Pandemia, Educação e a convergência a um futuro mais digno aos jovens
A pandemia da Covid-19 gerou inúmeras crises. Além disto, deu oportunidade para que problemas estruturais se tornassem mais claros
Da Redação
Publicado em 18 de setembro de 2021 às 08h57.
A pandemia da Covid-19 gerou inúmeras crises que precisarão, ao longo dos próximos anos, ser equacionadas. Além disto, deu oportunidade para que problemas estruturais se tornassem mais claros, especialmente no que é relativo às desigualdades sociais.
Isto aconteceu no mundo todo, com naturais reflexos para o Brasil. Aqui, a realidade das deficiências do ensino público, somada à crise econômica que nos acompanha desde meados da década passada, consolidou um quadro desafiador em duas áreas: a redução das desigualdades e as perspectivas de futuro de nossa sociedade.
Números de estudo, publicado em maio, pelo Centro de Políticas Sociais, da FGV, mostram que durante a pandemia, a situação dos “nem-nem”, jovens brasileiros que nem estudam, nem trabalham, ficou ainda mais agravada, mostrando que a desocupação na faixa de 15 a 29 anos subiu, em 2020, de 49,37% para 56,34%.
Além disto, mesmo entre os jovens que terminaram o ensino médio, os níveis de aprendizagem adequada eram preocupantes. Em 2019, de acordo com dados da PNAD Contínua, apenas 37,1% dos alunos que terminaram o ensino médio tinham aprendizagem adequada em português. E em matemática, este número era de apenas 10,3%. Além disto, naquele mesmo ano, de 100 alunos ingressantes na escola, apenas 69 concluíram o ensino médio, aos 19 anos.
Esses números explicam muito de nossa desigualdade e as dificuldades em relação ao futuro. Em plena Quarta Revolução Industrial, com as mudanças estruturais que estão se processando na sociedade e no mercado de trabalho pelo impacto das tecnologias digitais e da economia do conhecimento, nossas novas gerações encontram-se muito aquém dos desafios que terão de enfrentar nas próximas décadas. E a pandemia só agravou este quadro.
Longo período sem aulas presenciais, inúmeros desafios para acompanhar de forma online as atividades letivas, além das incertezas econômicas das famílias mais vulneráveis, atingidas fortemente pelas restrições de emprego e renda durante o período da pandemia trouxeram ainda mais dificuldades a um quadro já preocupante.
Mas existe outro lado desta equação, igualmente complexo. Tem sido apontado por vários economistas, que analisam os números de nosso mercado de trabalho, que o impacto do desemprego, mesmo após a retomada das atividades econômicas em 2021, atinge muito mais fortemente os jovens mais vulneráveis.
Em resumo, temos o seguinte panorama: de um lado, um sistema público de ensino que favorece a evasão dos jovens, aliando a isto, o que se convencionou chamar de “pobreza da aprendizagem”, ou seja, baixa qualificação dos egressos. De outro, uma situação de agravamento da questão do emprego entre os trabalhadores jovens e menos qualificados, sugerindo a necessidade de um conjunto de políticas públicas capazes de dar alento a este contingente da população brasileira, que tende a ter dificuldades cada vez maiores de empregabilidade no futuro.
Ambas as situações precisarão ser endereçadas e ter máxima atenção dos setores público e privado no Brasil.
Quando olhamos para o setor privado, já se usa o termo “colapso” para qualificar o problema da escassez de mão de obra qualificada em determinadas áreas do mercado de trabalho, especialmente no que se refere aos postos mais qualificados e relacionados às novas atividades que envolvem tecnologias digitais.
De perspectiva do setor público, as pressões por políticas públicas são distintas e, de certa maneira, complementares. Em primeiro lugar, a implementação do novo ensino médio, com carga horária e flexibilidade maiores e foco no projeto de vida dos jovens.
Em segundo lugar, a necessidade de entender como avançar as políticas de ensino profissionalizante, aumentando a matrícula desta etapa do ensino e democratizando o acesso, para oferecer oportunidades concretas de engajamento profissional aos jovens.
Depois, um tema ainda pouco debatido entre nós: como aumentar a capacidade da proteção social e das políticas trabalhistas, consolidando-as em sistemas que proporcionem apoio à renda e preparem os trabalhadores para novos empregos, por meio de requalificação e assistência ao reemprego, os chamados Programas Ativos do Mercado de Trabalho (PAMTs)?
De uma perspectiva mais ampla, precisamos olhar o futuro como oportunidade de corrigir desequilíbrios e desigualdades passadas e presentes, convergindo para a necessidade que setores público e privado têm de interagir em razão da necessidade de nos adaptarmos às mudanças estruturais que estão se processando, ao mesmo tempo em que possamos construir esperança de melhoria da qualidade de vida de nossa população.
