Por uma educação capaz de nos preparar para a próxima pandemia
Estamos na "era das pandemias" e engana-se quem acredita que a covid-19 é a culpada. Há cada vez mais vírus por aí. Só a educação pode ajudar a superá-los
Publicado em 26 de março de 2021 às, 21h10.
Há dois meses, li um artigo na respeitada revista científica inglesa The Lancet que discutia um relatório publicado no final do ano passado. Ele era alarmante. Afirmava que a humanidade havia entrado na “era das pandemias”.
Engana-se quem acredita que a covid-19 inaugurou essa era. Ao olharmos para um passado não tão distante, percebemos que o intervalo entre epidemias com potenciais pandêmicos tem se tornado cada vez menor.
Em 1981, foi reportado o primeiro caso de HIV; em 2003, a SARS (Síndrome respiratória aguda grave); em 2009, o H1N1; em 2014, mais um surto de ebola; em 2016, o zika vírus e em 2019, a Sars-CoV 2, ou popularmente “Novo Coronavírus”. Segundo os cientistas, grande parte dessas doenças surgem da interação humana com a natureza. E é por isso que vejo na educação o único remédio para amenizar os sintomas dessa “nova era pandêmica”.
Quando me refiro à educação, não aludo somente ao investimento na conscientização social sobre desenvolvimento sustentável, desmatamentos e etc. Essas sugestões deixo para os cientistas, para que, baseando-se em evidências, proponham a seus governos e à comunidade internacional medidas específicas para mitigar o surgimento de novas doenças.
Baseando-me em minha própria área de atuação, junto à administração pública, evoco o investimento em educação não somente como “vacina” para a prevenção de novas pandemias, mas como “remédio” para atenuar os inevitáveis efeitos dessas na sociedade. Trocadilhos à parte, investir em educação é a melhor arma contra essa “nova era”.
Não somente porque permitirá a formação de novos pesquisadores, junto à comunidade científica que atuarão na busca de novos tratamentos e vacinas. Mas porque vejo a educação como o caminho para desenvolver o país e diminuir a desigualdade social, ainda mais escalada desde o início da atual pandemia.
Desde 2020, ficou explícita a diferença ente os países com menor desigualdade e como conseguiram lidar com a atual pandemia de forma mais eficiente ao contrário daqueles cuja desigualdade tornou-se um problema a mais nesse período de caos econômico.
Se em alguns lugares pedir à população que ficasse em casa foi visto como algo meramente inconveniente, em outros, no entanto, foi uma sentença de fome e morte.
É mais do que comprovado que a educação é o caminho para o desenvolvimento de qualquer sociedade. É improvável encontrar um país que tenha superado a pobreza sem investir em educação - Japão, Coreia do Sul, Finlândia e Dinamarca são claros exemplos disso.
Os resultados desse investimento são de longo prazo, contudo, devemos estar preparados para os futuros desafios, inclusive novas pandemias.
Não há dúvidas de que um país com menor desigualdade estará mais apto para lidar com os desafios futuros. Não sabemos exatamente quando a próxima pandemia ocorrerá, todavia, é certo que lidaremos melhor com ela se houver menor desigualdade, essa, que poderá ser conquistada por meio da educação.