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Nova lei de proteção de dados pessoais X Cultura brasileira

O que significa o surgimento da nova lei para você? Uma oportunidade para nos reeducarmos ou apenas mais uma obrigatoriedade para cumprir?

Proteção de dados pessoais agora é pra valer (iStockphoto/Divulgação)
Proteção de dados pessoais agora é pra valer (iStockphoto/Divulgação)
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Relacionamento antes do Marketing

Publicado em 20 de agosto de 2018 às, 11h19.

Agora que a lei de proteção de dados pessoais foi sancionada pelo presidente Temer, começou a contar o prazo de 18 meses para o mercado se adaptar às condições que esta lei exige, mas a partir de algumas conversas, percebo que ela ainda gera muitas dúvidas em alguns profissionais, principalmente da área de marketing.

A maioria ainda não conhece em profundidade os detalhes desta lei e alguns sabem que ela pode impactar profundamente seus negócios, mas ainda me espanta o fato de que alguns acreditam que, no fundo, esta lei não vai “pegar”, já que muitas leis feitas no País são simplesmente ignoradas, e preferem apostar suas fichas nisso ou esperar pra ver o que vai acontecer antes de começar a mudar algo nas suas empresas. Sinceramente, não recomendo esta atitude a ninguém por dois motivos bem simples.

Primeiro porque a relação entre as empresas e as pessoas já mudaram completamente em muitos mercados simplesmente porque, atualmente, as pessoas tem acesso a muito mais informações, verdadeiras e falsas a propósito, e muito mais independência para buscá-las através de seus smartphones, seja pesquisando na Internet, lendo nas Redes Sociais ou recebendo mensagens nos seus grupos de WhatsApp, o que faz com que a influência das empresas nas mentes dos seus consumidores acabe assim ficando mais difícil.

Segundo porque respeitar uma lei é o certo a se fazer, gostemos dela ou não. Se a lei tem alguma distorção, busquemos, então, as formas corretas de contestá-la. Nosso País vive várias crises pesadas (política, social, econômica), mas acredito que a crise mais importante que vivemos é a crise moral, que convenientemente chamamos de "cultura brasileira" ou "jeitinho brasileiro". Todas as outras, para mim, são consequências naturais dela e nunca serão resolvidas se não olharmos para onde os problemas realmente nascem. Mas isso incomoda, pois uma crise moral nasce dentro de cada um de nós e fica difícil de apontarmos um culpado externo como também é comum e, no fundo, até somos estimulados a fazer em nossa sociedade. Culpa dos políticos, culpa da esquerda, culpa da direita, culpa dos bancos, culpa das megaempresas, culpa dos Estados Unidos e por aí vai...

Mas voltando ao comportamento das empresas vejo, na verdade, que esta lei é uma grande oportunidade: primeiro para, de fato, usarem os dados coletados com mais sabedoria e planejamento e menos ansiedade, não achando, assim, que eles são uma fórmula mágica para aumento de vendas (coisa que nunca foram, aliás).

Além disso, é também uma oportunidade de mostrar transparência e ética no relacionamento com seus clientes na prática e de verdade, não apenas nos discursos de comunicação e propagandas.

E com certeza, no final, com paciência e sentido de dever cumprido e pensando também no que eu disse acima sobre o comportamento das pessoas atualmente na busca de informações, será possível capitalizar o bônus natural que isso irá trazer na imagem da empresa.