros e equilibrados e, considerando o momento em que vivemos que se fala muito de ESG (Environmental, Social and Governance), nada mais lógico então do que as empresas se atentarem o S desta sigla, o Social, para terem clareza do seu real papel social e para fazerem grandes transformações nos modelos de negócios vigentes.

Muitos falam que o problema está no capitalismo, mas não concordo. O problema está na ganância e se isso for compreendido, é possível sim fazer um capitalismo mais consciente. E aqui, fica a dica para quem não conhece ainda, conhecer o capítulo brasileiro do movimento Capitalismo Consciente, que nada mais é do que um movimento de conscientização para uma venda mais consciente pelo lado das empresas e um consumo mais consciente pelo lado das pessoas.

E uma das formas para concretização disso é quando a própria empresa resolve educar o seu cliente para não comprar sem necessidade nem dela e nem dos outros. Isso sim representa a grande mudança nos modelos de negócios, que fará uma sociedade de consumo socialmente mais equilibrada e acessível, sem excessos por nenhuma das partes.