Afinal, o que deve ser a cultura corporativa?
A maioria das marcas de alto crescimento, conseguem compreender e traduzir o seu propósito em ações e em diretrizes de comportamento para seus colaboradores
Publicado em 26 de setembro de 2022 às, 10h00.
Por Márcio Oliveira
Cada vez mais as discussões sobre propósito vêm ganhando espaço nas agendas de muitas empresas, mas vejo isso mais como uma pressão externa de mercado do que por uma decisão interna das empresas. E são vários fatores que geram esta pressão, como o desenvolvimento tecnológico e seus impactos nos comportamentos de consumo das pessoas, como as pautas ESG e até mesmo os impactos da pandemia nos modelos de negócios e relações de trabalho.
Mas mesmo que seja sob pressão, ainda vejo de forma positiva toda esta movimentação das empresas em busca de um propósito, mas o que é este propósito afinal e o que ele tem a ver com a cultura corporativa?
O propósito como direcionador de cultura
O estudo Global Marketing Trends 2022, da Delloite, mostrou que a maioria das marcas de alto crescimento (10% ou mais ao ano), conseguem compreender e traduzir o seu propósito em ações e, também, em diretrizes de comportamento para seus colaboradores. E este é o ponto principal, ou seja, a cultura de uma empresa nada mais é do que o conjunto de comportamentos (bons e ruins) de seus colaboradores, portanto, a empresa que não tem um propósito claro, compreendido e aceito, também terá muita dificuldade de implantar uma cultura organizacional única.
Em outras palavras, podemos definir então que a cultura de uma empresa deveria ser simplesmente o seu propósito sendo colocado em prática diariamente, tanto no comportamento dos seus colaboradores, como nas suas crenças e valores.
Quanto maior a empresa, maior o desafio
Mas mesmo com um propósito claro, implantar uma cultura não é um tema fácil em empresas de nenhum porte, mas o desafio é maior em grandes empresas, porque ele pode tocar em assuntos delicados que vão desde a consciência de problemas não tratados, pressões por resultados, disputas políticas internas, práticas de mercado, relacionamento com clientes, com fornecedores e com colaboradores e por aí vai.
E por causa disso, muitas empresas acabam tratando cultura apenas como mais um projeto na esteira de vários outros e com grandes chances de virar um Power Point bonito ou pior, apenas uma campanha de comunicação interna que logo será esquecida.
Mas para quem realmente quer tratar a cultura da sua empresa como algo sério e não sabe por onde começar, coloco abaixo 12 dicas e lembretes e já adianto que será uma jornada de escolhas e “desescolhas” e onde o coração da empresa muitas vezes terá que falar mais alto do que o cérebro.
1 – Cultura é o propósito da empresa colocado em prática no dia a dia. Não dá para falar em cultura corporativa se a empresa sequer tem clareza do seu propósito. E falo de um propósito nobre, que explica o motivo da empresa existir, e não das definições acadêmicas das famosas frases de missão, visão e valores, que no fundo viram apenas quadros nas paredes.
2 – Para virar cultura, o propósito até pode ser traduzido em frases ou palavras fáceis de serem entendidas e de praticadas. Mas o importante é que ele seja mais sentido e entendido do que decorado.
3 – Para a cultura ser real, todas as pessoas da empresa precisam acreditar no seu propósito.
4 – Vem de cima pra baixo. Ou seja, a prática da cultura começa no dono, fundador, no CEO e na alta gestão, pois eles são os guardiões do propósito da empresa.
5 – Acontece de dentro para fora. Uma cultura forte e consolidada influencia o mercado, vira referência e atrai pessoas (clientes, colaboradores, fornecedores, sociedade etc.).
6 – Uma cultura deve reverberar naturalmente e através de exemplos e casos internos que viram referências de boas práticas. A “viralização” de casos internos tem um impacto melhor do que treinamentos e books de comportamento.
7 – A alta gestão deve começar sempre explicando o PORQUÊ (propósito) da cultura da empresa e não apenas o COMO praticá-la.
8 – A empresa precisa dar espaço para que os colaboradores pratiquem a cultura de formas ainda nem pensadas pela alta gestão da empresa.
9 – A cultura NUNCA deve ser deixada de lado, nem com a justificativa de se vender mais.
10 – Vender mais NUNCA será melhor se não for preservando e através da cultura da empresa.
11 – Cultura NUNCA, NUNCA, NUNCA nasce de uma estratégia de marketing ou de comunicação.
12 – E por fim, o propósito e a cultura não são insights criativos e as eventuais frases que os resumem não são slogans.