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A pandemia da Covid-19 gerou inúmeras crises que precisarão, ao longo dos próximos anos, ser equacionadas. Além disto, deu oportunidade para que problemas estruturais se tornassem mais claros, especialmente no que é relativo às desigualdades sociais.
Isto aconteceu no mundo todo, com naturais reflexos para o Brasil. Aqui, a realidade das deficiências do ensino público, somada à crise econômica que nos acompanha desde meados da década passada, consolidou um quadro desafiador em duas áreas: a redução das desigualdades e as perspectivas de futuro de nossa sociedade.
Números de estudo, publicado em maio, pelo Centro de Políticas Sociais, da FGV, mostram que durante a pandemia, a situação dos “nem-nem”, jovens brasileiros que nem estudam, nem trabalham, ficou ainda mais agravada, mostrando que a desocupação na faixa de 15 a 29 anos subiu, em 2020, de 49,37% para 56,34%.
Além disto, mesmo entre os jovens que terminaram o ensino médio, os níveis de aprendizagem adequada eram preocupantes. Em 2019, de acordo com dados da PNAD Contínua, apenas 37,1% dos alunos que terminaram o ensino médio tinham aprendizagem adequada em português. E em matemática, este número era de apenas 10,3%. Além disto, naquele mesmo ano, de 100 alunos ingressantes na escola, apenas 69 concluíram o ensino médio, aos 19 anos.
Esses números explicam muito de nossa desigualdade e as dificuldades em relação ao futuro. Em plena Quarta Revolução Industrial, com as mudanças estruturais que estão se processando na sociedade e no mercado de trabalho pelo impacto das tecnologias digitais e da economia do conhecimento, nossas novas gerações encontram-se muito aquém dos desafios que terão de enfrentar nas próximas décadas. E a pandemia só agravou este quadro.
Longo período sem aulas presenciais, inúmeros desafios para acompanhar de forma online as atividades letivas, além das incertezas econômicas das famílias mais vulneráveis, atingidas fortemente pelas restrições de emprego e renda durante o período da pandemia trouxeram ainda mais dificuldades a um quadro já preocupante.
Mas existe outro lado desta equação, igualmente complexo. Tem sido apontado por vários economistas, que analisam os números de nosso mercado de trabalho, que o impacto do desemprego, mesmo após a retomada das atividades econômicas em 2021, atinge muito mais fortemente os jovens mais vulneráveis.
Em resumo, temos o seguinte panorama: de um lado, um sistema público de ensino que favorece a evasão dos jovens, aliando a isto, o que se convencionou chamar de “pobreza da aprendizagem”, ou seja, baixa qualificação dos egressos. De outro, uma situação de agravamento da questão do emprego entre os trabalhadores jovens e menos qualificados, sugerindo a necessidade de um conjunto de políticas públicas capazes de dar alento a este contingente da população brasileira, que tende a ter dificuldades cada vez maiores de empregabilidade no futuro.
Ambas as situações precisarão ser endereçadas e ter máxima atenção dos setores público e privado no Brasil.
Quando olhamos para o setor privado, já se usa o termo “colapso” para qualificar o problema da escassez de mão de obra qualificada em determinadas áreas do mercado de trabalho, especialmente no que se refere aos postos mais qualificados e relacionados às novas atividades que envolvem tecnologias digitais.
De perspectiva do setor público, as pressões por políticas públicas são distintas e, de certa maneira, complementares. Em primeiro lugar, a implementação do novo ensino médio, com carga horária e flexibilidade maiores e foco no projeto de vida dos jovens.
Em segundo lugar, a necessidade de entender como avançar as políticas de ensino profissionalizante, aumentando a matrícula desta etapa do ensino e democratizando o acesso, para oferecer oportunidades concretas de engajamento profissional aos jovens.
Depois, um tema ainda pouco debatido entre nós: como aumentar a capacidade da proteção social e das políticas trabalhistas, consolidando-as em sistemas que proporcionem apoio à renda e preparem os trabalhadores para novos empregos, por meio de requalificação e assistência ao reemprego, os chamados Programas Ativos do Mercado de Trabalho (PAMTs)?
De uma perspectiva mais ampla, precisamos olhar o futuro como oportunidade de corrigir desequilíbrios e desigualdades passadas e presentes, convergindo para a necessidade que setores público e privado têm de interagir em razão da necessidade de nos adaptarmos às mudanças estruturais que estão se processando, ao mesmo tempo em que possamos construir esperança de melhoria da qualidade de vida de nossa população.
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