BigData ou BigBrother?
Uma pessoa que está na Internet publicando seus dados, não importa como, onde e para quê, não pode querer tanta privacidade. Será?
Publicado em 1 de agosto de 2016 às, 11h21.
Última atualização em 5 de abril de 2017 às, 11h41.
Já abordamos o assunto BigData neste blog algumas vezes, mas nunca me canso de voltar ao tema, principalmente porque quase diariamente na youDb falamos ou ouvimos algum caso de problemas relacionados principalmente à privacidade de dados.
Recentemente, soube de um caso equivocado de uso de dados para uma ação de marketing com uma consequência ruim tanto para o cliente quanto para a empresa, que por questões de privacidade da informação não poderei detalhar mais aqui, mas imediatamente me fez lembrar de um comentário que ouvi em uma rádio há algum tempo, em que o jornalista afirmava que uma pessoa que está na Internet publicando seus dados, não importa como, onde e para quê, não pode querer tanta privacidade, já que a Internet é pública. Me pareceu muito estranho escutar o jornalista falar isso, pois ao meu ver coloca em risco o poder de escolha consciente das pessoas sobre quem e quando seus dados são acessados.
E acredito que este seja o ponto principal de toda esta discussão sobre Privacidade de Informações, a consciência sobre as consequências tanto das pessoas que fornecem informações como das pessoas que decidem e direcionam o uso destas informações nas empresas.
Mas onde isso se liga com o BigData?
Acredito que se fizermos uma pesquisa com CEO’s, um percentual significativo (para não falar 100%), dirá que BigData será fundamental para o seu negócio nos próximos anos. O assunto virou “moda” no marketing atual, mas conceitualmente o BigData não traz nada de muito novo em sua essência, a não ser que hoje temos muitos mais dados disponíveis, principalmente os dados comportamentais na Web, e tecnologia disponível para processar de maneira muito mais rápida e inteligente tantos dados.
Mas o meu ponto de reflexão é que apesar de termos, sim, muito mais dados de clientes (e prospects) para analisar, será que devemos realmente usar todos eles? Ou, pelo menos, será que devemos utilizá-los como muitas empresas estão querendo? E vamos focar esta discussão apenas no uso comercial para alavancar vendas ou “estratégias” de marketing, já que sabemos que governos podem também se aproveitar disso para outras finalidades, algumas boas e outras mais duvidosas.
Você deve ter, provavelmente, centenas de cookies instalados em seu computador, tablet ou smartphone. Um usuário com um nível razoável de esclarecimento sobre o mundo digital sabe em profundidade o que significa isso, mas a grande massa das pessoas, não. E acredito que é nesta falta de consciência que está baseado todo este discurso de BigData, ou o que na visão como consumidor, chamo de BigBrother de dados.
A pergunta é simples. Se você disser para uma pessoa que vai rastrear tudo o que ela faz na Internet, para depois usar estas informações para analisá-la e fazer mais ofertas de vendas para ela, ou mais, podendo até vender estas informações para outras empresas, qual você acha que seria a resposta? Qual seria a sua resposta se a pergunta fosse feita a você?
Talvez muitos não se importassem, mas acredito que uma parcela significativa das pessoas não aprovaria este uso se tivesse a real consciência do que pode acontecer. Mais do que isso, eu acredito que o uso indiscriminado destas informações para “enriquecer” as bases de dados e “turbinar” as vendas das empresas, acaba muitas vezes ultrapassando uma barreira ética.
E a mesma coisa acontece quando juntamos todos estes dados do mundo on-line de uma pessoa aos seus dados do mundo off-line.
Ah, mas fazer “enriquecimento de dados” é uma técnica usada desde os primórdios do Marketing Direto, alguns podem dizer. Sim, é verdade, mas o problema é o tipo e a profundidade de informações pessoais que conseguimos ter acesso hoje.
Meu chamado com este artigo é o de alertar e trazer à consciência os profissionais das empresas que pensam em usar BigData ou mesmo fazer um simples enriquecimento de sua base de dados. Faça, mas com diretrizes claras e éticas. Se coloque verdadeiramente no lugar do seu público-alvo e pense o que de fato você gostaria que uma empresa soubesse de você e por que. Um bom caminho é ser simples e transparente nas políticas de uso e privacidade de dados de sua empresa, alertando a cada mudança e dando a opção das pessoas continuarem sendo seus clientes mesmo não permitindo que você utilize ou compartilhe seus dados desta maneira.
Talvez você que é um executivo ou profissional de marketing possa estar pensando por que deve se preocupar com isso. Pois lembre-se de que todo movimento de grande impacto social gera algum tipo de mudança ou consequência. E, no caso da privacidade de dados, duas consequências já aconteceram no Brasil. A primeira é o Marco Civil da Internet, regulamentado pela presidente Dilma recentemente, e se você não sabe nada a respeito, sugiro olhar aqui; a segunda é o Projeto de Lei 5.276/2016 em tramitação na Câmara dos Deputados, que trata especificamente e de maneira mais ampla sobre a proteção e o uso de dados pessoais pelas empresas.